Um Novembro quente, numa Europa ao rubro

Fazer uma forte greve geral e prosseguir a luta até derrubar os planos de austeridade devem ser os objectivos dos trabalhadores e da esquerda.

Superada a “novela” do Orçamento, com a previsível aceitação, por parte do PSD, em viabilizar o Orçamento de Estado para 2011, a atenção da população e dos media centra-se no calendário de luta dos trabalhadores e da juventude: 6 de Novembro (manif da Função Pública), 17 de Novembro (manif dos estudantes), 20 de Novembro (manif contra a NATO) e 24 de Novembro (greve geral).
É um calendário de fôlego, não fosse a orientação das direcções sindicais em circunscrevê-lo ao mês de Novembro e recusar-se a traçar um plano de luta que fosse num crescendo e colocasse o governo e o seu OE num impasse. A CGTP não convocou uma manifestação para o dia da greve, o que reduzirá o seu impacto político. Questionado sobre a intenção de fazer cair o governo com a greve geral, o presidente da CGTP, Carvalho da Silva, disse na imprensa que “essa questão não está colocada, nunca foi colocada”.

Exemplos europeus
A greve geral foi convocada em função da dureza das medidas incluídas no PEC 3, que trarão mais recessão e desemprego, mais pobreza e desigualdade social. Os exemplos dados pelas lutas na Grécia, Espanha e França, seguidos com admiração pelos trabalhadores portugueses, também serviram como elemento de pressão sobre a CGTP e a UGT na convocação da greve.
Mas, como demonstraram as lutas nesses países, para derrubar os planos de austeridades é preciso que as direcções políticas e sindicais da classe trabalhadora tenham esse objectivo e não hesitem em derrubar também os governos que os querem aplicar. Na Grécia, uma sucessão de greves e manifs gigantescas não convergiu para uma greve geral por tempo indeterminado, que colocasse o governo de Papandreou em xeque. Na Espanha, a greve geral de 29 de Setembro não foi seguida de novas mobilizações.
E na França, greves combativas e com piquetes, como a das refinarias, e manifestações com até 3 milhões de trabalhadores e jovens nas ruas ainda não conseguiram derrotar o plano de Sarkozy de aumentar a idade da reforma. Tudo porque as duas principais centrais sindicais recusam-se a convocar uma greve geral, por tempo indeterminado, isto é, até a derrota do plano de Sarkozy.

Eleições antecipadas
Ao contrário do que pensa Carvalho da Silva, para a direita a queda do governo Sócrates/PS está na ordem do dia. Depois de viabilizarem o OE, Pedro Passos Coelho e o PSD deverão, após as eleições presidenciais de Janeiro próximo, inviabilizar o governo e forçar a convocação de eleições antecipadas. Nessas, contam derrotar o PS, como sinalizam as sondagens.
Enquanto o governo Sócrates está a ser penalizado pelos planos de austeridade que está a aplicar, o mesmo não acontece com o seu parceiro de negócios. A massiva e mentirosa campanha feita pelo governo, a burguesia e os media de que a aprovação do OE era um mal necessário, sem o qual o país ficaria sem financiamento externo, os juros subiriam ainda mais, o FMI interviria, enfim, seria o caos, acabaram por favorecer o PSD. Habilmente, Passos Coelho e o PSD passaram a ideia de que foram obrigados a viabilizar o OE para não prejudicar o país, apesar de não concordarem com ele, e que tudo fizeram para minorar os seus efeitos.

Mentira tem perna curta
Mas a manobra do PSD – que só discorda do OE porque gostaria que penalizasse ainda mais os trabalhadores da Função Pública, retirasse mais benefícios sociais, acabasse de vez com o Serviço Nacional de Saúde e com a educação pública e fornecesse mais privilégios aos grandes empresários e à banca – não deverá durar muito tempo.
Se a brutal campanha sobre a necessidade de aprovação do OE foi vitoriosa, isso não significa que a população concorde com ele. Os trabalhadores e a maioria da população estão contra o OE e apoiam a greve geral contra as suas medidas. A sua disposição, indicada pelas sondagens, em votar no PSD – portanto na direita – não significa um giro à direita da sociedade, mas a forma – equivocada, com certeza – que encontram de castigar o governo. Revela a confusão política existente, que só a luta e a construção de uma alternativa de poder à esquerda poderão dissipar.

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