Faz falta uma nova greve geral

A guerra na Ucrânia já não serve de justificação para o aumento explosivo do custo de vida. Depois de um ano com os preços sempre a aumentar, enquanto o salário valorizava cada vez menos por causa da inflação, os lucros das grandes empresas bateram recordes.

As grandes superfícies negam estar a especular com o preço da nossa comida, mas o próprio Observatório dos Mercados Agrícolas aponta para margens de lucro a chegar aos 80% em alguns alimentos. Os Lucros recorde que conseguiram este ano também não deixam dúvidas. A Jerónimo Martins – dona do Pingo Doce – viu os lucros aumentar 29%, entre Janeiro e Setembro de 2022; já a Sonae – dona do Continente – viu os seus lucros aumentarem mais 33% do que no ano anterior.

As empresas de telecomunicação também não ficaram para trás. A NOS apresentou uma subida de 55% dos lucros em 2022 face ao ano anterior, e os da Altice sobem 13,7%. Ainda assim, as operadoras reunidas em cartel, aumentaram em 7,8% o preço de todos os seus serviços.

Até o Novo Banco triplicaram este último ano e a TAP está a apresentar lucros pela primeira vez desde que 2017, depois da gestão ruinosa de David Neeleman. Claro que destes lucros não se espera que caiam nos cofres públicos, aliás o Governo quer agora privatizar a TAP o mais rapidamente possível.

Por outro lado, os serviços públicos avançam no seu caminho de desinvestimento. Nas escolas, o Governo leva a cabo uma ofensiva que obriga os professores a viver longe das suas casas e mantém quotas artificiais nos escalões dos docentes. Mantém também a baixa contratação de pessoal não-docente. Nos Hospitais as coisas também não estão melhores, não chegou o desastre nas obstetrícias – que levou ao Governo a fechar maternidades, em vez de investir mais no SNS – agora várias urgências fecham. O caos nos hospitais já levou a duas demissões em bloco de diretores e chefes de serviço no hospital S. Francisco Xavier e no Hospital de Loures.

Contra a destruição dos serviços públicos, o declínio nas condições de vida e aumentos salariais que compensem o aumento do custo de vida, os trabalhadores de diversos setores têm liderado importantes greves. Os profissionais da educação levam uma greve por tempo indeterminado que, à data de redação, soma mais de três meses. Os funcionários judiciais também optaram por greve por tempo indeterminado. Os trabalhadores da CP e IP também têm feito greves prolongadas – primeiro de 4, depois de 8 dias – e os profissionais da educação têm também saído à rua.

O cenário lá fora não é muito diferente. Contra o aumento do custo de vida, os trabalhadores da Europa têm demonstrado uma forte combatividade. Na França levam já 5 greves gerais em resposta à proposta do Governo liberal de Macron de aumentar a idade de reforma.

Por cá, à CGTP e UGT tem faltado política sindical para agirem perante o descontentamento latente. Em Março chamaram a uma greve da função pública que já devia ter sido chamada em Janeiro, quando o Governo impôs serviços mínimos na luta dos profissionais da educação.

Para enfrentar a inflexibilidade do governo PS e os seus ataques, é urgente ir mais além do programa mínimo de lutas do sindicalismo tradicional. É urgente chamarmos a uma greve geral, abrangendo os setores público e privado, pelo controlo dos preços e aumentos salariais para combater a inflação, pelos serviços públicos e pelo direito à greve. Precisamos de uma greve geral forte, com uma perspetiva de continuidade e alargamento da luta, a partir da organização de base nos locais de trabalho. Greve geral já!

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