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O Dia da Mulher é dia de luta! Não queremos flores, queremos direitos!

Em pleno século XXI, até o olhar mais desatento se apercebe que vivemos um momento dramático da história da humanidade: são inúmeros os ataques a direitos elementares ao nível do trabalho, da saúde, das liberdades democráticas. Esta ofensiva internacional é acompanhada por discursos proteccionistas (nacionalistas em muitos casos, como em França, na Alemanha ou na Itália), anti-emigração, xenófobos e machistas. Todo este movimento regressivo desenrola-se tendo como pano de fundo a crise de refugiados (são mais de 65 milhões em todo o mundo…) e a sangrenta guerra na Síria.

Neste contexto, o mais expressivo movimento à escala mundial que parece mover-se em contra-ciclo é o das mulheres. São elas quem está à cabeça dos movimentos de resistência: seja contra Trump nos EUA, contra os feminicídios por toda a América Latina, contra as leis proibicionistas em relação ao aborto na Polónia; seja pela libertação da Palestina, pelos direitos laborais e pela melhoria das condições de vida. São tantos os exemplos e tantas as mulheres em luta que hoje podemos realmente falar de um movimento internacional de mulheres.

Em Outubro de 2016, milhares de mulheres organizaram na Polónia uma greve em protesto contra o projecto-lei que visava criminalizar o aborto em qualquer circunstância. Aliado ao movimento “ni una menos” na Argentina, a luta destas mulheres inspirou a convocatória de greve internacional de mulheres no dia 8 de Março de 2017, à qual aderiram quase 60 países, e que se baseava na greve ao trabalho doméstico e a todas as tarefas socialmente atribuídas às mulheres. No ano passado, o Dia da Mulher foi assinalado com manifestações e concentrações em milhares de cidades em todo o mundo, tendo como palavras de ordem “fim da violência sobre as mulheres”, “fim da desigualdade salarial”, “contra o trabalho doméstico não remunerado”, “pela igualdade de género”, e exigências de âmbito mais alargado, como o fim de todas as formas de opressão (racismo, LGBTfobia, xenofobia, etc.).

Nos últimos anos vimos milhares de mulheres sair à rua como não víamos desde os protestos dos movimentos feministas dos anos 1960 e 1970. As manifestações do movimento “Ni una Menos” na América Latina, as grandes manifestações na Índia em 2014 contra as violações e os protestos das mulheres anti-Trump nos EUA em 2016 são disso exemplo. No ano passado, também em Portugal tivemos um 8 de Março como talvez nunca havíamos tido, com marchas de mulheres em várias cidades do país.

Mais recentemente o mundo abriu a boca de espanto quando nos EUA as campanhas #MeToo, #UsToo e #TimesUp trouxeram a público escândalos de assédio e violência sexual protagonizados por figuras públicas de relevo, como Harvey Weinstein e vários actores de Hollywood. O espanto é hipócrita porque estes movimentos apenas tornaram visível aquilo que a maioria das mulheres já sabia e que a sociedade (quanto mais não seja por omissão) aceita e consente – a violência quotidiana sobre as mulheres que os diversos sistemas judiciais não combatem, desvalorizam e escondem.

Falta, portanto, dar voz às mulheres que, sofrendo os mesmos ou piores males, têm medo de falar e sofrem caladas o passar dos dias. A luta feminista, a par de toda a luta contra as mais variadas formas de opressão é, na sua última instância, uma luta contra a estrutura sócio-económica em que vivemos, é uma luta anti-capitalista. No caso, a luta das mulheres – metade da Humanidade – representa um abalo profundo no capitalismo porque questiona os seus pilares essenciais – o lucro, a divisão social do trabalho, família como a conhecemos, a educação, os costumes e tradições, a religião…

Como funcionaria a economia mundial se as mulheres parassem de fazer o que lhes é social e injustamente atribuído? Este é o desafio do apelo à greve internacional de mulheres: tomar consciência da invisibilidade do trabalho feminino, do trabalho que as mulheres executam sem remuneração e da violência (física, psicológica, sexual, económica) a que estão sujeitas todos os dias.

