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Faz falta uma candidatura unitária à esquerda que force uma segunda volta contra a direita!

A pandemia veio expor todas as debilidades que foram deixadas pela Troika e que a Geringonça se limitou a preservar.

Primeiro, a fragilidade produtiva da nossa economia, baseada em precariedade e baixos salários – não foi revertida. Em segundo, os privilégios que são concedidos à banca e grandes grupos económicos, com o aval da UE, sem que sejam apuradas quaisquer responsabilidades – não foram revertidos. Em terceiro, a destruição a que o Estado social foi submetidos pela Troika, abrindo espaço à sua privatização – não foi revertida. Neste sistema, uns poucos apropriam-se do pão, para que todos os outros vivam de migalhas.

A direita tradicional não conseguiu levantar-se depois da dose de austeridade que nos aplicou. Por outro lado, a política de contínuo apoio ao Governo PS, seguida por BE e PCP, esvaziou as ruas, subalternizou a maioria dos sindicatos e serviu para cilindrar, sem piedade, os trabalhadores que tiveram a coragem de lutar por melhores condições de vida, como os estivadores, motoristas, professores ou enfermeiros. Ora, sem oposição efectiva à esquerda, as migalhas prometidas pelo PS foram dando lugar a adiamentos sucessivos, cumprimento pelos mínimos e cativações, muitas cativações. Sem oposição efectiva à esquerda, o justo descontentamento e o desespero provocado por uma crise abrupta vão parar aos braços da extrema-direita.

Precisamos de um rumo político que questione frontalmente a lógica neoliberal TINA (There Is no Alternative) e a amálgama autoritária e ultraconservadora MAGA (Make America Great Again), mobilizando as ruas em torno de um projecto político em que as nossas vidas e o meio ambiente estão acima do lucro.

O primeiro passo é que a esquerda rompa com a sua política dos últimos anos, de subalternização face ao PS, e agregue esforços para se assumir como oposição. Lamentamos que Ana Gomes tenha, até agora, decidido marcar a sua candidatura pelo distanciamento do percurso crítico ao sistema, dos últimos anos, e se aproxime mais do centro, namorando o espaço do PS. Lamentamos também que o PCP marque passo e opte por se manter sob a alçada do PS na aprovação de mais um Orçamento do Estado. Mas não podemos deixar de salientar o importante passo dado pelo BE, de rompimento com o PS. Este passo precisa agora de ganhar caracter definitivo e de avançar na construção da oposição à esquerda e de mobilização nas ruas.

É verdade que as eleições Presidenciais estão decididas à partida, mas isso não afasta a responsabilidade da esquerda em procurar a melhor resposta que nos permita construir a alternativa de que precisamos, em oposição a Marcelo e aos seus maiores apoiantes, o Governo Costa e a direita, assim como em oposição ao crescimento da extrema-direita.

Antes de nos definirmos por algum dos candidatos que se apresentam, consideramos que ainda é altura para que o conjunto de candidaturas à esquerda, pelo menos, se sente e tente chegar a um acordo em torno de uma única candidatura à esquerda. Se BE, PCP e os socialistas de esquerda, críticos ao PS, se conseguem entender com o PS porque não se conseguem entender entre si? Esta candidatura única poderia assentar sobre a chave para a grave crise que atravessamos e que tanto Marisa Matias, como Ana Gomes ou João Ferreira parecem concordar:

(i) fim das injecções de dinheiro público na banca, canalizando esse dinheiro para a reconversão produtiva e energética da nossa economia, criando milhares de empregos;

(ii) contratar mais profissionais e investir imediatamente nos nossos serviços públicos;

(iii) garantir um apoio digno a todos os que perderam rendimentos e/ou o emprego;

(iv) apoios a fundo perdido às micro e PME que conservem os empregos afectados pela pandemia.

Estamos convencidos que uma candidatura única em torno destes quatro pontos, seria um importante sinal de que a esquerda está efectivamente comprometida com a defesa dos interesses de todos aqueles e aquelas que vivem do seu trabalho.

É preciso demonstrar que, sim, há alternativa e que o percurso se faz junto daqueles e daquelas que vivem dos trabalhos mais precários e mais mal pagos, em total respeito por toda a sua diversidade étnica e sexual. As Presidenciais podem e devem estar ao serviço desta alternativa.

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