O Governo, o SNS e a pandemia

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O Governo fala muito do SNS e do esforço dos seus profissionais, mas a verdade é que faz bem pouco para, de facto, valorizar o enorme esforço que os profissionais do setor têm desenvolvido no decurso da pandemia.

Antes do começo da pandemia, em março de 2020, as equipas já andavam a funcionar com os recursos mínimos. Com a pandemia, no último ano e meio, a situação agravou-se, exigindo da parte dos profissionais um esforço sobre-humano, com reflexos muito negativos na vida pessoal e familiar e até na saúde desses profissionais.

E o Governo, o que tem feito para valorizar esse esforço? Para além de palavras bonitas, nada. Por exemplo, no caso do pagamento do chamado prémio de desempenho, em Dezembro de 2020, o Governo aplicou critérios discriminatórios na seleção dos profissionais elegíveis, com a agravante de esses critérios nem sequer serem transparentes.

Mas o caso mais flagrante tem a ver com a vacinação da COVID-19. O Governo, a DGS e o almirante gostam muito de bater a mão no peito e vangloriarem-se do desempenho do país nesse âmbito, comparando favoravelmente Portugal com outros países da UE. E não é só o Governo, muitos comentadores, não afetos ao PS, fazem o mesmo.

O que não se diz é que esse desempenho do país é feito à custa do trabalho dos profissionais, sobretudo enfermeiros, os quais asseguram essa vacinação todos os dias, de segunda a domingo. E o trabalho não se reduz a administrar as vacinas, inclui também uma carga burocrática que o cidadão comum nem imagina. O problema é que este enorme esforço não só não é reconhecido como as diversas administrações recorrem a toda a espécie de artimanhas para se furtarem ao justo pagamento deste esforço.

Senão vejamos. No princípio deste ano, foi publicada legislação que dizia o seguinte: todo o trabalho extraordinário desenvolvido no âmbito do combate à pandemia será pago a dobrar e não se aplicará o teto de 1/3 do salário para o pagamento das horas extraordinárias. Ora o que fizeram as administrações (pelo menos algumas)? Disseram que a vacinação no âmbito da COVID-19 não é trabalho COVID-19 para não pagarem as horas extraordinária pela nova legislação! Como diria o Fernando Peça: e esta, hein?

Cláudio Kuster (Médico)

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