Contestação social irrompe na França

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Tal como fez antes Sarkozy, também Emmanuel Macron quer aumentar a idade de reforma na França para os 64 anos. Na realidade, a proposta já constava no programa ultra-liberal de Macron e o Presidente da França chegou mesmo a tentar aplicar a medida em 2019. Na altura, a França tinha também um movimento popular muito forte – o movimento dos Coletes Amarelos –, ao qual se juntaram também os sindicatos tradicionais para contestar esta medida que acabou chumbada.

Hoje, 70% da população é contra esta medida. A desculpa do governo de que esta reforma é necessária para “garantir a sustentabilidade do sistema de pensões” não convence ninguém. Especialmente tendo em conta que, a par do aumento do custo de vida e da inflação – que impõe uma redução geral nos salários –, os lucros das grandes empresas não param de aumentar. Como sempre, os governos colocam nos ombros da classe trabalhadora o ónus da crise económica, salvaguardando assim os seus lucros.

Contra o aumento da idade de reforma, as 8 maiores centrais sindicais chamaram a uma greve geral para o dia 19 de janeiro. Nesse dia, 400 mil pessoas juntaram-se ao protesto só em Paris, cerca de 1 milhão a nível nacional. Este dia marcou o início de um movimento que se tem expandido e radicalizado sob pressão das massas em luta. Ao 6º dia de greve geral, no 7 de Março, foram 3,5 milhões que saíram às ruas por toda a França para contestar não só o ataque às reformas como exigir um aumento generalizado nos salários. Alguns setores avançaram para greves por tempo indeterminado, como é o caso dos trabalhadores do setor da energia.

Do seu lado, o Governo responde com repressão e utiliza métodos anti-democráticos para impor o aumento da idade de reforma. Não conseguindo garantir uma maioria absoluta no parlamento, o Governo aplica o artigo 49.3, que permite a lei passar sem ser votada no hemiciclo. A oposição de esquerda, liderada por Mélenchon, já apresentou uma moção de censura à lei imposta pelo executivo, mas a oposição à medida está a ser travada nas ruas. 

Infelizmente, perante a radicalização do movimento, as direções dos sindicatos tradicionais nada fazem para o dinamizar e democratizar. Tal como em Portugal, o sindicalismo tradicional está demasiado próximo do Estado para lhe poder fazer uma real oposição. Por isso não chamam assembleias de base para discutir e organizar a luta; e limita a contestação apenas à questão das reformas e não ao aumento generalizado do custo de vida.

O que é certo é que os trabalhadores na França estão a dar um exemplo de combatividade e é urgente democratizar este crescente movimento para continuar fortes nas ruas, derrubar o aumento da idade de reforma e exigir uma resposta ao aumento do custo de vida.

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