Após as eleições parlamentares que ocorreram no começo de junho, a Eslovênia encontra-se em estado de indefinição sobre os rumos do país. Em primeiro lugar, ficou a extrema-direita conservadora, de Janez Jansa, o Partido Democrático da Eslovênia, com 25% dos votos. Em segundo ficou o comediante e jornalista Marjen Sarec, cuja lista fez 12,6%, seguidos pelos Social Democratas com 10%, o Centro Moderno (ex-governo) com 9,7% e a Esquerda (Levica) com 9,3%. Outros partidos menores também entraram no parlamento, mas com menor representatividade.
Apesar da vitória eleitoral, a extrema-direita terá apenas metade dos parlamentares suficientes para governar, necessitando estabelecer uma coalizão com outros partidos para atingir o mínimo de 50% + 1 do parlamento. Contudo, a maioria dos partidos já manifestou que não irá participar de um eventual governo com Jansa e prometem criar uma coalizão ampla alternativa.
O fato é que a Eslovênia confirmou a tendência de crescimento de alternativas de extrema-direita e islamofóbicas nos países mais atingidos pela crise dos refugiados. Seus vizinhos – Áustria, Hungria e Itália – têm governos em que a extrema-direita se encontra ou como membro majoritário ou minoritário da coalizão.
Jansa é aliado de Viktor Orban, primeiro-ministro de extrema-direita da Hungria, que desde 2010 vem transformado o país em um semi-bonapartismo com explícito conteúdo anti-imigração e islamofóbico. Orban apoiou muito a candidatura de Jansa, pois quer que a Eslovênia, que faz fronteira com a Hungria, impeça mais ainda a chegada de refugiados em seu país. A Eslovênia está na rota de chegada de refugiados para a Europa Central, que vem da Grécia e passa pelos Balcãs.
Jansa já foi primeiro-ministro duas vezes, com um programa mais de centro em relação à imigração e, recentemente, foi preso por seis meses devido à uma condenação por corrupção. Mesmo assim, o presidente esloveno Borut Pahor afirmou que irá conceder o direito democrático à Jansa para tentar formar um governo.
Contudo, não está claro que ele será bem-sucedido. O jornalista e comediante Marjan Sarec, cujo partido ficou em segundo, com 12,6% dos votos, afirmou que irá conclamar outros partidos no parlamento para formar uma coalizão alternativa de centro-esquerda, que englobaria também a Social-Democracia, a Esquerda (Levica), o Centro Moderno e outras siglas menores.
Apesar da iniciatica de Sarec, existe a dúvida se esta coalizão de fato será efetivada. O partido Esquerda (Levica) tem divergências internas quanto à possibilidade de entrar em uma coalizão com partidos burgueses. Em entrevista, o militante do Levica Mark Krzan, declarou que: “Apesar da recuperação econômica, é evidente que o modo capitalista de produção está em profunda crise. Todos, incluindo a esquerda liberal, devem compreender que a “normalidade” não pode ser salva com mais políticas liberais de esquerda, porque ela é justamente baseada na exploração e expropriação da maioria da população. Está ficando cada vez mais difícil reproduzir esse regime de exploração (e modo de acumulação) com meios “liberais democráticos”. As pessoas devem compreender que esse regime de exploração deve ser aniquilado ou deixado para ser governado pela ´direita populista´.”
Por último, é preciso apontar que, apesar do avanço da extrema direita na Eslovênia, ela não teve a ascensão meteórica que era esperada. O partido de Jansa teve apenas 4% de votos a mais que nas eleições de 2014. Já o partido anti-muçulmanos, mais radical, teve apenas 4,2% e não superou a cláusula de barreira para entrar no parlamento.
Portanto, não está garantido que Jansa de fato conseguirá formar uma coalizão de governo. Por outro lado, como dissemos, também não está claro que os partidos de centro e esquerda irão concordar em formar uma coalizão alternativa, dada a posição da Esquerda (Levica).
Nesse contexto, se ambas coalizões falharem, novas eleições não estão descartadas. O que está claro, porém, é que a União Europeia e seus países membros se encontram na mais delicada crise política de sua existência, com a Eslovênia confirmando a tendência que atingiu os outros países do bloco no último período.
Victor Amal, de Berlim, Alemanha – Esquerda Online
Foto: Janez Jansa