O Brasil viveu no dia 13 de março o que pode ter sido umas das maiores manifestações de rua da sua história.
O que explica isso? Se é verdade que boa parte da imprensa, com a Globo à frente, insuflou as manifestações, que tiveram em sua maioria setores da classe média, é também verdade que elas se apoiaram no descomunal desgaste do governo Dilma na população, na indignação com a corrupção e num rechaço crescente e generalizado aos políticos.
Nos últimos dias a crise política se precipitou numa velocidade alucinante. O vazamento da delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS) e o depoimento forçado de Lula jogaram lenha na fogueira do impeachment, possibilidade que nos primeiros momentos do ano vinha perdendo força.
Com isso a oposição burguesa capitaneada por Aécio, setores do PMDB e parte expressiva do empresariado, como a Fiesp, lançaram uma ofensiva em torno aos atos desse dia 13, somando-se à convocatória dos grupos liberais como o “Vem Pra Rua” e o “Movimento Brasil Livre”. Pretendiam fazer avançar o processo de impeachment e, ao mesmo tempo, se cacifar como alternativa política à Dilma.
O primeiro objetivo foi conseguido e o governo Dilma já parece caminhar para os seus momentos finais. Já o segundo foi um fracasso completo. Na Avenida Paulista, por exemplo, Aécio Neves do PSDB e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não só não conseguiram discursar e saírem consagrados do ato como pretendiam, como foram enxotados de lá sob vaias e xingamentos. Não foram os únicos políticos vaiados. Marta Suplicy teve que correr para dentro da Fiesp e o Pastor Silas Malafaia, por sua vez, foi vaiado nas manifestações em Brasília. Se Temer, o sucessor de Dilma em caso de impeachment, tivesse pisado na rua teria sido enxotado igualmente.
Não é difícil entender a razão disso. Aécio e Alckmin lançam mão de toda a hipocrisia do mundo para atacarem a corrupção do governo Dilma, mas todos sabem que eles são tão corruptos quanto.
Isso mostra que, se por um lado a burguesia vem chegando à conclusão de que esse governo ficou insustentável, por outro ela vai ter problemas para impor um substituto, já que o que aconteceu com Aécio não foi um ato isolado. Há no país uma crise de representatividade enorme. Ninguém representa a classe média dos atos e nem a classe trabalhadora.
A classe operária e a periferia igualmente estão contra o governo, mas não aderiram aos protestos convocados por essas direções liberais, e na última semana em especial, pelo PSDB e a maioria dos partidos patronais.
Fora Todos eles! Eleições Gerais, já: Nem Dilma, nem Temer e Aécio
O PSTU não foi e chamou os trabalhadores a não irem aos atos desse dia 13. Desde o início, afirmamos que o impeachment não resolve a situação, já que trocaria Dilma pelo burguês e corrupto Temer-PMDB. Tampouco a impugnação da chapa Dilma-Temer que corre no TSE seria solução, já que assumiria o notório bandido Eduardo Cunha (PMDB), e nem eleições apenas para presidente.
Em todas essas hipóteses teríamos a continuidade de um governo disposto a atacar os direitos dos trabalhadores, a aplicar um duro ajuste fiscal, uma nova reforma da Previdência e a criminalizar as nossas lutas, como vem fazendo Dilma.
Nos últimos dias, por outro lado, vem ganhando repercussão uma tese defendida por nada menos que Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-presidente , José Sarney: uma espécie de semiparlamentarismo, que tiraria poderes de Dilma e daria mais poderes ao Congresso Nacional. É simplesmente um escárnio desses corruptos à população e aos trabalhadores desse país. Seria dar mais poder a um Congresso Nacional formado por corruptos de ficha corrida em que nada menos que 150 parlamentares enfrentam algum tipo de processo e investigação e 75% recebeu financiamento de empreiteiras.
Não vivemos uma “onda reacionária”
A manifestação desse dia 13, assim como a de março de 2015, mobilizou majoritariamente os setores de classe média e teve pouca participação da juventude.
Apesar da indignação ainda maior hoje com o governo e o PT, a classe operária e toda a periferia não foram aos atos de domingo. Isso porque, entre outros fatores, percebem e rejeitam o fato de tais atos terem sido convocados pelo PSDB, Fiesp e outros setores burgueses.
Isso é muito positivo. Porque é a classe trabalhadora mobilizada, com a classe operária à frente, quem pode enfrentar esses dois lados da mesma moeda –o governo do PT com seus aliados e a oposição burguesa de Aécio-Temer e Cia – , e forjar uma alternativa dos trabalhadores para o Brasil: – ganhar ou polarizar a maioria destes setores médios que foram às ruas contra a corrupção, o governo e os políticos.
Muitos se impressionam com as demonstrações de fascismo, racismo, machismo e tudo o que de mais atrasado tem emergido minoritariamente desses setores da classe média, e que foram tolerados também nos atos desse domingo. Numa situação de polarização política e social esse tipo de demonstração sempre aparece. Hoje é minoritária, mas precisa sim ser duramente combatida.
