Pouco antes da cúpula da aliança militar da NATO em Madrid, Erdogan consegue transformar o seu poder de veto da Entrada da Suécia e Finlândia na NATO, numa arma para liquidar oponentes políticos em asilo nos países nórdicos. Esta decisão é uma clara traição à antiga posição tomada pelos Socias Democratas, onde que até muito recentemente categorizava o YPG/YPJ [organizações curdas de autodefesa] como também o PYD como lutadores pela liberdade e considerava a sua categorização como terroristas como inaceitável. Tal posição, no entanto, muda em novembro, com o acordo, o mesmo partido (agora no governo), compromete-se a estabelecer um diálogo e cooperação a todos os níveis de governo para a eliminação do terrorismo e categorizando estas mesmas organizações como terroristas. Entre as várias medidas comprometidas entre os dois países temos, o compartilhamento de informação das agências de inteligência contra o terrorismo, proibição de recrutamento e financiamento do PKK e outras “organização terroristas”, realizar deportações e extradição de indivíduos cujos quais a Turquia os categorize como terroristas, e como também o começo de exportação de armas para a Turquia.
Mesmo que a lei sueca proíba a extradição de pessoas por crimes políticos ou que estejam em risco, as leis “contra o terrorismo” e certos acordos feitos entre governos, permitem ao governo sueco de atravessar a lei pelas margens. Este caso, infelizmente não foi a primeira vez que acontece, como o escândalo da extradição de Mohammad Alzery e Ahmed Agiza para o estado egípcio, que até hoje mancham o governo Social Democrata.
Há muito que a direita Sueca ansiava por integrar à Nato e mais uma vez o Partido Social Democrata dá uma virada à direita para consagrar os desejos desta, abandonando a sua posição histórica de neutralidade e contra a ingressão na Nato, de forma tão golpista e antidemocrática, fechando a decisão a quatro portas, sem permitindo a construção de uma oposição. Esta viragem à direita não é única, mas sim um longo processo de traições por parte do Partido Social Democrata, por incapacidade de lidar com o partido fascista ‘Democrático Sueco’ que atualmente é a terceira força política na Suécia, onde os seus ‘diálogos’ com fascistas, nada mais se tornam com a sua normalização e viragem à direita dos próprios.
Não devemos deixar que o fenômeno se sobreponha às tendências históricas, a Suécia ao longo dos últimos anos tem sido um dos principais colaboradores da Nato, em especial, o seu envolvimento na invasão do Afeganistão, onde gastaram 20 bilhões de coroas suecas e onde as suas tropas estiveram diretamente sobre o comando da Nato durante duas décadas.
Os interesses económicos da classe dominante suécia, em especial a sua indústria de guerra, em entrar na NATO para aumentar os mercados, os lucros e a exploração dos povos, se sobrepuseram à vida dos Curdos que ainda lutam pelo seu direito de autodeterminação e com uma nova ofensiva militar Turca à porta.
A adesão representa um novo passo na militarização dos países imperialistas como também o aumento das tensões para aquilo que pode ser uma terceira guerra mundial. Com a aceleração do investimento no armamento, irá também ser acompanhado com cortes na saúde e bem-estar, retardar o combate as alterações climáticas e o aumento dos impostos, agravando a política neoliberal que tem assombrando estes países.
Estas decisões vêm de um continuo de decisões políticas tomadas pelas classes dominantes norte-americanas em legitimar Estados Autoritários e bonapartistas, como também os ajudá-los a liquidar opositores políticos internos (como o Escândalo do assassinato de Cemal Khashoggi, pelo um dos principais aliados do Estados Unidos da América na área, a Arábia Saudita), esta política surge do interesse económico e geopolítico que esta zona representa para as classes dominantes, sem contar das suas grandes reservas de óleo.
Do lado turco, temos um Estado Bonapartista que se prepara para uma nova ofensiva no norte da Síria, com a desculpa de criar “zonas livres de terrorismo” muito semelhante aos anseios de Putin de criar “zonas livres de nazis” na Ucrânia. Mantendo uma política expansionista, reacionária e anti-curda em relação à Síria. Esta nova política leva a cabo pelos países escandinavos irá levar ao enfraquecimento não só dos Curdos, como também de partidos opositores do regime e inimigos do Estado Turco, onde indivíduos que sejam considerados pelo Estado Turco como “terroristas” devem ser extraditados e instalações que “ameacem a segurança nacional turca” devem ser encerradas.
É necessário assim condenar este acordo, que não só representa uma escalada na militarização no mundo, como também mostrar solidariedade à resistência Curda e condenar tanto a Turquia como a Suécia por estes novos passos na sua Bonapartização.
Diogo Oliveira