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Professores: “Uma era de desrespeito”

Quando eu era pequeno, nos anos 60, ensinaram-me a respeitar os professores, eles eram a figura de autoridade na sala de aula, habituavamo-nos a ver neles uma espécie de representantes do ditador, os chefes que tudo podiam. As regras eram indiscutíveis e mal se pisava o risco, os castigos eram aplicados sem dó nem piedade, incluindo os corporais.

Também nesse tempo, como agora, os salários eram baixos e dizia-se que ser professor era um sacerdócio, portanto, quem escolhia esta profissão alimentava-se sobretudo espiritualmente e estava estabelecido que era quanto bastava, mas pelo menos devia-se-lhe total respeito. Felizmente, esse tempo já lá vai!

Agora, principalmente desde o ministério de Maria de Lurdes Rodrigues, iniciou-se uma era de desrespeito que já se prolonga há uma década. Os professores foram primeiramente vilipendiados quando se pretendeu dividi-los em titulares e não titulares, tentou-se (e conseguiu-se) dividir a classe. Pretendia-se criar uma espécie de aristocracia docente com base em critérios perfeitamente arbitrários ou absurdos e tinha-se em vista o supremo objetivo de pôr em prática um sistema de avaliação que atropelava, inclusivamente, a graduação e a hierarquia. O objetivo era avaliar sem olhar a meios e encontrar uma justificação para que só alguns ascendessem na carreira, iniciando-se, dessa forma, um processo de proletarização da classe que todos os governos têm promovido.

Alterou-se a idade da reforma, sobrecarregaram-se os horários, criou-se o caos na distinção entre componente lectiva e não lectiva, tentando-se vencer os professores pela exaustão, inventaram-se sistemas de aposentação antecipada (e quase forçada) cheios de penalizações. Era preciso colocar os mais velhos fora de jogo e com o mínimo de despesa possível…

Perseguiram-se os mais novos, submetendo-os à infâmia de um exame ridículo, passando-se a muitos um atestado de incompetência e condenando-os ao desemprego.

A carreira tornou-se uma miragem e a esmagadora maioria dos docentes não sobe de escalão há mais de dez anos, sendo muitos aqueles que se eternizam na condição de contratados.

Perante todos esses ataques e apesar da insuficiente resposta por parte dos principais dirigentes sindicais (e de algumas traições com acordos/memorandos com governos), a classe docente não perdeu em toda a linha e conseguiu-se organizar minimamente pela base e desde 2008 vários movimentos de professores conseguiram rasgar memorandos (luta dos movimentos APEDE, MUP e PROMOVA em 2008/2009) e ajudar decisivamente a derrotar provas ignóbeis (Movimento Boicote&Cerco em 2013/2014).

No entanto como quem tem governado o país está sobretudo ao serviço dos grandes grupos financeiros (banca e grandes multinacionais) continuam a existir poderosos interesses em precarizar quem trabalha incluindo a classe docente (mas para isso é preciso manchar a sua imagem perante a sociedade). Por isso não é de estranhar que ultimamente, comentadores de todas as televisões e de todos os jornais envenenam a opinião pública, não hesitam em difamar, insultam os professores que dizem ser uma “raça especial”, uns “miseráveis”…

Até quando os professores vão permitir tanta afronta?!

 

Lisboa, 28 de novembro de 2017

César Garcia

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