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Greve dos motoristas: a esquerda parlamentar ausentou-se?


Dois dias e meio de uma greve que está a paralisar o país e BE e PCP, partidos que dizem representar os interesses de quem trabalha, não têm uma palavra de solidariedade para quem se vê obrigado a recorrer à greve para conquistar alguma dignidade à sua vida.

Porquê? É o resultado do apoio que BE e PCP prestam ao Governo PS. A um mês das eleições europeias, BE e PCP parecem apostar em não acrescentar uma palha à fogueira da instabilidade governativa que, por tabela, os vai atingindo. Se se posicionarem a favor das justas reivindicações dos motoristas, acrescentam elementos de instabilidade ao Governo que apoiam. Se se posicionarem contra os motoristas abrem perigosas brechas na sua base eleitoral. A opção, até ao momento, tem sido a ausência total, tudo em benefício da estabilidade do governo e dos seus resultados eleitorais.

Como se não bastasse, a FECTRANS, sindicato afeto à CGTP, parece estar na origem do acordo coletivo do sector rodoviário de mercadorias[1], assinado em Setembro de 2018, com a ANTRAM, acordo que é agora contestado pelos motoristas de matérias perigosas. Um acordo coletivo que em tão pouco tempo é seguido da constituição de um novo sindicato, o SNMMP, fundado em Novembro de 2018, e uma tão abrangente contestação só pode indicar que o acordo coletivo negociado não representa os interesses de quem, por ele, é abrangido. Terá a FECTRANS tido a preocupação de integrar os próprios trabalhadores nas negociações do acordo colectivo? Ou foi apenas a sua burocracia sindical a negociar os termos do acordo colectivo, como uma dependência do acordo de governo, a que o PCP se encontra amarrado?

O que deveríamos estar a falar, neste momento, era a melhor forma de unir os setores em luta para tornar as suas exigências efetivas. Professores continuam em luta pelo reconhecimento integral dos 9 anos, 4 meses e 2 dias congelados da sua carreira. Os enfermeiros mantêm-se em luta por melhores salários e o reconhecimento da sua carreira. Os estivadores de Setúbal ainda não viram todos os resultados das últimas negociações avançar, conforme ficou negociado entre empresas dos portos, Governo e o SEAL.

A possibilidade de unir estas lutas seria a melhor forma de encostar o Governo PS às cordas e conquistar o que é nosso por direito: salários dignos, carreiras decentes e trabalho com direitos. A esquerda parlamentar não pode poupar o Governo PS, um governo que defende os interesses dos patrões em detrimento dos interesses de quem trabalha, um governo que destina milhares de milhões públicos para a banca mas ironiza sobre o dinheiro necessário à reposição de carreiras e salários, um governo amarrado aos ditames da UE de Merkel que abre as portas ao crescimento da extrema-direita, um governo disposto a esmagar o direito à greve em função dos interesses dos patrões.

Precisamos de unir as lutas para conquistar os direitos que nos pertencem! O MAS está completamente solidário com as reivindicações dos motoristas de matérias perigosas. Somos aqueles que defendem uma limitação dos rendimentos dos patrões para investir num salário mínimo europeu de €900, para todos os trabalhadores! É necessário recuperar os direitos de quem trabalha! A luta dos motoristas é a luta de todos nós. A luta por dignas condições de vida e de trabalho.

 

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