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Entrevista a Ana Bau, dirigente do S.TO.P


O MAS entrevistou Ana Bau, dirigente do S.TO.P (Sindicato de Todos os Professores), e tentou perceber como está a decorrer a greve do professores, como estão a actuar os diversos protagonistas (Governo, Professores, Sindicatos, etc.) e como será o futuro desta luta.

MAS: A greve dos professores começou no dia 4 de Junho. Como está a greve neste momento?

Ana Bau: No início desta semana (23 de julho), os dados oficiais apontavam para que cerca de 65.000 alunos ainda estivessem sem a sua avaliação de final de ano. Isto demonstra que há professores que continuam convictos de que esta luta é importante. Não são só os 9 anos, 4 meses e 2 dias de serviço trabalhado e não contabilizado que estão em questão, existem outros aspectos como a precariedade docente, a gestão não democrática nas escolas, a falta de definição entre o que são actividades letivas e não letivas e um regime de aposentação específico, por exemplo, que movem igualmente os professores.

 

MAS: Como avalias a postura do Governo durante todo este processo?

Ana Bau: O Governo tem demonstrado uma atitude intransigente perante a questão do tempo de serviço dos professores, não cumprindo com as próprias promessas que fez, tanto em Novembro passado, como antes, ao ter em conta esta verba no Orçamento do Estado. O Governo tenta fazer passar a ideia de que está tudo bem nas escolas. Mas não está. A greve tem sido forte e está a afectar serviços, processos e o relacionamento entre algumas direcções e os professores. A prova são as inúmeras formas de pressão que têm sido tentadas, por parte do Ministério da Educação, para que as avaliações sejam realizadas.

 

MAS: Porque é que o S.TO.P pede a demissão do Ministro da Educação e da Secretária de Estado?

Ana Bau: O Ministro da Educação e esta Secretária de Estado têm sido os protagonistas desta inflexibilidade. Perante uma negociação, recuam e não dão sinais de querer voltar à negociação, mesmo face a uma greve tão importante, que implica um final de ano lectivo muito complicado. Para minorar o impacto da greve e atenuar o desgaste político do Ministério da Educação, escondem-se atrás de uma série de notas informativas, com instruções administrativas às escolas, no sentido de que as reuniões de avaliação sejam forçosamente realizadas, ferindo a própria Lei. O importante é fazer calar as justas reivindicações dos professores, custe o que custar. E entretanto, as questões urgentes sobre a nossa Educação são adiadas, com justificações inaceitáveis. Perante dois responsáveis de um ministério com grandes responsabilidades, que primeiro dizem negociar, depois já não há nada a negociar, que permitem a saída de instruções administrativas desadequadas do ponto de vista legal e que tudo fazem numa tentativa de demonstrar que aparentemente não há problemas, podemos perceber que os dois responsáveis já não são parte da solução, mas são uma grande parte do problema que temos perante nós.

 

MAS: Como avaliam a postura das outras forças sindicais, mais especificamente da Fenprof?

Ana Bau: Os sindicatos que pertencem à Plataforma Sindical, entre os quais os da Central Sindical Fenprof, quiseram revelar que algo vai mal, que seria um momento para os professores demonstrarem a sua indignação, mas a sua forma de o fazer notar foi, mais uma vez, praticada de uma maneira que não implicaria grandes prejuízos ao Ministério da Educação, nem vantagens para os professores, pois pretendiam realizar uma greve “mansinha” sobre turmas que não implicam mudanças de ciclo, nem estão sujeitas a exame. Foi um grito mole, quando muitos docentes, como se vê, desejavam uma luta concreta e forte, que mostrasse o verdadeiro descontentamento que existe nas escolas.

 

MAS: Quais as perspectivas para o início do ano lectivo?

Ana Bau: Em muitas escolas e do ponto de vista prático, o ano lectivo começará de forma diferente, isto já é um facto. O Governo, ao não cumprir com as suas promessas, está a afectar o normal funcionamento das escolas. Do ponto de vista político, ainda é uma incógnita o que se passará num futuro próximo mas há muitos professores determinados em conquistar aquilo que lhes foi roubado pela direita e que o actual Governo PS teima em não devolver, mesmo depois de o ter prometido.

Outra certeza, é que logo no início de Setembro, o S.TO.P. juntará de novo os professores de Norte a Sul do país, para se perspetivarem democraticamente as futuras formas de luta para reaver os nossos direitos.

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