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EUA: Fora Trump! É preciso travar a extrema-direita!

Ontem, dia 6 de Janeiro, a 14 dias da tomada de posse de Biden, Trump e os seus apoiantes presentearam o mundo com mais um episódio grotesco.

No momento em que o Congresso se preparava para validar o voto dos grandes eleitores de todos os Estados, confirmando a vitória de Biden, em mais um dos múltiplos rituais da democracia dos EUA, o Capitólio foi invadido por algumas centenas de apoiantes de Trump que se manifestavam à porta do edifício, obrigando à suspensão dos trabalhos.

Este foi o resultado que Trump acicatou, nos últimos dias e semanas, ao repetir insistentemente a teoria de fraude eleitoral e ao convocar os seus apoiantes para a manifestação de ontem, em Washington. O objectivo desesperado da sua narrativa de “fraude eleitoral” tem sido a agitação das alas mais reacionárias dos seus apoiantes como forma de sinalizar que a sua derrota eleitoral não é uma derrota do trumpismo.

Este é mais um episódio do espernear desesperado de Trump, naquilo que tem sido a sua ridícula resistência em aceitar a sua derrota eleitoral. Foram dezenas de processos judiciais que, por falta de provas, apenas confirmaram a falsidade da narrativa de Trump de “fraude eleitoral”. No total, foram mais de 50 derrotas nos tribunais para Trump, incluindo no Supremo Tribunal, não conseguindo a alteração dos resultados em qualquer Estado. Os votos no Estado da Geórgia foram contados 3 vezes, confirmando, todas elas, a vitória de Biden. Nos últimos dias, veio a público uma conversa telefónica em que Trump pressiona e ameaça o responsável pela certificação dos resultados eleitorais no Estado da Georgia e o secretário de estado da Georgia, o republicano Brad Raffensperger, para “encontrarem” votos suficientes para inverter o resultado eleitoral. Uma das últimas manobras foi a de tentar convencer uma maioria do Congresso a recusar a certificação de, pelo menos, parte dos 306 votos de Biden. Diante de mais este falhanço, pressionou o seu vice-presidente, Mike Pence, responsável por anunciar o vencedor presidencial, na sessão de validação do voto dos grandes eleitores de todos os Estados, a não declarar a vitória de Biden. Todo este conjunto de manobras, confirma o pendor autoritário de Trump, disposto a tudo para se manter no poder. Não podemos afirmar se a invasão do Capitólio foi o último episódio, mas foi, com certeza, uma das mais graves ameaças autoritárias de Trump.

Ainda assim, é precipitado apelidar este episódio sequer como uma tentativa de golpe ou de insurreição. Ficou evidente que as dezenas de manifestantes que furaram as linhas de segurança do Capitólio não tinham qualquer tipo de apoio logístico, plano, preparação ou intenção de tomar a instituição. Como já referimos em artigos anteriores, Trump já tinha entrado em ruptura com parte importante da cúpula militar, do Estado e do seu próprio partido. Ou seja, entrou em choque com parte importante da própria burguesia americana, que o poderia apoiar. Não existe, hoje, um sector significativo da classe dominante americana que veja como necessário, para o momento, uma saída pela força, uma via autoritária, bonapartista, para manter o seu domínio económico e político. Biden assegurou e fará tudo para garantir a defesa dos interesses da burguesia americana em território nacional e no mundo, pelo que não existe qualquer tipo de aspiração dissidente de um sector considerável da burguesia americana.

Neste sentido e pressionado pela Casa Branca, após a invasão do Capitólio, Trump rapidamente publicou um vídeo a apelar à desmobilização dos seus apoiantes e teve de diluir a sua resistência em enviar a Guarda Nacional para Washington. Poucas horas depois, os manifestantes foram retirados do Capitólio e a sessão de validação do voto dos grandes eleitores de todos os Estados foi retomada.

