No passado dia 13, os EUA, acompanhados pela França e o Reino Unido, bombardearam a a província de Homs, nos arredores de Damasco, capital da Síria. A justificação é o suposto uso de armas químicas por parte do Governo de Bashar Al-Assad. No dia seguinte aos bombardeamentos, através da sua conta do twitter, Trump afirmou: “missão cumprida”. Supostamente terão sido destruídas as instalações onde se produziriam armas químicas. Jammes Matis, secretário da Defesa dos EUA, admitiu ainda que alguns dos mísseis atingiram por engano um centro de investigação em Barze, onde existia um laboratório e um centro educativo.
O MAS repudia totalmente este ataque criminoso e exige a retirada de todas as intervenções militares na Síria: não só os EUA mantém tropas e especialistas militares no Norte do país, como a Rússia, o Irão intervêm militarmente na Síria desde 2013. A Turquia, recentemente também interveio no norte do país. Nenhuma destas intervenções estrangeiras ajudou nem vai ajudar o povo sírio, que tem sido vítima de todas elas. Por isso dizemos não a todas as intervenções estrangeiras no país, a começar pelo hipócrita ataque de Trump, May e Macron.
Tal como em 2003 a invasão do Iraque foram justificadas por uma campanha de mentiras sobre a existência de “armas de destruição massiva” no país, hoje as supostas “armas químicas” de Assad, são também uma justificação hipócrita. Não podemos negar com certeza a existência e o uso de armas químicas por parte do governo sanguinário de Assad. Porém, também até agora ninguém o pode provar. De resto, os ataques foram feitos um dia antes do início de uma investigação por parte da Organização para a Proibição de Armas Químicas na Síria Na prática, os bombardeamentos impediram que tal investigação se desse.
O verdadeiro objetivo dos Governos Norte-Americano, do Reino Unido e da França é reforçar a sua influência militar na região e cercear a presença cada vez mais ostensiva de Putin e do Irão na Síria. A Rússia e o Irão intervém na Síria, não para combater o fundamentalismo islâmico – basta lembrar que o Irão é uma teocracia islâmica e que combate na Síria ao lado do Hezbollah (“partido de deus”) – mas sim para reforçar a sua influência na região. A Rússia quer manter e fortalecer as suas bases militares e navais da Síria, que lhe dão acesso ao Mediterrâneo. O Irão quer ganhar força na sua disputa regional contra a Arábia Saudita, aliada dos EUA. Ambos, querem que sejam as suas empresas a beneficiar da reconstrução do país. As potências ocidentais também querem uma parte dos lucros da reconstrução e sobretudo, querem manter o seu controlo da região tal como a segurança da Israel e da Arábia Saudita, seus aliados. EUA atacam a Síria não para derrubar Assad, coisa que, se quisessem, já teriam feito há muito, mas para retiraram espaço dos seus aliados, sobretudo o Irão, tido pela Casa Branca como um alvo a abater.
Governo português mostra-se cobarde e submisso
Perante isto, a posição do Governo Português é vergonhosa e até cobarde. Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que “Portugal compreende as razões e a oportunidade desta intervenção militar”. Na prática, trata-se de um apoio, ainda que envergonhado, à intervenção criminosa de Trump. Marcelo Rebelo de Sousa reforçou a posição do Governo. Igualmente cobarde é a posição de António Guterres, “socialista” e Secretário-Geral da ONU, que não condenou o ataque feito à revelia da ONU. O CDS-PP compartilhou a posição do Governo e de Marcelo e o PSD, sempre mais excitado com guerras, “apoia sem ambiguidades” a iniciativa de Trump. Os mais altos representantes da elite portuguesa mostram-se, como sempre, prostrados aos pés do imperialismo Norte-Americano e Europeu.
A esquerda tem de ser consequente na sua oposição à guerra
A esquerda teve uma posição distinta. Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, comparou, com razão, os bombardeamentos à “guerra da mentira do Iraque”. Jerónimo de Sousa, no mesmo tom, repudiou “a posição seguidista do Governo português” e exigiu que este se “demarcasse claramente dela”. Ainda que o PCP fique calado quando as agressões vêm do lado de Putin ou de Assad, desta vez tem toda a razão e subscrevemos as suas palavras. A esquerda deve exigir que o Governo se demarque desta agressão imperialista e que repudie a política agressiva de Trump. Essa exigência não deve ficar pelo Parlamento, é preciso construir um movimento contra as agressões imperialistas, venham elas de Trump e das potências ocidentais, venham elas da Rússia ou de outros potências com planos imperialistas.
Mas tão ou mais importante é a esquerda começar a tirar conclusões. Porque se é verdade que BE e PCP condenam a posição do Governo, também é verdade que o continuam a apoiar. As palavras “duras” contra a guerra perdem força quando se apoia um Governo conivente com essa mesma guerra. O mesmo é válido no que diz respeito ao objetivo de reduzir o défice para 0,7% ou também no caso das leis laborais. BE e PCP continuam a discordar do Governo em diversas matérias essenciais como estas. Mas o PS sente-se à vontade para fazer o que quer, porque PCP e BE são inconsequentes com a sua crítica. Este Governo não só não virou a página da austeridade, como pelos vistos não virou a página da subserviência à política da guerra. E se é verdade que o Governo é complacente com Trump e os seus amigos imperialistas, também é verdade que PCP e BE são complacentes para com o Governo.
Um Governo que se curva perante as imposições económicas de Bruxelas e Berlim e que apoia aos bombas assassinas de Trump não merece o apoio da esquerda. É preciso que a esquerda parlamentar mude de estratégia e aposte na luta e na mobilização. O apoio ao PS não permite uma luta consequente por direitos e contra a guerra imperialista. Só através da mobilização podemos conquistar direitos, assim como lutar pelo fim as agressões militares, pela saída de Portugal da NATO e por uma Europa dos Trabalhadores e dos Povos, sem muros, guerras nem austeridade!