Acordar a Esquerda - João Faria Ferreira

Sonhar e mover até o Bem-Viver

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João Faria-Ferreira, natural do Barreiro, ativista antirracista, feminista interseccional e anti-capitalista, aceitou o desafio de encabeçar a lista do MAS por Setúbal como independente para as eleições legislativas de 2022. Neste texto, o João apresenta os motivos que o levaram a dar este passo.

Nas próximas eleições legislativas portuguesas, no dia 30 de janeiro de 2022, serei candidato independente pelo Movimento Alternativa Socialista (MAS), cabeça de lista por Setúbal, distrito onde nasci e vivi a maior parte da minha vida.

É um facto que não gosto de repetições de frases feitas, de discursos ocos, e que sou sedento por diálogo e debate. Não pretendo falar para “poucos, mas bons”: quero, e exijo de mim, acessibilidade no discurso. Passei pela vida de muitas pessoas nos últimos meses e vi tanta gente capaz de fazer o trabalho que é preciso, que sabe o que é preciso; não me convenço de ser detentor da chave para a resolução dos problemas de todas elas — sei que somos nós, como coletivo, que as detemos, as várias chaves.

Sei que muitas pessoas têm receio ou desinteresse em participar politicamente: mais de metade do eleitorado absteve-se de ir às urnas nas passadas eleições legislativas de 2019. Também tenho me sentido desmotivado. No entanto, o momento atual exige a nossa mobilização: as pessoas estão fartas de migalhas, fartas de blá blá blá, e fartas do sistema!

Comprometo-me com um mandato partilhado, horizontal e mobilizador, guiado pelo meu espírito irrequieto, utópico, e empático. Mas temos que ir além de apresentar projetos e criticar a sua rejeição pelo arco do poder — é preciso construir nas ruas, com as pessoas, e lutar pela inevitabilidade das nossas propostas. Só assim a representação parlamentar de um partido pequeno tem sentido. Como deputado, serei uma oposição, além de crítica, propositiva.

Cruzo o Atlântico em busca de inspiração nos povos indígenas, e oriento-me pela cosmovisão e concepção filosófica do Bem-Viver, que tem paralelo com a filosofia ubuntu, no continente africano. No fundo, pretendo lutar por um presente e futuro onde todas as pessoas possam, não apenas sobreviver, mas viver com plenitude, com a consciência de que não será possível se as contrapartidas forem a insustentabilidade ambiental e a opressão alheia. A minha campanha baseia-se, portanto, em dois eixos dinâmicos: no ato transformativo e revolucionário de sonhar, alicerçado no poder da movimentação coletiva, da mobilização social.

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