Trump sai deste episódio ainda mais isolado. Mike Pence, vice-presidente de Trump, mostrou um total afastamento de Trump ao condenar o que tinha acontecido: “para aqueles que tentaram provocar o caos no Capitólio hoje, vocês não ganharam”. Mike Pompeo, secretário de estado de Trump, apelidou a invasão do Capitólio de “inaceitável”. Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, foi duríssimo com Trump, como para todos os republicanos que insistem nas manobras “profundamente danosas para a democracia, agora e durante muitos anos”. Steven Mnuchin, secretário do Tesouro, considerou igualmente “inaceitável” a violência praticada pelos apoiantes de Donald Trump no Capitólio. Mitt Romney, senador republicano do Utah, denunciou Trump como o instigador da invasão do Capitólio. Até Benjamin Netanyahu, um dos grandes aliados internacionais de Trump, considerou que “o ataque ao Capitólio ontem foi um ato escandaloso e deveria ser fortemente condenado”.

Entretanto, mesmo que não desarme completamente, aquele isolamento empurrou Trump a assumir que, “haverá uma transição ordeira em 20 de janeiro”. Ainda assim, Trump consegue deixar evidente que o trumpismo não foi completamente derrotado, tendo sido eficaz no seu projecto de divisão social e política do país e do mundo, na sua conquista de uma parte significativa do descontentamento popular. Perante a decadência imperialista dos EUA, Trump está preparado para continuar a animar e patrocinar a política da extrema-direita autoritária, nomeadamente, dos candidatos republicanos da sua ala.

 

Trump é derrotado em todas as câmaras do regime dos EUA!

Neste mesmo dia, o Estado da Geórgia, um estado fortemente republicano, elegeu 2 senadores democratas, igualando o número de senadores entre Republicanos e Democratas, o que concede a maioria do Senado à futura Administração Biden, uma vez que aquele empate técnico no Senado, será desempatado pela sua vice-Presidente Kamala Harris. A maioria democrata do Senado junta-se, então, à maioria na Congresso.

Os republicanos perderam a Presidência, não reverteram a maioria democrata na Câmara dos Representantes e também perderam o controlo do Senado. Há mais de cem anos que isto não acontecia a um Presidente dos EUA.

Os derrotados das duas segundas-voltas (na Geórgia, acontecem quando nenhum candidato tem 50% na primeira) são dois nomes respeitados junto do círculo próximo de Trump: David Perdue e Kelly Loeffler.

 

A extrema-direita sofre uma importante derrota eleitoral, mas a crise mundial não está resolvida!

Os acontecimentos dos últimos meses, vêm confirmar os traços de uma situação política e social, dos EUA e do mundo, muito instável e em choque permanente entre vários elementos: i) a decadência e crise dos EUA como imperialismo mundial, cuja divisão e crise da classe dominante acaba por enfraquecer as suas múltiplas formas de domínio económico e social, abrindo espaço ou ao trumpismo, ou a importantes mobilizações da classe trabalhadora e juventude; ii) a fragilidade das direcções da própria classe trabalhadora, sem capacidade de resposta autónoma e independente, face ás múltiplas ameaças autoritárias dos sectores mais reaccionários da burguesia.

Por outro lado, o episódio de ontem evidencia a inexistência de imparcialidade das instituições policiais e do Estado. A ausência de intervenção policial na invasão do Capitólio de ontem, pelos apoiantes de Trump, e a intervenção policial, com tácticas de guerra, nas manifestações pacíficas do BLM, opositor a Trump, não pode deixar dúvidas. O sistema repressivo do Estado responde aos interesses dos sectores de classe que dominam o Estado. Mais uma vez, Trump utilizou as forças policiais, neste caso, impedindo e atrasando a sua intervenção, em benefício do seu projecto de poder. A “Lei e Ordem” de Trump é só para aplicar sobre os seus opositores.

Esta é a política das elites de extrema-direita que têm surgido nos últimos anos. Trump nos EUA, Bolsonaro no Brasil, Le Pen em França e Ventura aqui em Portugal. Dizem-se anti-sistema, mas apenas querem conquistar, por qualquer meio, o monopólio do sistema.

É preciso travar o autoritarismo e o fascismo!

Fora Trump! Fora Bolsonaro! Basta de Ventura!

É preciso construir uma alternativa política independente de e para os trabalhadores e oprimidos!

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