Palestina: para acabar com a violência é preciso acabar com a opressão

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A surpreendente e ousada ofensiva militar do Hamas provocou o habitual coro de condenações por parte dos governantes e personalidades europeias. Políticos e comentadores de todos os canais televisivos mostram-se horrorizados com a violência que rebentou em Israel na madrugada deste domingo. Dir-se-ia que até essa manhã não tinham chegado ao seu conhecimento as incursões quotidianas do exército israelita ou os pogroms organizados pelos colonos na Cisjordânia, as constantes provocações junto à mesquita Al-Aqsa, o assassínio de 237 palestinianos desde o início deste ano.

A verdade é que a violência instalou-se no território da Palestina há 76 anos. Três gerações de palestinianos não sabem o que é viver fora do jugo da violência e da opressão colonial. Com a constante cumplicidade dos Estados Unidos e da União Europeia, Israel tem levado a cabo ao longo destas décadas uma planeada limpeza étnica, marcada pelo roubo de casas, terras e recursos naturais. Neste contexto, o ataque do Hamas só pode ser visto como o exercício de um direito consagrado na Carta das Nações Unidas e na Constituição portuguesa: o direito à resistência, incluindo a resistência armada, dos povos que vivem sob ocupação.

No entanto, frente à ameaça proferida por Netanyahu de fazer pagar aos palestinianos um preço nunca imaginado, não é um apelo a pôr fim ao bloqueio mortífero a Gaza ou à extensão acelerada dos colonatos na Cisjordânia que se ouve na chamada comunidade internacional, mas o eterno refrão: “Israel tem o direito de se defender”, isto é, de continuar uma ocupação considerada ilegal pelo direito internacional. Da dama de ferro da União Europeia aos patéticos António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, legitima-se assim o anúncio israelita de um castigo colectivo que, tal como em 2008 e 2014, levará a um massacre na população civil de Gaza e também da Cisjordânia.

A envergadura e a ousadia do ataque do Hamas, que conseguiu furar as barreiras do Estado mais securitário do mundo, levou (segundo os dados oficiais israelitas) à captura de uma centena de reféns. Nas prisões israelitas, estão encarcerados quase cinco mil palestinianos, centenas, incluindo crianças, em “prisão administrativa”, o que quer dizer que não têm culpa formada, não têm direito nem a advogado nem a julgamento. Esta é a oportunidade para se exigir dos Estados Unidos e da União Europeia, incluindo o governo português, que pressionem Israel para proceder a uma troca de prisioneiros e que liberte finalmente os palestinianos encarcerados por delito de resistência à opressão.

Elsa Sertório, membro do Comité de Solidariedade com a Palestina.

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