O choque dos imperialismos em África – o caso do Níger

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Recentemente, um golpe militar no Níger derrubou o governo do Presidente Mohamed Bazoum, apoiado pelo imperialismo francês.

O golpe de Estado no Níger aconteceu a 26 de Julho e foi levado a cabo pelo autodenominado Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CLSP) – liderado pelo general Abdourahamane Tchiani, que anunciou a destituição do Presidente, a suspensão das instituições, o encerramento das fronteiras e um recolher obrigatório noturno até nova ordem.

Apesar da sua extrema pobreza, o Níger destaca-se em África pelos seus depósitos de urânio, ouro e petróleo, que é utilizado (explorado em desvantagem para as populações locais) pela França.

Após o golpe, este foi apoiado pela população, farta de ser explorada pelos ex-colonizadores franceses. Na mesma altura, as potências Ocidentais apressaram-se a condenar o golpe de estado e a exigir o regresso do governo pró-francês. Recorde-se que a grande percentagem da energia eléctrica consumida em França (70%), provém de centrais nucleares alimentadas com urânio proveniente do Níger (40%). Assim, a França vê-se privada do fornecimento de urânio e logo acena com as bandeiras da guerra, afirmando a ameaça «aos seus interesses» no Níger. Por outro lado, esta alteração de poder é um rude golpe para os Estados Unidos e para os aliados que viam o Níger como um grande parceiro “antiterrorista” no Sahel (o único terrorismo aceite na área é … o deles), uma vasta área a Sul do deserto do Sahara de onde os ‘jihadistas’ da Al-Qaeda e do Daesh se têm expandido.

Muitas das independências africanas foram conseguidas à custa da luta dos seus povos pelo direito à sua autodeterminação. Porém, muitos dos governos que acabaram por assumir as lideranças, terminaram por ser vassalos dos antigos colonizadores, que continuam a usufruir das riquezas naturais das ex-colónias. É o que acontece no Níger, onde a sua população vive na miséria com os seus recursos naturais a serem enviados para França e com as suas condições de vida a piorar de dia para dia.

Vivendo de uma economia agrícola e essencialmente familiar, as famílias do Níger e os povos africanos vêm-se afectados pelas alterações climáticas que os empobrece ainda mais devido à seca, vendo assim com a esperança dos desesperados a queda do governo vassalo de França.

A reacção imperialista dos Estados Unidos e da França (com bases no Níger) foi a de uma ameaça de intervenção militar, sendo seguidos por alguns países vizinhos da Organização da África ocidental, CEDEAO, ameaçaram intervir militarmente. Por outro lado, a Guiné, Mali e o Burquina Faso, apoiaram o golpe, referindo que defenderiam o Níger de uma intervenção internacional.

Ora, a Guiné, o Mali e o Burquina Faso, tiveram também golpes de estado, declarando-se “amigos da Rússia” que por seu lado referiu já o apoio aos golpistas do Níger.

E é aqui que, mais uma vez, os povos de África se vêm entrincheirados numa disputa imperialista capitalista. Se por um lado o golpe de estado no Níger derruba um governo pró-francês e é alvo de sanções por parte dos Estados Unidos e da França, de imediato é apoiado pelo bloco imperialista russo que se apressa a ajudar o Níger nesta disputa, pois tanto a Rússia como a China têm entrado com força em África onde disputam o seu domínio com as velhas ordens imperialistas Ocidentais.

Assim, o que estamos a assistir no Níger? Uma esquerda revolucionária deve-se colocar ao lado das grandes mobilizações de massas que directa ou indiretamente se opõem contra colonizações seculares, sem com isso ver com agrado nem sequer apoiar, supostas intervenções militares que tem o mesmo objectivo: espoliar os povos africanos dos seus recursos naturais e condená-los eternamente à miséria e à morte, em benefício dos interesses algozes das multinacionais internacionais patrocinadas, seja pela França, pela Rússia, pelos EUA ou pela China. Nenhum destes imperialismos actua em favor dos povos. De facto, tal como acontece em outros palcos mundiais (Sudão), o que vemos no Níger, apesar de ser uma genuína vontade dos povos para se libertarem do secular jugo Ocidental que os explora, é um choque entre dois blocos imperialistas movidos pela insana voracidade capitalista.

Que seja o povo do Níger a decidir o seu futuro e a usufruir do seu país!

Pela saída das tropas francesas e norte-americanas do Níger!

Não à intervenção internacional imperialista no Níger!

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