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A direita é má de mais para ser a única oposição ao PS

Editorial – 26 Março 2018

Rui Rio herdou um PSD dividido. Não terá a vida fácil. Passos Coelho liderou uma camarilha de tecnocratas ultra-liberais, como Moedas, António Borges e Maria Luís Albuquerque, que suplantou as velhas lideranças laranjas. Aliados ao “irrevogável” Portas, conduziram uma política destrutiva e radical. O PSD pagou um preço por isso. Passos Coelho imolou o partido para salvar a banca nacional e estrangeira. “Que se lixem as eleições”! Valores mais altos se levantavam: privatizar, cortar e despedir!

Parte da base do PSD sofreu com isso – os pequenos e médios empresários, dependentes do mercado interno, foram esmagados. Os barões e caciques laranjas perderam votos, lugares e privilégios. Esse caldo de cultura alçou Rui Rio à liderança do PSD. O seu discurso vazio e populista contra a “corte lisboeta” soa bem à média e pequena-burguesias conservadoras, que temem tanto o excesso de austeridade como de “socialismo”. Pedro Santana Lopes, representava o “passismo” – ou seja, a coluna vertebral do capital nacional, bem ancorada à elite do PSD. Mas nem a bênção mal disfarçada de Marcelo Rebelo de Sousa o salvou. À má memória das trapalhices do seu governo, Santana juntou a dos cortes de Passos. Era impossível vencer.
Uma guerrilha interna mina a vida de Rio. O líder da bancada parlamentar não tem o apoio dos deputados e o Secretário-Geral, recém-empossado, já foi demitido. A “corte lisboeta” quer o PSD de volta. Marcelo, desdobrou-se em reuniões com Rio, para diminuir a margem para surpresas. Acima de tudo, o Presidente e o capital querem uma direita forte, que reúna condições para passar ao ataque. Se puderem substituir Rio por alguém que controlem melhor, fá-lo-ão. Até lá, sabem que Rio não lhes falhará. No homem que perseguiu os pobres e a cultura quando era presidente do Porto, a direita portuguesa tem um representante à altura.

Quem aproveita a onda é, obviamente, o CDS. Os “centristas”, no vácuo aberto pelo PSD e pela mansidão de BE e PCP, vêm oportunidades. Cristas não faz por menos: anunciou que quer liderar um futuro Governo. A julgar pelo tempo de antena que a comunicação social deu ao Congresso do CDS, Cristas não desagrada também ao capital, que sabe que do CDS sempre vêm negociatas apetitosas. Porém, os menos de 7% que o CDS alcança nas sondagens mostram que a viragem populista de Cristas não apaga das memórias os anos da austeridade.

PSD e CDS juntos chegam aos 32% nas sondagens, menos 4% que nas eleições de 2015. Porém, hoje, é Marcelo Rebelo de Sousa o esteio de toda a direita. Desde a Igreja à finança, passando pelas forças mais obscuras deste regime e do outro, tudo o que há de reacionário encontra em Marcelo um amigo. Ele não desperdiçará nenhuma oportunidade para puxar o tapete sob os pés do PS, afastar BE e PCP de uma “vezada”, para abrir caminho aos seus. Ele e a direita não tiveram pudor em aproveitar a tragédia dos incêndios para mostrar as garras, inclusive nas ruas. Assim que puderem, voltarão a fazê-lo. Até lá, a agenda de Marcelo está à vista: zelar pelo défice, abrir espaço para a Igreja e as suas IPSS’s e opor-se a toda e qualquer concessão exigida pelos trabalhadores.

Desmascarar Marcelo é essencial, pois a sua popularidade será usada contra a esquerda. O PS não o fará. Já BE e PCP caem numa triste complacência face ao Presidente, que não será retribuída por ele. Dar o braço ao PS não é a melhor forma para travar o populismo de Marcelo, de Rio e de Cristas. Pelo contrário, é preciso uma oposição à esquerda, nas ruas e no parlamento. A frustração com o Governo PS começa a crescer. Deixar a direita como único canal para o descontentamento é suicidário. Voltar às ruas para recuperar direitos, não dar nem um dia de tréguas ao PS, é o caminho para fortalecer a esquerda. Para calar os soundbytes reacionários de Cristas e cia., os trabalhadores devem fazer ouvir bem alto a sua exigência por uma vida melhor.

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