A situação no Oriente Médio é extremamente complexa há décadas e está especialmente volátil neste momento. À crise latente não resolvida após a derrota dos levantes conhecidos como Primavera Árabe se acrescentaram o golpe palaciano na Arábia Saudita e as ondas de choque que está enviando por toda a região pelo peso da monarquia wahabista. A isso se combina a declaração de Trump contra os direitos dos palestinos sobre Jerusalém e a reação que está gerando na Palestina e no mundo árabe e muçulmano. A região se dilacera entre forças reacionárias, e mesmo contrarrevolucionárias, e torna ainda mais urgente a construção de alternativas de esquerda e socialistas. Neste final de ano, a compreensão do que ocorre em uma região tão importante é fundamental. Para isso, publicamos entrevista com Gilbert Achcar, um dos especialistas marxistas arabofônicos mais conceituados. A publicação original foi feita no site Socialist Worker em 11 de dezembro.
O anúncio feito por Donald Trump de que os EUA iriam reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e mover a embaixada americana para lá causou uma erupção de protestos ao longo do Oriente Médio e mais além. Mas a influência e o poder de Washington na região têm estado em declínio por algum tempo, devido a uma série de reveses.
Gilbert Achcar é um socialista que se criou no Líbano e que é autor de numerosos livros, incluindo Morbid Symptoms: Relapse in the Arab Uprising e Clash of Barbarisms: September 11 and the Making of the New World Disorder. Ele concedeu esta entrevista para Alan Maass sobre os recentes acontecimentos no Oriente Médio e as consequências após um ano de Trump.
Em sentido horário, a partir do topo à esquerda: Destruição do Iêmen; Donald Trump; protesto na Palestina
Os EUA têm se focado principalmente em derrotar o Estado Islâmico no Iraque e na Síria (EI), o que parece ter sido amplamente alcançado com as ofensivas para expulsar o EI de seus principais bastiões em ambos os países. Primeira pergunta: o que ocorrerá com o EI agora?
O EI obviamente sofreu uma séria derrota. Eles pensavam que tinham construído um estado, um califado, que duraria por um longo tempo em uma grande extensão de território na Síria e nos Iraque, e eles basicamente perderam tudo isso. Durou cerca de três anos antes de se desfazer.
Pode-se dizer que já foi uma façanha para o EI o fato de controlar um território tão grande por um tempo tão longo contra quase todos. Pois é o único grupo contra o qual houve algum grau de unanimidade entre todas as forças envolvidas na região.
O EI sofreu uma derrota pesada, mas isso não significa que irá desaparecer. Muitos dos seus combatentes conseguiram ir para a clandestinidade no Iraque e na Síria, e possuem ramificações em vários outros países. E, como vimos no caso da al-Qaeda, o terrorismo pode prosseguir no longo prazo por meio de redes clandestinas.
Tenho certeza que presenciaremos muito desse tipo de terrorismo no próximo período, porque não há uma forma real de se livrar de tamanho tormento sem mudar as condições de produzi-lo.
Hoje, essas condições são bem complicadas. Elas incluem, antes de mais nada, o terrorismo de estado, começando pelo de Israel e o perpetrado pela dominação imperialista ocidental na região. Muito do que ocorreu ao redor do mundo desde 1990 tem suas raízes nas guerras travadas pelos EUA contra o Iraque em 1991 e em 2003 e a subsequente ocupação do Iraque.
Mas há também muitos regimes despóticos na região que praticam o terrorismo de estado e que alimentam um ódio similar, criando dessa forma um caldo de cultivo para grupos como o EI.
Globalmente, estamos testemunhando o que denominei, em um livro que escrevi após o 11 de setembro, o “choque de barbáries”. A barbárie dos poderosos cria as condições da barbárie contraria dos de baixo.
É o que estamos vendo – e vamos ver mais disso, receio dizê-lo—seja a barbárie dos poderosos dos EUA, a mais letal de todas, ou da Rússia, ou de regimes despóticos locais tais como a tirania de Assad na Síria, o mais bárbaro dos governos regionais, ou da ditadura de Sisi no Egito, para nomear somente dois.