O objectivo do movimento internacional é conseguir a adesão de 177 países e tem inspiração no protesto realizado na Islândia em 1975, no Dia Livre das Mulheres, quando estas fizeram greve e saíram à rua por igualdade de direitos e salários entre mulheres e homens, e, assim, iniciaram um processo de mudanças naquele país.

Em Espanha, as centrais sindicais e alguns partidos políticos darão pela primeira vez cobertura à greve das mulheres. A central sindical espanhola CGT vai convocar uma greve geral de 24 horas e a UGT vai fazer um pré-aviso para duas horas de paralisação. Também estendem o incentivo à greve às tarefas domésticas, nomeadamente de cuidado com os filhos e idosos, por considerarem que as mulheres espanholas dedicam em relação aos homens o dobro do tempo a essas tarefas (em média 26 horas por semana).

Em Portugal, onde as mulheres ganham em média menos 17% que os homens por trabalho igual, onde gastam diariamente 4 horas e 23 minutos em cuidados com crianças e idosos, e com tarefas domésticas (mais 1h e 45 min por dia que os homens)1, não há razões para apoiar e incentivar uma greve de mulheres? As grandes centrais sindicais entendem que não. Fátima Messias, coordenadora da Comissão da Igualdade na CGTP – Intersindical, declarou ao Diário de Notícias “Não fazemos pré-avisos de greve que não tenham sustentabilidade no que são as reivindicações das trabalhadoras nos vários sectores laborais”2, e esclareceu que a CGTP não vai colaborar na organização da greve de mulheres. Terão iniciativas próprias com greves sectoriais onde também incluirão trabalhadores homens durante aquilo a que chamam (ironicamente, diriamos) semana da igualdade. No que aos partidos políticos (com assento parlamentar) diz respeito, infelizmente, apenas o Bloco de Esquerda (BE) demonstrou o apoio à paralisação de mulheres, mas não encontramos os seus rostos (muitos deles, são mulheres) activamente empenhados a organizar as marchas do 8 de Março, nem a usar do seu tempo de antena para dar alento às mulheres que querem protestar. A deputada do BE, Sandra Mestre Cunha, esclarece que “O BE não está a participar na organização da marcha nem da greve de mulheres. A paralisação é convocada internacionalmente. O BE dá o apoio e a solidariedade a estas ações. Mas sabemos que em Portugal seria complicado conseguir o apoio das centrais sindicais para uma greve de um dia inteiro, afinal, o país está ainda em recuperação económica”3. Acrescenta ainda o seguinte: “Há desigualdade laboral, no acesso ao emprego, nos órgãos de liderança e tomada de decisão. Mas aderir a uma greve laboral implica perda de remuneração”4.

Mas os direitos não vêm sem luta e é obrigação destas organizações que se dizem pela igualdade promover os movimentos de mulheres – as quais, corajosamente lutam pelos seus direitos e, consequentemente, pelos direitos de todos os trabalhadores. Se esta greve tem também um fundamento anti-capitalista, os partidos que se afirmam anti-capitalistas devem apoia-la incondicionalmente! O MAS apela, por isso, à participação de todos nas manifestações de 8 de Março de 2018! Que mulheres e homens saiam à rua pela igualdade, pelo fim da violência machista, pelo fim da exploração e opressão! Não vale ficar em cima do muro.

Apelamos a todas as mulheres que não possam fazer greve nos seus locais de trabalho que façam greve ao trabalho doméstico – não façam a cama, não façam as refeições em casa, não lavem a roupa nem a louça, não vão às compras!

Apelamos também à solidariedade com as mulheres palestinianas – como Ahed Tamimi que enfrenta a brutalidade de Israel –, com as trabalhadoras despedidas da Triumph e da Ricon, com as mulheres na Argentina que vêem uma das suas ser morta a cada 30 horas, com as refugiadas, emigrantes, negras,  lésbicas, grávidas e com as que não querem engravidar… Este dia é nosso, mas não é um dia de celebração, é um dia de luta e nós, mulheres, não nos calamos!

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