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Pela liberdade de imprensa: contra a censura feita por Jair Bolsonaro

No dia 2 de Janeiro, no final do Jornal Nacional, no Brasil, William Bonner deu a notícia de que Jair Bolsonaro fez o seu primeiro decreto presidencial “aumentando o salário mínimo”. Bonner só esqueceu de informar que o “aumento” era, na verdade, uma redução. Já que o salário mínimo para 2019 aprovado no orçamento da União para esse ano era de R$ 1.006.

A arte do esquecimento se fez presente na cobertura de praticamente todos os telejornais. Ao serem anunciados os ministros do atual governo, se esqueceram os envolvimentos em escândalos de corrupção e a grande presença dos militares. Ao se falar sobre a família Bolsonaro, se esqueceram dos recentes escândalos de corrupção envolvendo o clã Bolsonaro, que tudo indica, serão esquecidos e jogados para debaixo do tapete. Da mesma forma, a grande mídia esqueceu as fake news, o abandono dos debates, e resolveu tratar isso como um “método nada convencional de fazer campanha eleitoral”. Foi o melhor exemplo de jornalismo chapa branca.

Ainda antes do fim do telejornal de maior audiência do país, Bonner declarou como era bom ser jornalista, e como estava orgulhoso da cobertura feita pelos seus colegas naquele dia tão importante. Bonner novamente esqueceu do tratamento humilhante que centenas de jornalistas tiveram neste dia primeiro.

Em nome de uma suposta segurança, a equipe que preparou a posse de Bolsonaro restringiu o trabalho da imprensa, impondo diversos limites à atuação dos profissionais. Jornalistas chegaram a ficar confinados por sete horas, esperando o início dos eventos de posse.

Ficou proibido o deslocamento de jornalistas entre o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Palácio do Itamaraty. Aqueles que tinham a credencial de um desses locais, não conseguiu se deslocar até o outro. Houve casos em que repórter, cinegrafista e auxiliar de cinegrafista da mesma emissora foram colocados em salas completamente diferentes, sem poderem se deslocar ao local que o outro colega estava.

A Secretaria de Comunicação da Presidência, junto da equipe de transição definiram de forma unilateral e impositiva quais locais cada jornalista poderia cobrir. Porém, esse tratamento não foi dado a todos veículos de comunicação, nem a todos jornalistas. Um pequeno grupo recebeu uma credencial VIP, que sinaliza que poderiam seguir Bolsonaro e todo evento sem restrição. Estes jornalistas são em imensa maioria de veículos conservadores, ou de veículos que apoiam o capitão da reserva. Ou seja, para os opositores, censura e limitações ao trabalho. Para os apoiadores, toda liberdade.

Os jornalistas tiveram que levar toda a comida que usariam durante o dia em um saco transparente, visto que não seria servido lanche. Não foi permitido aos jornalistas levarem garrafas d’água e as cadeiras para eles sentarem enquanto aguardavam por longas horas foram retiradas. Os jornalistas tiveram que sentar no chão e utilizar um único banheiro que estava disponível.

A jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, relatou que a assessoria do Planalto recomendou que os fotógrafos não erguessem demais suas máquinas, pois isto poderia ser identificado como um movimento suspeito que “poderia levar um sniper (atirador de elite) a abater o alvo”. E esta fala dita pela assessoria do Planalto deixou em choque muitos de seus colegas de profissão.

Trump, Orban e Bolsonaro: inimigos da imprensa

Antes mesmo de assumir a Presidência, Bolsonaro bloqueou no twitter diversos jornalistas críticos a suas medidas, impedindo assim que estes acompanhassem os primeiros passos daquele que seria o futuro governo. Nos Estados Unidos, Trump foi obrigado pela Justiça a desbloquear jornalistas no twitter e a devolver a credencial para um jornalista da CNN que, por fazer críticas ao governo, havia sido proibido de cobrir as coletivas na Casa Branca.

A extrema direita mundial tem um apreço especial pelos ataques a jornalistas. Trump chegou a chamar parte da imprensa de “inimiga nacional”, e a gravar um vídeo no qual ele nocauteia em uma briga de boxe um adversário que estava vestindo uma roupa da CNN, um dos principais alvos do presidente norte-americano.

Recentemente, em uma manifestação nunca antes vista na história dos Estados Unidos, mais de 300 editoriais de jornais seguiram com críticas a forma autoritária que Donald Trump lida e ataca a imprensa.

Na Hungria, Viktor Orban mudou regras no setor da mídia para sufocar jornais húngaros de oposição. Em seguida, muitos desses jornais foram comprados por empresários alinhados ao governo.

Ataques à imprensa antes mesmo da posse

Bolsonaro faz diversos ataques à imprensa, chamando de “petista” qualquer jornalista que ouse o criticar, chamando a mídia de “esquerdista” e comprada pelo Foro de São Paulo, caso as matérias de um determinado veículo tenha qualquer teor crítico ou de questionamento. É corriqueiro também a tática de chamar de fake news qualquer notícia que desgoste. Bolsonaro pinta a mídia e o jornalismo crítico como inimigos do governo e com as cores dos adversários políticos, uma atitude perigosa para a democracia.

Após a Folha de São Paulo publicar uma matéria sobre empresários que estavam bancado campanhas digitais anti-PT ao comprar disparos em massa no Whatsapp, o presidente eleito twittou: “a mamata da Folha de São Paulo vai acabar, mas não é com censura não. O dinheiro público que recebem para fazer ativismo político vai secar”. E como de costume, afirmou que a matéria era uma fake news petista.

Muitos jornalistas que criticam ou simplesmente fazem alguma matéria mais detalhada sobre o clã Bolsonaro é alvo de ataques nas redes sociais.

A jornalista Patrícia Campos Mello, autora da matéria da Folha, foi alvo de processo de Bolsonaro, e teve suas redes sociais atacadas e roubadas por seguidores de Jair. Outro que também sofreu com a fúria da família Bolsonaro foi o jornalista da revista Época Bruno Abbud.

Abbud fazia uma reportagem especial sobre a vida de Carlos Bolsonaro. O filho do presidente expôs os perfis de Abbud por meio de seu twitter, e apenas alguns minutos depois diversas mensagens, ofensas e ameaças chegavam ao jornalista.

É preciso denunciar a forma que Bolsonaro e sua equipe tratam os jornalistas. Assim como é preciso que as forças progressistas levantem a bandeira da democratização da mídia, visto que a grande mídia detém, no Brasil, o monopólio da comunicação e que esta grande mídia tem como dono muitos empresários, políticos que acabam controlando o que chega e como chega na casa dos milhares de brasileiros.

Também é de extrema importância o apoio às diversas formas de mídia alternativa independente, para que possa ser possível enfrentar o monopólio da mídia e da informação.

Artigo de Amanda Audi publicado originalmente no Esquerda Online

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