Festejo referendo

Seguir o exemplo Grego: referendo à austeridade também em Portugal!

Mais de 61% dos Gregos disseram não ao acordo com que a União Europeia quer esmagar o povo grego. É uma gigantesca vitóra também para nós, jovens e trabalhadores portugueses e um soco no estômago na Europa da austeridade. O caminho da austeridade inevitável era uma mentira na Grécia como é em Portugal.

A elite europeia continua a chantagem

A elite política e financeira da Europa espumou de raiva com o resultado do referendo. Não pela vitória do Syriza, que parece disposto a ceder em futuras negociações, mas pela coragem do povo grego. O CEO da Ryanair, Michael O’Leary disse que a Grécia agora teria que se ajoelhar. Sigmar Gabriel, chefe do SPD alemão, partido da famíla política do PS, declarou que  “Tsipras e o seu governo levaram o povo grego a um caminho de renuncia amarga e de descrédito”.

Mais lúcido, Wolfgang Munchau, editor do Financial Times escreveu: “Desprezo pela democracia e analfabetismo económico não são apenas erros táticos. Estas duas “qualidades” são agora os restantes alicerces ideológicos do resta do projeto europeu”. O não Grego de Domingo passado não derrotou de vez estes senhores, mas mostrou que podemos vencer.

PSD e CDS contra os gregos e PS a fingir que é diferente

Por cá, igualmente derrotados na sua arrogância e cegueira, Passos e Portas repetem a ladaínha dos seus patrões: “A Europa emprestou à Grécia o que não emprestou a ninguém”, afirmou o Primeiro-Ministro. Antes de mais convém dizer que Passos pouco sabe de história: a dívida da Alemanha à Grécia resultante de 2ª Guerra Mundial é ainda hoje superior ao que deve o Estado Grego a esse país. Mas mesmo tirando isso, Passos mente, porque não diz que nem um só euro dos empréstimos da troika à Grécia foi para pagar salários. Na verdade só 10% desse dinheiro ficou no país, o resto foi para pagar a dívida aos bancos alemães e franceses, ou seja, para salvar aqueles que, na Grécia como em Portugal, financiaram swaps, PPP’s e submarinos. Vale a pena lembrar as palavras de Philippe Legrain, ex-conselheiro de Durão Barroso ao Público: “Ajudas a Portugal e Grécia foram resgates aos bancos alemães (…) O sector bancário dominou os Governos dos países e as instituições da zona euro“. Aliás, ainda é assim, por isso é que Passos Coelho diz semelhantes barbaridades. Apesar de já ter apresentado um programa eleitoral semelhante ao do governo, o PS tenta passar entre os pingos da chuva. Pela voz de Porfírio Silva, o partido de António Costa afirma: “Não nos podemos resignar a uma ausência de acordo“. Ou seja, apesar do “Não”, tem de haver mais austeridade. Não por acaso foi o PS que chamou a Troika para Portugal.  Já o CDS, tenta distanciar-se do suposto radicalismo dos gregos: “a única coisa em que somos radicais é que somos radicalmente democráticos”, afirmou Telmo Correia. Se assim fosse fariam o que o MAS propõe já há muito tempo: referendar a austeridade e a presença de Portugal no euro, coisa sobre a qual o povo português nunca se pôde pronunciar.

À esquerda BE e PCP tentam aproveitar o momento. Mas a verdade é que pouco fizeram para travar a austeridade no nosso país. Sempre se mantiveram divididos, abrindo espaço à direita e ao PS. E também nunca defenderam que a austeridade ou o euro fossem referendados em Portugal. Pior: o deputado do PCP, João Oliveira, quando perguntado pelo Jornal Sol antes do referendo, recusou-se a defender o Não! O Partido Comunista grego defendeu a abstenção neste referendo, sobre isto o PCP nada disse, obviamente. A sim se vê o papel do PCP.

Manif Grécia

Levar até ao fim o NÃO à austeridade!

A responsabilidade da esquerda europeia aumentou com o não grego. Tsipras e o seu partido reforçaram a sua força. Mas infelizmente parecem querer deitar tudo a perder. Hoje Tsipras já enviou uma carta às “instituições” em que se declara disponível para mexer nos impostos e nas pensões em troca de um novo resgate. Não será certamente para subir as pensões e baixar os impostos. Foi para isto que os gregos votaram não?

O Não grego dá força ao Governo para romper com os credores. Esse devia ser o caminho do Syriza. Pedir resgates e fazer cortes é o que os gregos rejeitaram. A estratégia de reestruturar a dívida e ficar no euro de pouco serve: a dívida já foi reestrurada antes e voltará a sê-lo, mais tarde ou mais cedo, porque é impagável. Mas reestruturar a troco de mais cortes é manter tudo na mesma.

Por isso reafirmamos as palavras do deputado do Syriza Costas Lapavitsas, que escreveu nos últimos dias: “as propostas feitas pelo governo Syriza são um compromisso doloroso face  às suas promessas eleitorais (…) estas são as propostas familiares do FMI”. Como já tinha antes dito este professor universitário: “A Grécia precisa considerar o verdadeiro caminho alternativo, que é o de se separar dessa união monetária falida”.

Foi esse o “Não” de muitos dos gregos, que se expressou nas urnas e deve agora tomar as ruas de Atenas e da Europa, contra a arrogânica imperialista da UE e do euro.  Podemos derrotar, também em Portugal, os governos que vendem o próprio país e se ajoelham perante Merkel e os Mercados.

É preciso referendar a austeridade e o euro, também em Portugal. É preciso correr com os governos do centrão que afundam o país em dívida e corrupção. É preciso voltar às ruas em solidariedade com o povo grego e dizer bem alto NÃO à Europa da austeridade!

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