O outro lado da questão decorrente da conquista dos bastiões do EI no Iraque e na Síria é como isso posiciona o imperialismo americano. Qual é a posição relativa dos EUA em relação aos poderes regionais do Oriente Médio e aos seus rivais imperialistas internacionais?
Não há dúvida que os Estados Unidos estão no ponto mais baixo de sua influência na região desde 1990. Foi quando os EUA intervieram, mobilizando massivas forças na região, no preâmbulo da primeira guerra contra o Iraque. Os EUA atingiram um pico na história de sua hegemonia regional depois disso.
Isso ocorreu no momento em que a União Soviética estava em seus estertores, assim que Washington assumiu o controle completo da situação no Oriente Médio. Quando se avalia a situação atual em comparação com aquele pico se pode ver o quanto os EUA decaíram.
A mais clara ilustração foram as revoltas de 2011. E foi o ano em que os EUA tiveram que se retirar do Iraque sem alcançar nenhum dos objetivos da ocupação, deixando um país que caiu sob o controle do arqui-inimigo regional de Washington, o Irã. Teerã possui muito mais influência sobre o governo iraquiano do que Washington.
2011 foi também o ano em que aliados-chave de Washington enfrentaram revoltas de massas. Foi o caso de Hosni Mubarak no Egito, após o ditador tunisiano Zine El Abidine Ben Ali. Muammar el-Qaddafi, da Líbia, que tinha se passado para o lado de Washington em 2003, foi o seguinte, e explodiu uma rebelião no Bahrain, assustando todas as monarquias petrolíferas do Golfo.
A intervenção militar na Líbia em apoio à revolta contra Qaddafi foi a ocasião para a famosa fórmula “liderando por detrás”, refletindo o fato que os EUA tinham uma presença mais discreta naquela intervenção do que seus aliados europeus da OTAN, que assumiram a liderança.
Mas essa intervenção se transformou em um fiasco. A tentativa de controlar a insurreição líbia e direcioná-la para uma conclusão que preservasse o estado na Líbia fracassou totalmente, e o estado líbio entrou totalmente em colapso.
A Líbia se tornou, então, o único país árabe em que a revolução teve êxito em derrubar totalmente o regime – exceto pelo fato que não havia nenhuma alterativa disponível e menos ainda alguma que fosse progressista. O caos estava naturalmente assegurado.
A “solução iemenita” – um compromisso entre o grupo dominante do país e a oposição, preparado pelas monarquias petrolíferas do Golfo com o apoio dos EUA, e tão elogiado por Obama que ele o apontou como o modelo a ser aplicado na Síria – entrou tragicamente em colapso após menos de três anos.
Então, os EUA acumularam toda uma serie de reveses na região desde a invasão do Iraque. A guerra do Iraque será recordada na história do império americano como um grande erro- uma ocupação contraproducente realizada pela administração Bush contra a opinião de até amigos próximos da família Bush, que sabiam com que tipo de problemas os EUA iriam se defrontar.
Como resultado, Washington está em um ponto muito baixo em comparação com algumas décadas atrás. Os EUA aproveitaram a oportunidade da expansão do EI no Iraque em 2014 para orquestrar uma retorno limitado. Organizaram uma coalisão para lançar uma campanha de bombardeios contra o EI, estabeleceram alguma presença novamente no Iraque e fizeram o mesmo na Síria.
A principal intervenção de Washington no terreno na Síria foi do lado das forças curdas. Isso em si mesmo é um paradoxo, pois essas forças se originam de uma tradição da esquerda radical – ainda que tenham sido os principais aliados dos EUA na luta contra o EI na Síria. Donald Trump a qualificou como “ridículo”, declarando que iria terminar com isso.
Novamente, isso demonstra a fragilidade geral de Washington – ao passo que o Irã está expandindo seu poder, influência e intervenção direta na região. E a Rússia, claro, aparece como a grande ganhadora em toda a situação, da Síria à Líbia.
Moscou começou a intervir diretamente na Síria com sua força aérea em 2015. Naquele momento, a administração Obama deu as boas-vindas à intervenção russa sob o pretexto de que a Rússia estaria participando na guerra contra o EI. Mas todos sabiam que o alvo principal de Moscou seria a oposição síria ao regime de Assad regime, não o EI.
