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Demolições no Bairro Santa Filomena, injustiça sem limites no país dos vistos dourados

Esta semana escreveu-se a mais um trágico capítulo do processo de demolições no Bairro de Santa Filomena, na cidade da Amadora. Destroem-se casas de construção precária e lançam-se por terra as ténues esperanças dos moradores em construir uma vida digna num país que se recusa acolhê-los.

Uma recusa que assumiu contornos violentos com a entrada em cena de maquinaria pesada acolitada por um séquito policial fortemente armado. Este processo, que se arrasta há longos meses, é fruto de um plano gizado pela Câmara da Amadora, governada pelo PS, que pretende erradicar todos os bairros degradados existentes no concelho onde a população residente é composta, na sua maioria, por cidadãos africanos ou descendentes de africanos.

Tal medida torna-se particularmente gravosa quando se sabe – e os moradores de Santa Filomena já o sentiram na pele – que a Câmara da Amadora não os pretende realojar em casas que reúnam as mínimas condições de higiene e conforto. Antes os pretende enviar para África, demitindo-se, de forma vil, do seu dever de garantir o direito à habitação dos mais desfavorecidos. Eis um caso de flagrante desrespeito pela Constituição levado a cabo por uma autarquia refém de obscuros interesses imobiliários.

A origem deste drama social remonta à implantação do Plano Especial de Realojamento, uma intervenção executado com base em informação reunida nos Censos de 1992. Tal desfasamento entre números com mais de 20 anos e a realidade presente do bairro, aliado à total cegueira social da edilidade, atiraram para o relento centenas de pessoas.

Os poderes locais mostraram-se totalmente insensíveis às situações de miséria e desemprego que grassam no bairro. Assim como desprezaram os apelos ao diálogo dirigidos pela população, não tendo recuado perante as mobilizações de protesto.

Este triste episódio demonstra o carácter duplo de uma administração central e local que, ao mesmo tempo que quer atrair estrangeiros interessados em canalizar dinheiro de duvidosa proveniência para  habitação de luxo, abandona à sua sorte até à expulsão aqueles que não têm meios para obter casa própria.

José Pereira

*Fotografia da intervenção dos alunos da Faculdade de Belas Artes nas empenas e fachadas do casario do Bairro: VEJA AQUI

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