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1ª volta das presidenciais brasileiras 2022: vitória curta de Lula dá fôlego a Bolsonaro

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Lula conquista 48,4% dos votos, vence a 1ª volta das Presidenciais brasileiras de 2022 e consegue alcançar mais 26 milhões de votos que Haddad, em 2018. No entanto, a polarização entre Lula e Bolsonaro expressou-se de forma ainda mais aguda que o expectável e a diferença entre os dois foi de apenas 5% (6 milhões de votos), nesta 1ª volta, algo que as sondagens não previam e que acaba por trazer um fôlego renovado à candidatura de Bolsonaro.

Nada está ainda perdido, mas pode afirmar-se que este não é um bom resultado para a juventude e trabalhadores brasileiros. A derrota de Bolsonaro não estava nem está garantida na 2ª volta das Presidenciais de 2022.

Bolsonaro, com uma base eleitoral de apoio gigantesca e, como fica evidente, bem mais sólida que o esperado, chega mesmo a crescer em mais 1,7 milhões de votos, face aos seus resultados na 1ª volta de 2018, aumentando as hipóteses de vitória ou, caso perca, de contestação dos resultados por parte do bolsonarismo, em mais uma mimetização de Trump. Ainda que um golpe continue a ser pouco provável, um possível ataque à democracia brasileira, caso Bolsonaro venha a perder a 2ª volta, ganha força. O Expresso relata que, na noite desta 1ª volta, “um grupo de manifestantes bolsonaristas estendeu um cartaz em Brasília, pedindo a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal. Com um megafone, um apoiante do presidente ‘convocava’ os manifestantes a ‘prenderem em flagrante’ os integrantes da Corte”1. A ameaça à democracia não pode ser simplesmente descartada.

Bolsonaro viu ainda vários candidatos que apoiava, incluindo seus ex-ministros, serem eleitos quer para o Congresso, quer para o Senado brasileiro, o que reforça a solidez da sua base eleitoral. O Partido Liberal, partido de Bolsonaro, conquista mesmo a maior bancada do Congresso, com 99 deputados.

A subida de Bolsonaro face às sondagens parece explicar-se, em boa parte, pela perda de candidatos fora da polarização Lula x Bolsonaro, sobretudo Ciro Gomes, que perde 10 milhões de votos face à 1ª volta de 2018, passando de 12,5% em 2018 para os actuais 3%, cuja feroz campanha para se diferenciar de Lula, no campo do centro-esquerda, poderá ter mesmo acabado por reforçar Bolsonaro. Se, na 2ª volta, Bolsonaro conseguir ir buscar mais aos 3% de Ciro ou até à base de direita do MDB, aproxima-se ainda mais de Lula.

Face à forte polarização Lula x Bolsonaro e sem uma candidatura do PSOL à 1ª volta, o espaço à esquerda do PSOL demonstra-se completamente residual. A Unidade Popular, candidatando-se pela primeira vez a umas presidenciais, conquista 54.000 votos (0,05%). O PCB que, na 1ª volta de 2018, se tinha juntado à candidatura do PSOL, alcança agora, com a sua candidatura própria, perto de 45.000 votos (0,04% dos votos). Já a candidatura do Polo Socialista e Revolucionário, liderada pelo PSTU e que agregou um conjunto de pequenas organizações de esquerda, perde mais de metade da já residual votação que tinham conquistado em 2018, na altura com a candidatura própria do PSTU, passando de perto de 56.000 votos (0,05%), em 2018, para os actuais quase 27.000 votos (0,02% dos votos).

O PSOL, apesar das críticas que lhe possamos fazer à condução da sua campanha, evidencia-se como um espaço político determinante à construção de qualquer alternativa de esquerda independente do PT e do Lulismo. Só depende da sua direcção que a sua independência política seja não só preservada como também fortalecida.

O que esperar da 2ª volta?

Para a 2ª volta, Lula terá de passar das generalidades à concretização do seu programa e isso implica uma maior clarificação para quem irá governar. Para as elites brasileiras e das grandes potências mundiais, como fez no passado, ou para a juventude e os trabalhadores? Procurará Lula resolver a fome, o desemprego, os baixos salários, o desinvestimento público e a inflação que assolam a larga maioria da população brasileira? Temos dúvidas que assim seja, sobretudo considerando as alianças com a direita e grandes empresários com que Lula cozinhou a sua actual candidatura. As dúvidas adensam-se se considerarmos ainda que Lula, para vencer, irá procurar conquistar o eleitorado à direita, deslocando-se ainda mais das aspirações da sua base de apoio popular, desmoralizando-a.

Se quiser vencer, Lula terá de activar a mobilização da juventude e da classe trabalhadora em torno de um programa que sirva para resolver os seus problemas sociais mais graves e prementes, ao invés de aprofundar a promiscuidade com as elites corruptas. Colocar as massas na rua para enfrentar e derrotar o bolsonarismo, para travar qualquer possibilidade de golpe. Este são os elementos que poderão definir a derrota de Bolsonaro.

Qualquer pessoa consegue antever que um futuro Governo Lula-Alckmin não se propõe à resolução dos problemas mais prementes da larga maioria da população brasileira, mas a continuidade de Bolsonaro é simplesmente insuportável para quem vive do seu parco salário, para além de constituir um sério risco à democracia brasileira. Na 2ª volta, para derrotar Bolsonaro, apelamos ao voto, crítico, em Lula.

1 https://expresso.pt/internacional/eleicoes-no-brasil/2022-10-03-A-vitoria–curta–de-Lula-em-5-pontos.-E-o-que-isso-quer-dizer-sobre-o-duelo-final-com-Bolsonaro-a238402e

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