Greve dos Jornalistas: Início de um processo de luta?

No passado dia 14 de Março, os jornalistas em Portugal fizeram história ao realizar a primeira greve da profissão em mais de 40 anos. O protesto foi convocado pelo Sindicado dos Jornalistas e teve como principais pontos reivindicativos aumentos salariais superiores à inflação, condições dignas de trabalho, fim da precariedade, e condições humanas e materiais para a produção noticiosa, tendo como lema “Liberdade não se escreve sem jornalismo”.

De acordo com o sindicato, mais de 40 órgãos noticiosos entraram em greve, dos quais se destacam a Agência Lusa, a Antena 1 e a TSF, que não emitiram noticiários, algumas secções regionais da RTP e da Sic, e alguns jornais e rádios regionais como o Diário da Lagoa, o Jornal do Algarve ou o Jornal do Fundão.

Esta jornada de luta contou, ainda, com várias concentrações de jornalistas, em Coimbra às 9h, no Porto às 12h, em Ponta Delgada às 12h, em Faro às 15h e em Lisboa às 18h, tendo reunido, em cada um dos locais, dezenas de profissionais em protesto com cartazes a defender condições de trabalho dignas que garantam um jornalismo independente.

Esta greve contou com o apoio público, a nível nacional, dos vários líderes políticos, das centrais sindicais, da FESAP e do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, do Sindicato de Todos os Profissionais da educação (S.TO.P) entre outros, e a nível internacional, do Sindicato Alemão de Jornalistas, do Sindicato Nacional de Jornalistas Franceses e, de Espanha, da Organização Profissional de Jornalistas de Espanha e da Federação de Sindicatos de Jornalistas Espanhol.

Não há dúvidas de que a greve foi um sucesso e que contou com o apoio da sociedade portuguesa em geral. Resta agora saber quais os próximos passos desta luta. O sindicato compromete-se a continuar a lutar. A condição laboral de vários extratos de jornalistas é tão precária e de baixos salários quanto de enormes sectores da classe trabalhadora portuguesa. Daí a vasta solidariedade que encontrou juntos dos trabalhadores. É provável que não se tenha que esperar mais 40 anos até à próxima greve geral de jornalistas ou, caso as reivindicações não sejam atendidas, teremos a próxima em breve?

Numa altura de incerteza política no país, e 50 anos depois da queda de uma ditadura em que todo o jornalismo era controlado pela censura, só um jornalismo forte e independente e uma comunicação social pública e democrática pode assegurar e respeitar a democracia. “Porque não se escreve liberdade sem jornalismo”.

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