Amazónia e o planeta numa encruzilhada

Nestes últimos dias, pessoas de todo o mundo têm manifestado a sua preocupação sobre a tragédia que representa a destruição da Amazónia, sobretudo através dos recentes incêndios.

Esta floresta, que é a maior floresta tropical do mundo, tem uma importância fulcral para a biodiversidade global, representa um grande reservatório e sumidouro de carbono (gases com efeito de estufa), preservação de populações indígenas, regulação do clima regional/global, etc. sem contar com todo o potencial (ainda incalculável) para a ciência (nomeadamente, das áreas de saúde).

Mas infelizmente não só a Amazónia tem sido destruída, todas as florestas tropicais (África e Sudeste Asiático) têm sido destruídas, algumas a ritmos até superiores ao da Amazónia. Ou seja, esta destruição é um problema global não apenas da Amazónia mas de todas as florestas tropicais (sem contar com as de outras latitudes, como por exemplo na Europa ocidental onde cerca de 99% das suas florestas naturais foram destruídas).

Mas qual a causa (global) da destruição das florestas tropicais no passado e no futuro?

Os interesses económicos de grandes empresas do agronegócio, da pecuária, das madeireiras, entre outros, são os principais causadores da destruição das florestas tropicais, incluindo a Amazónia. Logo, não será de estranhar que sejam estes interesses os maiores impulsionadores da maior parte destes incêndios criminosos que assolam a Amazónia. Tem sido, aliás, uma prática globalmente conhecida e publicamente documentada e divulgada por meios de comunicação mundiais. No entanto, uma muito maior destruição da Amazónia (e de outras florestas) poderá estar para vir (e de uma forma irreversível) se a temperatura média do planeta aumentar mais de 3ºC (relativamente à época pré-industrial). Apesar dos acordos em torno do clima, claramente insuficientes (ex: Acordo de Paris), o aumento da temperatura do planeta não será evitado se os combustíveis fósseis continuarem a ser utilizados como principal fonte energética dos países mais industrializados do mundo, com as suas grandes empresas a beneficiarem do negócio do petróleo. Reconhecendo o enormíssimo poder económico (e, por consequência, político e mediático) que estas grandes empresas, associadas ao petróleo, (que, na prática, de alguma forma, estão no poder nos países industrializados) alguém acredita que eles irão permitir a transição energética urgente e fundamental do sistema capitalista, prejudicando os seus astronómicos lucros?

Não se combate cancros com aspirinas

Não podemos aceitar atitudes complacentes com o Governo Bolsonaro, como fez Marcelo Rebelo de Sousa, referindo-se a Bolsonaro como “irmão”, quando este, mesmo antes de ser eleito, já tinha como plano acelerar a exploração/destruição da Amazónia. Não podemos aceitar a condescendência diplomática do Governo PS que, mesmo afirmando-se de esquerda, não se atreve a denunciar os responsáveis por esta catástrofe mundial, como forma de não perder uma fatia das riquezas brasileiras.

O Governo PS, ao invés de se esconder atrás das diplomacias, deve condenar o Governo Bolsonaro e a situação de calamidade que se vive no Brasil, responsabilizando-o pela destruição do pulmão do planeta. Mas não basta. O Governo PS deve ser consequente com aquilo que diz e investir na protecção das nossas florestas, combatendo a monocultura de eucalipto em que se transformaram, combatendo as culturas intensivas (olival e outras), anulando todas as prospecções de combustíveis fósseis e minerais (petróleo, lítio, etc.), e investir imediata e seriamente na total transição energética até 2030. As direções de BE e PCP, por sua vez, estão aquém do necessário, dado que, em 4 anos, não foram capazes de romper com o apoio a um Governo PS que pactua com os empresários, donos do imenso eucaliptal e olival intensivo em que o país se transformou.

O PAN, o partido que tem sido colocado como a vanguarda da ecologia em Portugal, encerra a resolução do problema precisamente na resposta diplomática . É preciso dizer a verdade, não se defende a Amazónia ou o planeta com pressões diplomáticas. Mais uma vez, veja-se o resultado do Acordo de Paris, um acordo sobretudo diplomático, que é praticamente nulo. De que servem as pressões diplomáticas sobre os governos, cujo interesses têm sido responsáveis pela própria destruição do planeta? Servirão apenas para lhes conferir a imagem ilusória de que estes governos serão capazes de reverter o problema que os seus próprios interesses causam sistematicamente. Desenganemo-nos, os poderes económicos e políticos que nos têm governado não conseguirão inverter o sentido dos seus interesses: o lucro acima de tudo, inclusive acima do planeta.

É preciso ter a coragem de ir à raiz dos problemas que põem em causa não só a Amazónia mas também outros biomas (e o próprio planeta como o conhecemos). Enquanto 99% do poder económico e político estiver na posse de 1%, não teremos descanso como trabalhadores, nas nossas condições de trabalho cada vez mais precárias, e como seres vivos neste planeta. Um dos passos fundamentais é a mobilização dos povos, sobretudo das classes que vivem do seu trabalho e mais sofrem com as consequências das alterações climáticas. Através das mobilizações, a nível mundial, começa a ver-se alguma reação dos poderes económicos e políticos instalados. O Governo Bolsonaro que, há dias, dizia ser inevitável a queima descontrolada da Amazónia, vê-se obrigado a mobilizar alguns meios de combate aos incêndios. Mas não nos iludamos, não é suficiente. Precisamos de mobilização permanente e solidária, entre os povos, a nível internacional, para derrotar os interesses que Trump e Bolsonaro representam, para derrotar os seus governos e a sua política.

Hoje, terá lugar em Lisboa, às 18h, no Largo Camões, uma concentração em defesa da Amazónia. O MAS apela à participação de todos e todas nesta mobilização. O dia 27 setembro será mais um marco internacional importante com a greve climática estudantil onde, pela primeira vez, em Portugal, além dos estudantes, se juntaram trabalhadores e trabalhadoras. Temos de travar os Trumps e Bolsonaros para travar a destruição do planeta!

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