Sim, em grande medida, mas quais as razões? Esta é uma das questões centrais que se coloca na actual situação política europeia. Na verdade a direita cresce porque a esquerda desistiu de dar voz aos oprimidos e descontentes em toda a Europa e em todo o Mundo. Principalmente a esquerda que capitulou ao sistema e se adaptou aos actuais regimes de privilegiados.
É verdade que cada vez mais pessoas votam e apoiam partidos de extrema-direita que têm surgido por todo o lado como cogumelos. Mas, quem são as bases destes partidos populistas? São os operários e os oprimidos que se sentem afundar nas águas do neo-liberalismo e do capitalismo. São aqueles a quem os governos por eles eleitos retiram direitos e atiram para a pobreza. As instituições tradicionais que deviam defender e lutar pelos seus direitos (sindicatos e partidos de esquerda) optam agora por colaborar com o patronato e com os governos (veja-se o caso do BE e do PC em Portugal que apoiam um governo PS pró sistémico e pró-UE) e o resultado é que o número de sindicalizados, em vários países e também nos Países Baixos é insignificante e os operários, oprimidos e descontentes deixaram de votar em partidos com uma tradição de esquerda e, ou se abstêm, ou votam nos partidos conservadores de extrema-direita que lhes prometem soluções populistas.
O primeiro partido populista que surgiu na Holanda (de onde escrevo esta crónica) é o PvV (Partido para a Liberdade), partido autocrata, sem militantes e sem estatutos, a segunda força política nos Países Baixos, que canaliza o descontentamento dos pobres e operários em xenofobia contra imigrantes e, em especial, em Islamofobia. Na opinião de Wilders, o País deve ser devolvido ao povo nativo. Soa familiar?
Há dois anos surgiu um novo partido, o FvD (Fórum para a democracia), liderado por Thierry Baudet, um jovem político (historiador e jurista) de extrema-direita, que discursa em Latim no Parlamento e que é popular na classe média alta e intelectual conservadora e nacionalista. Atualmente o FvD têm dois deputados no Parlamento e foi o partido mais votado nas eleições de 20 de Março último para os governos das Províncias que, por sua vez elegem os Senadores da Primeira Câmara. Baudet tem, portanto, a maioria dos Senadores e estes têm de aprovar/ reprovar as Leis que são aprovadas no Parlamento. Desta forma, a concretização dos planos do governo atual depende do voto do FvD. Este partido defende o Nexit, o fecho das fronteiras a todos os imigrantes/refugiados, a reposição dos valores e tradições cristãs e de raíz nacional, nega a mudança climática, criou um número de telefone especial para estudantes, para denunciarem os professores que sejam manifestamente de esquerda e denomina os setores da Cultura e do Jornalismo de lobby’s supérfluos e esquerdistas. Soa familiar?
Por outro lado, no Parlamento, o governo, coligação de direita com maioria relativa, depende do voto do SGP, Partido Protestante Fundamentalista – contra a participação da mulher na vida pública e política, contra o aborto, que condena a prática homossexual, considera a homossexualidade uma aberração, e que nas suas escolas ensina exclusivamente a teoria Criacionista. Darwin? Evolucionismo? Blasfêmia! Constituição? A Bíblia!
As forças políticas que se confrontam na arena pública são o Fórum para a Democracia e o Esquerda Verde. Este último quer acelerar a transição para o uso de energias renováveis e defende o acolhimento de refugiados, atrai bastantes jovens estudantes e a classe média intelectual, mas não o cidadão comum, porque não têm em consideração que os elevados custos dessa transição, são demasiado elevados para a maioria da população.
E a Esquerda? Dizimada nas últimas eleições! O Partido Socialista (neste país, de origem maoista) e o Partido do Trabalho ficaram de rastos e o poder e influência dentro e fora do Parlamento são insignificantes e incapazes de mobilizar as massas para protestar contra a subida da idade da Reforma, contra o trabalho precário e contra a situação de ruptura nas áreas da Saúde e da Educação e por uma política Ecologista. São partidos sem opinião e sem alternativas.
O Partido Socialista, que já foi o estandarte da Esquerda Revolucionária nos Países Baixos é hoje uma manta de retalhos: uma amálgama de pequenos grupos de esquerda divididos por temas como a Imigração, Refugiados, Ecologia, etc. Esta divisão interna e ausência de uma visão global e de um objetivo comum paralisam o Partido. Um desses grupos é o Alternativa Socialista que defende pontos de vista semelhantes aos do MAS (em Portugal), mas que, no nosso caso da Holanda é mais uma seita secreta ausente na discussão dos grandes temas. Panfletos? Não! Jornal? Não! Página no Facebook? Sim! … poucos seguidores…
Os povos abandonam a esquerda, porque a Esquerda os abandonou!
Como combater a extrema-direita? Dando voz aos operários e aos oprimidos, manifestando a nossa solidariedade e integrando as suas/nossas lutas! Sendo uma Alternativa!
Graça Martins (na Holanda)
12/04/2019