Essencialmente, Washington deu à Rússia uma via livre para ajudar o regime sírio a esmagar a oposição a ele. Depois da eleição de Trump, mas antes que ele se tornasse presidente, a Rússia começou a se preparar para o papel de provedor da solução para o conflito na Síria, atuando inesperadamente como árbitro entre o regime e a oposição, com o Irã como a Turquia incluídos no processo.
Há mais um problema aqui. No outono de 2016, a Turquia, furiosa com o apoio de Washington às forças curdas na Síria, voltou-se para uma aliança com a Rússia, desta forma dando outro golpe pesado à influência dos EUA na região.
Hoje, a Rússia parece ser o país que está ganhando espaço em toda a região, ao passo que os EUA estão perdendo espaço. Moscou aparece hoje como o mais eficaz pilar da ordem repressiva regional. Depois do papel muito brutal que desempenhou na Síria, recebeu a concessão de instalações para base aéreas no Egito de Sisi para apoiar a intervenção deste último na Líbia, junto com os Emirados Árabes Unidos, em apoio ao homem forte local, Khaliha Haftar. Todas as monarquias petrolíferas, incluindo os sauditas, estão cortejando Moscou e comprando armas russas.
Donald Trump certamente não irá reverter a maré de declínio regional americano. Ao contrário, ele é a razão para uma ainda mais rápida deterioração da influência dos EUA no Oriente Médio.
E agora, Trump anunciou que os EUA irão reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Que impacto isso terá?
Esta é uma provocação completamente gratuita que somente um homem irracional como Trump poderia fazer – irracional, ou seja, pelos padrões dos interesses do imperialismo americano.
Definitivamente não serve aos interesses americanos fazer tal jogada. Trump está fazendo isso sem razões aparentes, mas para satisfazer a ala mais reacionária de seus apoiadores e impulsionar seu narcisismo mórbido de ter “cumprido suas promessas” de campanha quando seus predecessores não o fizeram.
Ele o fez sem oferecer nada para apaziguar os palestinos. Ele não assegurou nada em troca por parte do governo Netanyahu em Israel para fazer tal movimento. Simplesmente não faz sentido do ponto de vista da política americana nos EUA.
Isso irá custar muito para Washington, em um momento em que sua imagem, por causa dele [Trump], já é terrivelmente negativa no mundo árabe, no mundo muçulmano e no Sul Global. Qualquer que tenha sido a melhora na imagem alcançada durante o governo Obama, foi completamente destruída e substituída pela imagem mais repulsiva que os EUA alguma vez tiveram no mundo.
O resultado só pode ser mais ódio contra os EUA, gerando mais terrorismo—a arma dos fracos. E uma vez mais, a população americana pagará o preço do caráter de espoliação de sua classe dominante, assim como sofreu com o 11 de setembro, que foi um resultado direto da política dos EUA no Oriente Médio.
Deixe-me perguntar sobre a outra parte do quadro: Pode falar sobre os acontecimentos na Arábia Saudita com as manobras do Príncipe Herdeiro, Mohammed bin Salman?
O que está ocorrendo no reino saudita é, antes de mais nada, um tema doméstico – é uma luta pelo poder. O que está acontecendo é uma espécie de “revolução palaciana”, mas em relativa câmera lenta, no sentido que ela estava sendo feita por etapas, até a recente prisão dramática de vários magnatas entre os emires e outros membros da aristocracia do país.
Estamos presenciando uma tentativa por parte de Mohammad bin Salman [geralmente referido pelas suas iniciais, MBS] para tornar o reino mais de acordo com os padrões tradicionais das monarquias, em que existe uma família mais reduzida que governa. No reino saudita, em contraste, há uma família governante estendida, composta pelos filhos de Abdulaziz (Ibn Saud), um rei que teve um grande número deles -45 filhos homens de 100 no total – por causa do número de esposas que teve: mais de 20!
