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As mulheres perdem mais na pandemia: é preciso construir a Greve Internacional de Mulheres

Os alertas foram dados desde o início e hoje os dados estão disponíveis: a pandemia veio agravar e muito as condições de vida das mulheres em todo o mundo. Portugal não é exceção.

O próprio FMI alertou que a crise económica precipitada pela pandemia pode vir a comprometer os avanços no combate à desigualdade de género dos últimos 30 anos, apontando entre os principais fatores o facto de as mulheres serem a grande maioria da força de trabalho nos setores mais afetados pelo confinamento (como serviços, retalho, restauração, hotelaria e limpezas), empurrando-as mais facilmente para o desemprego e o layoff. A preponderância das mulheres na rea­lização do trabalho doméstico não remunerado, com responsabilidades acrescidas nos cuidados a crianças e idosos durante o confinamento, implica não só uma sobrecarga, mas também um maior risco de perder o emprego. Ao mesmo tempo, a ONU aponta que 7 em cada 8 países estão a falhar na miti­gação do impacto da pandemia na vida das mulheres, sobretudo ao nível da segurança económica, mas também quanto à violência doméstica e à sobrecarga dos cuidados não remunerados, estimando que a taxa de pobreza entre as mulheres aumente para 9,1%.

Em Portugal, estas tendências confirmam-se. De facto, existe uma maioria de mulheres em serviços que não permitem o teletrabalho, tanto nos que foram encerrados ou fortemente limitados durante o confinamento, como cabeleireiros, esteticistas e limpezas (90%), balcões de lojas e comércio (64%), como nos particularmente expostos ao vírus, como auxiliares de saúde (92%), enfermeiras (82%), médicas (55%), prestadoras de cuidados a idosos e dependentes (80%) e serviços de subsistência (supermercados), restauração e hotelaria (65%).

A par disso, 85% das famílias monoparentais são sustentadas por mulheres. Em relação ao emprego, segundo a Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres, entre Fevereiro e Abril de 2020, foram extintos 49,9 mil postos de trabalho, 89,4% dos quais ocupados por mulheres. As mulheres representam já 57% da população desempregada no país. Também segundo dados do INE, as mulheres representaram 62% dos 644 mil ausentes do trabalho no segundo trimestre do ano, por ocuparem postos em que não era possível nem o teletrabalho, nem a ida ao emprego, registando-se uma forte incidência do layoff, mas também, segundo dados da Segurança Social até Junho, uma grande maioria de mulheres a ficar em casa para cuidar de menores (162,7 mil mulheres e 37,8 mil homens).

Todos estes dados confirmam que a situa­ção social e laboral das mulheres em Portugal se tornou ainda mais instável e precária. No entanto, os problemas não terminam aí: em Portugal as mulhe­res ganham atualmente menos 14,4% do que os homens (148,9 euros em números absolutos). A lei criada em 2018 para proibir a discriminação salarial dentro de cada empresa não resolve nem o facto de as mulheres estarem sujeitas a uma forte segregação laboral, ocupando postos de trabalho maioritariamente precários, onde se recebe o salário mínimo sem possibilidade de progressão na carreira, nem o problema da discriminação que sofrem muitas mulhe­res por serem mães.

Face a este cenário, não é de admirar que também a nível da saúde mental as mulhe­res tenham sido mais afetadas do que os homens, sobretudo as mais pobres. Ao receio do vírus, soma-se a exclusão social, a falta de condições na habitação, o perigo de perder o emprego com o fecho de empresas, o medo dos cortes nos salários, a insegurança dos contratos de trabalho, a sobrecarga dos cuidados familiares. É urgente exigir melhores condições para as mulheres trabalhadoras, combatendo as desigualdades de género.

CONSTRUAMOS A GREVE DE MULHERES DE 8 DE MARÇO

Por:
– aumento do salário mínimo para 900€
– fim do trabalho precário
– criação de rede pública e gratuita de creches e lavandarias
– reforço dos apoios sociais a famílias monoparentais e mães desempregadas
– aumento da habitação social digna
– reforço dos meios humanos e materiais do SNS
– fim dos ataques aos direitos de maternidade

 

Originalmente publicado na revista Ruptura nº157

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