Mas é preciso que se diga que as manifestações do dia 13 não tiveram cunho fascista. Tiveram majoritariamente um cunho anticorrupção, antigoverno e contra todos os políticos. E expressaram uma monumental crise de representatividade.
É isto também que faz com que o PSDB tenha desistido até da proposta de eleições para presidente, porque chegou à conclusão que numa eleição hoje pode ganhar qualquer um. Sua tentativa de “capitalizar” o protesto em acordo com os grupos liberais que a convocaram não deu certo.
Por outro lado, como ocorreu no mensalão com Joaquim Barbosa, a referência ao juiz Sérgio Moro como “herói” da luta contra a corrupção é de massas. É preciso defender junto aos trabalhadores e a toda população que não se deve depositar confiança em Sérgio Moro, que se fosse realmente justo não participaria em jantares com milionários como Dória do PSDB, envolvido também em denúncias de compra de voto na própria convenção do seu partido.
Mas, como sempre, não se deve confundir a base com a direção. A classe média está na rua contra a corrupção, o governo e os políticos. O que defendem colocar no lugar é muito diverso, contraditório e não está definido. Existe uma diferença entre o que defende as direções burguesas e reacionárias desses atos e a grande maioria dos manifestantes. Pesquisa realizada em abril passado mostra que, ao contrário da orientação ultraliberal dos organizadores dos protestos, a maioria nas ruas defendia serviços públicos e universais, como saúde e educação, além de uma aversão a todo o sistema político.
A direção é reacionária e os trabalhadores estiveram certos de não ter ido a essa manifestação. Mas, simplesmente chamar todos os milhões que foram às ruas neste domingo de “coxinhas reacionários” e alardear que estamos às vésperas de um golpe parecido a 64 é um grave erro. Esse tipo de avaliação justifica chamar os trabalhadores para ir às ruas em defesa desse governo do PT, que governa para os banqueiros e empresários, da mesma maneira como o PSDB, e até ontem estava aliado a Cunha, Marco Feliciano, Maluf e inúmeros outros expoentes da direita.
Ao contrário de uma onda reacionária e da iminência de um golpe, estamos perante uma enorme crise e qualquer governo que saia dela será ainda mais frágil. Defender esse governo que está aí significa obstaculizar a construção de uma alternativa da classe trabalhadora à situação que vive o país.
Tanto os atos capitaneados pela oposição de direita (esteja ela escondida debaixo do MBL ou Vem Pra Rua) em defesa de uma saída Temer ou Aécio , como os atos pelo “Fica Dilma” não representam a classe trabalhadora e sim duas alternativas burguesas que seguirão aplicando os planos dos banqueiros contra a classe trabalhadora.
Nem 13, Nem dia 18, nem dia 31: No dia 1º de abril é contra todos eles!
Os trabalhadores e a juventude, especialmente a juventude negra da periferia, estão protagonizando importantes e heroicas lutas.
Vamos unir as lutas e botar na rua o bloco da classe operária, dos trabalhadores, da periferia, dos negros e negras, das mulheres trabalhadoras, dos LGBT’s e da juventude para botar fora todos eles e garantir que não governem nem Dilma, mas também nem Temer e nem Aécio. Chega de jogarem a crise nas nossas costas.
Se o dia 13 não representou uma alternativa dos trabalhadores à crise, tampouco o próximo dia 18, convocado ou o dia 31, chamado pelos setores governistas nos representa. Apoiamos o chamado da CSP-Conlutas e do Espaço Unidade de Ação à jornada de lutas que ocorre no dia 1º de abril nos estados e regiões.
Achamos que a CUT e movimentos sociais governistas deviam romper com Dilma e vir convocar uma greve geral contra o governo, a oposição burguesa, o Congresso Nacional e a criminalização dos movimentos sociais.
Também o MTST e o PSOL precisam romper com a “Frente Povo Sem Medo” e os atos pelo “Fica Dilma” e virem com a CSP-Conlutas e o Espaço Unidade de Ação construir uma mobilização no dia 1º de abril para dar um “basta” a todos eles! Só com a mobilização independente e de oposição a esses dois campos da burguesia é possível forjar uma alternativa da classe trabalhadora para o país.
Fora todos! Eleições Gerais já!
Somente um governo socialista dos trabalhadores, apoiado na luta e formado por conselhos populares, pode atender nossas reivindicações e tomar medidas como a proibição das demissões, a redução da jornada de trabalho sem redução dos salários para criar mais empregos e estancar a sangria da dívida aos banqueiros para investir em áreas como saúde, educação e moradia.
Enquanto não temos essa alternativa, defendemos a convocação de eleições gerais (para presidente, deputados, governadores).Eleições com outras regras, sem o financiamento privado, com tempo de televisão igualitário, e mandatos revogáveis, sem qualquer tipo de privilégio e com salário igual ao de um operário qualificado para Presidente, deputado ou governador.