SUBIDA DOS JUROS ESTRANGULA 70 MIL FAMÍLIAS

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Foi título de capa dos jornais e abertura de telejornais, mas parece que não incomodou ninguém … excepto ser a triste realidade de dezenas de milhares de famílias que todos os dias lutam por sobreviver, alimentando os seus filhos e pagando a renda da sua casa.

Atenção que a própria “denúncia” vem do actual Governador do Banco de Portugal Mário Centeno e ex-ministro das finanças do primeiro governo Costa. Não abordaremos aqui as razões que levam Centeno a chamar à atenção deste drama. Uns invocam decisões de Christine Lagarde (Presidente do Banco Central Europeu) e da permanente subida das taxas de juros. Esta, por sua vez, defende-se, dizendo que pretende travar a inflação na zona euro (onde Portugal se insere). Outros, os ministros das guerras, dizem que a ‘culpa’ toda, é da guerra na Ucrânia, que nestas coisas tem as costas quentes para que se justifique todo o tipo de ataques ao nível de vida das classes trabalhadoras europeias.

Uma coisa é verdade, sempre que o capitalismo se “constipa” (e são recorrentes estas ‘gripes’) quem paga são os povos, os trabalhadores, os seus salários e as suas conquistas arduamente conquistadas em lutas de décadas.

Em Portugal, cerca de 70 mil famílias já estão a caminho de metade do seu (parco) salário ser dirigido para (tentar) manter a renda da casa paga. Há casos gritantes. Sabe-se, por exemplo, que professores em início de carreira (e até enfermeiros, médicos etc), quer no público quer no ensino particular ganha menos de 1500 euros líquidos e em muitos casos até menos de 1.200 euros. Se contraíram um empréstimo para compra de casa e a sua renda no início (até há pouco tempo) era de 300 euros, agora estão a apagar entre 500 e 600 euros de renda e, imagine-se, pode aumentar, pois o BCE ainda pensa de novo aumentar as taxas de juro de referência.

Uma coisa é certa e sistémica. Sempre que há crises (económicas, de guerra etc) os pobres, remediados ou de classe média é que pagam as despesas e prioridades de governos e grandes multinacionais. As prioridades destes senhores, sejam dos governos PS ou do PSD são sempre o pagamento das dívidas públicas, o pagamento de indemnizações milionárias a administradores de empresas, pagar os buracos financeiros produzidos por roubos de milhões aos bancos, a partir dos seus próprios donos, etc.

No marco desta crise de descontentamento, largas camadas dos povos deram chances durante décadas a governos ditos de ‘esquerda’ e até a ‘geringonças’ (alianças do PS com o PC e o BE). Os resultados nunca foram qualitativamente melhores. Por exemplo, está marcada uma manifestação para 30 de setembro pela habitação, convocada pelo BE. Nós do MAS, apoiamos e acudiremos à manifestação. Mas não esquecemos que foram o BE (e o PC), que apoiando durante 5 longos anos os primeiros Orçamentos de Estado dos governos Costa, governos que não tomaram medidas estruturais que protegessem as rendas, os salários e os direitos, deram origem para que hoje ou não haja casas para alugar, ou rendas passíveis de serem pagas e menos ainda que travem a voragem dos bancos por milhões de lucros, à conta da subida vertiginosa dos juros e, concomitantemente, das rendas de casa sob empréstimo aos bancos.

Quem, eleitoralmente falando, está a capitalizar os descontentamentos provocados por governos ditos de “esquerda”? É a extrema-direita, em Portugal e em várias partes do mundo. Até já temos em países centrais, candidatos de extrema-direita que podem ganhar eleições presidenciais (França, Argentina, etc) e até já temos dirigentes de extrema-direita (Meloni) à frente do governo de Itália. A verdade é incontornável, são necessárias novas alternativas à esquerda, de outro modo continuará a ser a extrema-direita quem beneficia com a decadência dos partidos (e sindicatos) do regime.

A crise estrutural do capitalismo actual conduz à pauperização das classes trabalhadores (incluindo aqui largos sectores de classe média) dando origem, como na primeira metade do século XX, ao advento do fascismo. O crescimento exponencial da extrema-direita (quer da IL e do Chega, em Portugal) explica-se pela falência do sistema que não resolve duradouramente nenhum problema de quem trabalha e pela colaboração permanente dos partidos de esquerda, comprometidos com o regime e que dele vivem.

Travar a extrema- direita, recuperar poder de compra e nível de vida, conseguir segurar as casas que temos, requer muita luta, muitas mobilizações de massas na rua (a exemplo das já registadas dos profissionais da educação ou da saúde, por exemplo) mas também novos actores e forças políticas à esquerda. O MAS está empenhado nessa dupla tarefa.

Exigimos:

-as rendas de casa não devem ultrapassar os 30% dos nosso salários;

-os bancos é que devem sustentar, com os seus lucros milionários, o aumento das taxas de juro.

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