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Luis Sepúlveda participou com a Brigada Simón Bolívar na revolução sandinista

O escritor chileno Luis Sepúlveda morreu no Estado Espanhol na quinta-feira, 16 de abril, vítima de coronavírus, confirmou a sua família.

Sepúlveda, que tinha sido diagnosticado com a infeção no final de fevereiro, encontrava-se hospitalizado no Hospital Universitário Central das Astúrias. O escritor de 70 anos começou a apresentar sintomas no passado dia 25 de fevereiro, depois de regressar de uma festa literária no Porto, uma cidade do norte de Portugal. Há vários anos que estava radicado, junto à sua família nas Astúrias.

Lamentamos muito esta notícia. Sepúlveda foi um escritor importante, mas era também um militante por causas justas. Entre eles estava a luta revolucionária para acabar com a ditadura de Somoza na Nicarágua. Tivemos a honra de Sepúlveda ter participado na revolução nicaraguense com a Brigada Simón Bolívar, impulsionada pela nossa corrente socialista. Foi uma brigada de combatentes latino-americanos impulsionada a partir de Bogotá, por iniciativa do líder argentino Nahuel Moreno, então exilado, e do PST (Partido Socialista dos Trabalhadores) da Colômbia, que liderava uma campanha internacional sistemática de apoio à luta contra a ditadura da Somoza e de solidariedade com a FSLN, para que esta triunfasse e liderasse o seu próprio governo, sem burgueses.

Antigo militante comunista, Sepúlveda tinha sido obrigado a abandonar o seu país natal, o Chile, em 1977, depois de ter sido perseguido pelo regime ditatorial de Augusto Pinochet. Sepulveda, que se deu a conhecer internacionalmente em 1988, com a publicação de ” O Velho que lia romances de amor”. Este romance de sucesso foi seguido por outros como “Mundo do Fim do Mundo”, “Nome de Toureiro”, “Patagónia Express”, “História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”, “As Rosas de Atacama” e “Fin de Siglo”.

Recebeu prémios como o Prémio de Poesia Gabriela Mistral, 1976; o Prémio Rómulo Gallegos (1978), o Prémio Narrativo “Superflainao”, 1993 ou o Prémio Ovidio, atribuído em 1998, em Itália, por “La última frontera”.

Precisamente no romance “Nome de Toureiro”, uma das personagens principais é um exilado chileno, Juan Belmonte. Que seria quem teria nome de toureiro. No enredo fictício, Belmonte conta que participou na Brigada Simón Bolívar e que foi reprimido pelo governo sandinista. Neste enredo misturam-se personagens da sinistra Stasi, polícia da antiga Alemanha de Leste, com a polícia de Pinochet e a queda do Muro de Berlim.

Numa revista espanhola, Sepúlveda recordava a brigada, no dia do triunfo da revolução: “Em julho de 1979, exactamente a 19 de Julho desse ano, ao entardecer, eu estava sentado na escadaria que conduzia à catedral de Manágua. Os sandinistas tinham derrotado o ditador Anastasio Somoza, e eu estava lá entre os sobreviventes da última Brigada Internacional, a Simón Bolívar, e partilhava entre vinte, ou mais, uma pequena garrafa de rum nica, e alguns charutos atrozes feitos pelos índios Misquito. Havia alegria, mas não euforia, pois todas as guerras avançam e duram mais do que pensávamos. A maioria dos combatentes era muito jovem, celebrando a esperança e o que fariam com o seu país no meio da mais limpa e pura utopia, era alheio à guerra fria ou aos planos que já estavam a ser tecidos em Washington. Nesses momentos só se pensa nos seus mortos e às vezes “parece injusto ter sobrevivido” (Revistateína N° 16. Outubro 2007).

Miguel Sorans – Membro da Coordenadora da Brigada Simón Bolívar

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