Profissionais de educação juntos numa manifestação pela Escola Pública

Sobre o 11 de fevereiro e a unidade

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Todo o país tem estado atento, e em grande parte solidário, com a luta dos profissionais da educação. Num debate na TSF, o próprio presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, caracterizou como ‘guerra total’ o braço de ferro entre o governo do PS e a determinação dos professores e outros profissionais da educação. E com razão para os que estão na luta. 

Já ninguém aguenta o aumento dos preços de tudo, principalmente com os magros salários atuais e, para agravar no caso dos professores, com o roubo de anos de trabalho efetuado —  que, de uma vez por todas, querem justamente ver devolvido. O governo nada faz a não ser proteger os interesses das grandes empresas petrolíferas, de distribuição alimentar e tantas outras que, a cavalo do pretexto da guerra da Ucrânia, estão a ganhar milhões à custa de quem só tem o seu baixo salário para sobreviver. 

O governo não aceita aumentos de salários, limitou-se a distribuir umas migalhas para fingir que se ‘preocupa’ com o povo, quando na essência tudo faz para proteger as indemnizações milionárias de gestores, a manutenção do pagamento de reformas vitalícias para políticos, salários milionários para administradores de empresas e todo o tipo de compadrios e injustiças que se conhecem a todos os níveis da nossa sociedade. 

A mobilização da educação começou com essa raiva social e recorreu a formas de luta inusitadas, perante a passividade da larga maioria dos sindicatos, corretamente classificados — até pelos próprios — como sindicatos do sistema, mesmo aqueles conotados com a CGTP e, por tabela, utilizados pelo PCP como correias de transmissão da sua política, sem a menor democracia interna. Talvez estes fatores expliquem a velocidade com que os professores tenham votado pelo recurso à greve por tempo indeterminado, desde 09 de dezembro e, essencialmente, terem substituído a velha FENPROF pelo novo sindicalismo do STOP. 

Só depois de várias semanas de luta massiva dos professores é que a FENPROF entrou em cena e convocou alguma forma de luta ou ação de rua. Para não perder o pé face à antiga base de apoio, a FENPROF, que dizia em outubro do ano passado que havia que ‘esperar’ por março, lá se apressou a convocar greves de 1 dia, rotativas por regiões, claramente pequenas perante a greve permanente que decorria sob a liderança do novo sindicalismo. Entre dezembro e janeiro tiveram lugar 3 gigantescas manifestações, duas das quais mobilizaram mais de 100.000 manifestantes e onde os sindicatos tradicionais, apesar de convidados e terem lugar assegurado para intervir, preferiram ficar à margem.

Chegamos ao dia 11 de fevereiro, à boleia da radicalização objetiva desenvolvida pelo STOP, alicerçada na unidade entre professores, funcionários, psicólogos, terapeutas e outros profissionais da educação. A manifestação organizada pela FENPROF, mais do que mais uma manifestação dos profissionais da educação em luta foi, em primeiro lugar, uma afirmação de que a luta é de professores e não de profissionais da educação. A tónica de ser “de professores” foi enfatizada até à exaustão pelos organizadores. 

O STOP esteve presente, ajudando de forma clara à mobilização e trazendo também a representação dos outros profissionais da escola pública, mas a FENPROF, em vez de juntar forças contra o governo, negou a presença unitária de André Pestana e do STOP no topo da manifestação, como legítimos representantes da luta – que não se iniciou a 11 de fevereiro, mas a 09 de dezembro.

Nada disto é uma lógica de unidade, mas sim de divisão. Dividir professores e outros profissionais da educação, desterrar o STOP para ‘carro vassoura’ da manifestação e impedir, de forma evidente — mesmo contra várias pessoas das suas bases —, que André Pestana se dirigisse aos manifestantes, quando, nas manifestações do STOP, as outras estruturas sempre foram convidadas a participar com direito a intervir no palco. Foi, portanto, uma demonstração do sectarismo dos velhos aparatos, que tornou consciente, pelo menos para parte dos profissionais da educação, quem é que quer unidade e quem só agita a bandeira da unidade para acalmar os ânimos.

Mário Nogueira e os sindicatos do sistema são duros contra o STOP e quem luta de forma consequente e radical, como a realidade provou que era e é necessário, mas manso e colaborante, desde há muito tempo, com o governo ou os governos do PS, com os quais chegou a subscrever ‘memorandos de entendimento’ lesivos dos interesses dos professores. Neste momento, aparece com um discurso mais radicalizado e mostra-se mais exigente nas negociações, pois tem a pressão do STOP; mas, por vezes, descai para aquilo que é a sua posição habitual, como quando disse que o que é preciso para haver acordo é agendar a discussão do tempo de serviço, desmobilizando tudo por uma promessa de um governo em que não se pode confiar.

Está-se perante um novo paradigma no mundo sindical, o novo veio para ficar, confronta os velhos aparatos e a sua imobilidade, organiza os trabalhadores para decidir democraticamente o caminho da sua luta em vez de debitar decisões de cúpula dos velhos dirigentes, quer unir sectores que têm as mesmas reivindicações, em vez de ir cada um na sua bicicleta, agita as águas que estavam paradas há muito tempo, prefere lutar do que conciliar e cozinhar maus acordos para a classe. Os profissionais da educação estão fartos de lutas a fingir e para marcar o ponto, querem lutar para vencer e não perder tempo, salário e energia com lutas inconsequentes ou entendimentos mal amanhados com o Governo, que não representam os seus interesses. 

O MAS está, hoje e sempre, ao lado da justa luta por uma escola pública e universal, digna e de qualidade, tanto para quem lá estuda, como para quem lá trabalha. Viva a luta unitária de todos os profissionais da educação!

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