MBS está tentando terminar com essa tradição da dominação da família saudita estendida e concentrar o poder em suas mãos, inaugurando uma nova linhagem dinástica. Ele está fazendo isso a partir da posição de príncipe herdeiro, mas seu pai está apoiando tudo o que ele está fazendo, assim que possui carta branca nesse aspecto.
Ele é um jovem homem ambiciosos que foi nomeado como Ministro da Defesa em janeiro de 2015, depois que seu pai Salman se tornasse rei, quando ele ainda não tinha 30 anos.
A primeira coisa que fez como Ministro da Defesa foi lançar a guerra no Iêmen – uma campanha de bombardeios devastadora, assassina pelos sauditas e seus aliados. Ela fracassou no sentido de que as expectativas de que a coalisão iria resolver os problemas rapidamente se demonstraram completamente equivocadas.
Como se pode ver a partir dos eventos recentes – especialmente o assassinato do ex-presidente Ali Abdallah Saleh após mudar de lado novamente e ter anunciado uma aliança renovada com os sauditas – eles estão muito longe de alcançar a vitória. Só tiveram êxito em causar o que já é a pior tragédia humanitária de nossos tempos, com cerca de 7 milhões de pessoas com risco de morrer de fome e cerca de 1 milhão em risco de morte de cólera.
MBS mudou então sua atenção para assuntos mais internos e foi então que o antigo príncipe herdeiro, que tinha sido designado de acordo com a velha tradição, foi simplesmente removido desse cargo e MBS assumiu seu lugar. Isso foi um momento chave na “revolução palaciana” – a primeira grande ruptura com a tradição.
Desde então, MBS tem consolidado seu próprio poder pela eliminação dos rivais potenciais. Qualquer um que esteja em seu caminho está sendo reprimido, preso e perseguido sob vários pretextos, um deles sendo a corrupção.
Certamente, MBS recorreu a esse pretexto porque é popular, e é inegável que há algo de podre no estado saudita. Mas é também óbvio que isso é somente um pretexto.
MBS é ele próprio muito corrupto mesmo – é um jovem que pode utilizar qualquer quantidade de dinheiro da forma que quiser, ao mesmo tempo que impõe austeridade sobre os súditos de seu reino. Ele provou isso no último ano quando cobiçou um iate que pertencia a um magnata russo e o comprou por meio bilhão de euros – cerca de U$550 milhões! Isso dá uma ideia de com quem estamos lidando.
Quais são as reverberações dessa luta pelo poder para a região? Por exemplo, o regime saudita parece ter tentado intervir no Líbano obrigando seu principal aliado local, o Primeiro-Ministro Saad Hariri, a renunciar. Todas essas mudanças têm a ver com a longa rivalidade com o Irã, correto?
O reino saudita está cada vez mais preocupado pelo expansionismo iraniano – primeiro no Iraque, depois na Síria, e a seguir no Líbano. Existe hoje um corredor de dominação iraniana de Teerã a Beirute, o que inclui tanto a presença direta como indireta do Irã.
Os sauditas estão extremamente preocupados com isso porque eles veem o Irã como seu arqui-inimigo. Desde a revolução islâmica no Irã, que derrubou a monarquia lá em 1979, os sauditas têm tido um cenário de pesadelo, que tiveram que se confrontar no mesmo ano com um levante ultra-fundamentalista em casa, em Meca.
Quando Salman se tornou rei em 2015, ele inicialmente modificou a política do reino saudita para a unificação das forças sunitas na região. Ele seguiu essa política por alguns anos, incluindo refazer as pontes, em um certo grau, com a Irmandade Muçulmana.
Isso continuou até que Donald Trump se tornou presidente. Trump, aconselhado pelo sinistro Stephen Bannon, pressionou para uma reversão dessa política para uma escalada tanto contra o Irã como a Irmandade Muçulmana.
Isso levou a que, antes disso, neste ano, a Arábia Saudita rompesse com o Qatar, que é o principal patrocinador da Irmandade Muçulmana. Até esse ponto, o Qatar estava envolvido na coalisão que bombardeava no Iêmen, mas foi expulso dessa coalisão por causa desse assunto. Isso foi uma manobra bem ruim, e o tiro saiu pela culatra.
