Sem unidade e os trabalhadores na rua, as manifestações e greves serão insuficientes 

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Os pacotes sucessivos do governo para maquilhar a grande perda de poder de compra dos trabalhadores, perante a crise inflacionista, poderão ter um efeito de criar um impasse na vontade destes passarem do sentimento de indignação para a mobilização nas ruas de forma objectiva.

O próximo Orçamento do Estado contempla uma real desvalorização dos salários e, por outro lado, um enorme benefício através de múltiplos mecanismos fiscais para os grandes empresários, ao mesmo tempo que se mantêm as ajudas aos bancos. Para além disso, não contempla um tabelamento dos preços da energia, dos combustíveis e dos bens essenciais, o que tenderá a encostar às cordas da pobreza os cidadãos que dependem do seu trabalho. Para agravar, com a política de recessão do Banco Central Europeu ao aumentar exponencialmente as taxas de juro, os preços do crédito à habitação estão a disparar.

Mas se as migalhas de Costa podem criar uma anestesia à espera de melhores dias, a esquerda não pode cair no adormecimento das declarações mediáticas nos corredores do Parlamento. Existindo uma maioria absoluta a voz dos trabalhadores nas ruas torna-se ainda mais necessária. 

As manifestações de 15 de Outubro convocadas pela CGTP ficaram muito aquém das necessidades. Foram publicitadas de forma reduzida e onde participaram, essencialmente, os dirigentes, delegados e activistas sindicais se seguirmos este caminho, quem sairá por alto será a direita e a extrema direita. Estes com a sua boçalidade conhecida têm adoptado uma postura hipócrita e oportunista reclamando que os salários e as pensões devem ser aumentadas pelo menos ao nível da inflação, no entanto quando confrontados com votações no parlamento para subirem esses valores acabam por votar contra. Mas o trabalhador comum está, por hoje, mais atento às palavras que saem nas manchetes jornalísticas do que a essa contradição. Se nos mantivermos fora das ruas, o oportunismo reacionário vai sair como a oposição, e, portanto, como alternativa ao governo.

Este 2 de Novembro tivemos uma greve de professores convocada, com uma concentração em frente do parlamento no mesmo dia, mas mais uma vez sem chamar todo o restante sindicalismo e, novamente, a FENPROF chama a concentração apenas para dirigentes, delegados e activistas sindicais, tal e qual se lê na resolução da federação sindical de professores. Para dia 18 de Novembro, está também convocada uma greve da Frente Comum da administração pública, ainda sem mobilização convocada. 

Assim, passamos de uma manifestação que se devia dirigir para todos os trabalhadores, para greves por sectores e com mobilização apenas para o aparelho sindical.

O MAS volta a desafiar toda esquerda partidária e sindical, que o momento tem de ser de unidade… para lutar. O MAS continuará a apoiar todas as mobilizações mas reflecte que não são suficientes nem na intensidade nem no conteúdo. Têm de ser mais, mais publicitadas, mais participadas na sua convocação através da auscultação dos trabalhadores. 

Com o PCP, o BE a CGTP e muitos outros sindicatos independentes estamos de acordo com a necessidade de aumento imediato dos salários que no mínimo cubra a inflação, que se faça o tabelamento dos preços de bens essenciais e se forcem os lucros imorais a contribuir para o esforço de diminuir os preços dos combustíveis e energia, e inclusive o necessário investimento no SNS. 

Sendo assim, é impreterível que convoquemos de forma conjunta mobilizações nacionais que dêem força aos trabalhadores em crescendo, retirando a hipocrisia à extrema-direita de aparecer como oposição e, mais importante, conquistar do governo essas reivindicações. 

Há que acordar a esquerda, vamos à luta!

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