A escalada contra o Irã é o que levou ao recente episódio com o Líbano. Hariri é inteiramente dependente dos sauditas. A família Hariri fez sua fortuna no reino saudita, por meio de sua conexão com membros da família governante, que é um pré-requisito de todos os que fazem fortuna no reino.
A mensagem que foi enviada pelos sauditas é que não queremos que nossos aliados – ou seja, Hariri—participem em um governo no Líbano que seja dominado por gente ligada aos iranianos, o Hezbolah.
Essa foi a mensagem. Mas mesmo isso não deu certo devido à intervenção dos governos ocidentais, incluídos os EUA e a França. O presidente francês, Macron, teve um papel ativo em conseguir que Hariri saísse do reinado de volta ao Líbano, onde ele agora está engajado de novo em alguma forma de compromisso, que é o que os sauditas queriam que terminasse. A situação lá é muito instável, no entanto.
Pode-se tirar conclusões gerais sobre o balanço da revolução e da contrarrevolução neste momento, quase sete anos depois da Primavera Árabe? Você escreveu antes sobre entender isso como um processo em curso – não fragmentado em episódios separados, mas contínuo. Pode ampliar sobre isso?
O ponto de partida é compreender que o que foi denominado como Primavera Árabe não se limitou aos assuntos da democracia e da liberdade, como foi descrito na imprensa. Foi uma explosão social e econômica muito mais profunda, devido à acumulação de problemas de caráter social. Índices recordes de desemprego, especialmente para a juventude; baixos níveis de vida; pobreza – tudo chegou a um ponto culminante em 2011.
Essa é a razão pela qual eu enfatizei naquele momento que havia começado o que denominei de “processo revolucionário de longo prazo”, que se prolongaria por muitos e muitos anos de instabilidade – hoje podemos dizer com segurança: décadas.
Realmente, não haverá nova estabilização nesta parte do mundo por um longo período de tempo, pois a condição para a estabilização é uma mudança social e política radical, que coloque toda a região no caminho co2rreto de desenvolvimento econômico e social. Sem essa mudança radical, a instabilidade do Oriente Médio não será resolvida.
O problema imediato do momento é que as forças progressistas que emergiram na Primavera Árabe retrocederam para a marginalidade em quase todos os lados, alguns anos depois de 2011. Desde então, a região tem sido dilacerada entre duas forças reacionárias.
Por um lado, existem os regimes – ou seus resquícios, em países em que foram derrubados ou significativamente abalados. E, por outro lado, existem as forças fundamentalistas islâmicas – em especial, a Irmandade Muçulmana patrocinada pelo Qatar e os salafistas inspirados pelos sauditas – que emergiram desde os anos 1970 e 1980 a partir do cadáver de uma onda de atividade de esquerda precedente, em que os partidos nacionalistas e comunistas desempenharam um papel chave.
A realidade é que o conjunto da região mudou desde 2013 de uma fase revolucionaria precedente, denominada como Primavera árabe, para uma fase contrarrevolucionária. Esta última se caracteriza pelo choque entre dois polos contrarrevolucionários – o dos regimes e de seus rivais fundamentalistas islâmicos.
Isso é o que tem ocorrido nas guerras que irromperam na Líbia, Síria e no Iêmen – esses mesmos ingredientes se encontram basicamente em todos os lados. Eles existem na situação que se intensifica no Egito: a forma que eles adotaram foi o retorno do velho regime com uma vingança, esmagando a Irmandade Muçulmana.
Estamos no meio dessa fase contrarrevolucionária. Mas, ao mesmo tempo, pode-se verificar a partir de numerosas indicações que os problemas sociais estão em ebulição. Não somente persistem todos os fatores sociais e econômicos que levaram à explosão de 2011, mas eles pioraram bastante.
O que levaria a novas explosões e mais instabilidades: isso é seguro. Podemos pelo menos esperar que o potencial progressista que emergiu de forma poderosa em 2011 será capaz de se reconstituir e organizar para lutar pelo poder. Isso é o que estava faltando na Primavera Árabe – organizações que encarnem esse potencial, com uma clara estratégia de construir uma alternativa aos velhos regimes e seus contendores fundamentalistas.
Editoria Internacional, Esquerda Online