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Povo sírio luta por liberdade e democracia e contra a ditadura de Bashar al Assad

Abu Maen, jovem da resistência Síria e representante do Conselho Revolucionário de Manbij, cidade localizada no norte da Síria, esteve esta quarta e quinta-feiras, 20 e 21 de novembro, em Coimbra e Lisboa respectivamente, a convite do MAS, para palestras em que explicou às pessoas presentes o que está a acontecer actualmente na Síria. Ele contou como o povo sírio está a conseguir enfrentar, há quase três anos, com poucas capacidades bélicas e de organização, o regime sanguinário de Bashar al-Assad e outras forças contra-revolucionárias que entretanto entraram em acção no terreno.

“Estamos isolados, mas resistimos e sobrevivemos porque o povo está connosco”

O povo sírio tem-se organizado como pode, através de comités locais, reuniões de bairro, assembleias populares etc. para lutar pela liberdade, pela democracia e por melhores condições de vida, ao mesmo tempo que tenta travar as forças contra-revolucionárias no teatro de guerra, representadas pelo regime de Bashar al-Assad, pelos jihadistas da Al-Qaeda e pelos governos provisórios fantoches orientados pelos Estados Unidos.

A situação dos rebeldes e das forças revolucionárias é muito difícil, sobretudo porque têm pouco armamento, e quando o têm é fraco e insuficiente face ao do regime e de outros movimentos; apresentam dificuldades de organização e comunicação no terreno com as várias células rebeldes localizadas em vários pontos do país e problemas de financiamento para garantir efetivos suficientes para proteger as cidades já libertadas do regime, explicou Abu Maen.

Mesmo as fábricas e infraestruturas-chave que poderiam ser usadas para servir as populações e cidades libertadas são totalmente destruídas pelas forças aéreas do regime quando passam para as mãos dos rebeldes, o que dificulta ainda mais a sua tarefa de resistência.

Contudo, apesar das dificuldades, o povo tem resistido e lutado, organizando-se como pode. Abu Maen explicou que, no conselho a que pertence, o conselho local de Manbij, cidade libertada no norte da Síria, perto de Aleppo, um comité civil criado no local e democraticamente eleito controla a acção das forças armadas que vão para o palco de guerra, seguindo a vontade popular.

Abu destacou também que as mulheres têm desempenhado um papel fundamental na revolução síria, assumindo a frente de muitos combates e participando em acções cruciais para a resistência contra o regime.

 

O povo luta contra “o exército de Bashar al-Assad e os jihadistas da Al-Qaeda”

A população do país organiza-se para lutar contra duas frentes principais: “o exército de Bashar al-Assad e os jihadistas da Al-Qaeda”, afirmou.

O jovem explicou que Assad é apoiado pela Rússia, pelo Hezbollah (milícias libanesas), pelo Irão, Turquia e Iraque, enquanto a Al-Qaeda tenta ficar mais forte e organizar as suas brigadas recrutando também “jovens muçulmanos da Europa que, face à crise económica, juntam-se aos jihadistas que pagam muito dinheiro a quem está a lutar na Síria”.

 

O povo não quer um “estado islâmico”

O povo não quer um “estado islâmico”, o povo quer liberdade, democracia e melhores condições de vida, diz o Abu, sublinhando ser completamente errada a ideia de que os rebeldes são terroristas comandados pela Al-Qaeda.

As forças da Al-Qaeda na região são “forças anti-revolucionárias”, prova disso é o facto de que o próprio “Assad nem tenta lutar contra a Al-Qaeda”. “Nunca vi um militar da Al-Qaeda morto pelo regime”, frisou.

As forças que pretendem derrotar a revolução são sectárias, a luta do povo não. Não importa a que religião ou corrente religiosa pertence cada um, somos todos humanos e lutamos pelo mesmo, queremos liberdade, democracia e uma vida melhor. É uma questão de classe e não uma questão religiosa”, disse Abu Maen.

O medo de todas as forças contra-revolucionárias é que o povo vença, tome o poder e lidere o rumo da Síria, apoiado pelas estruturas locais mais enraizadas e próximas das populações, como os comités locais.

 

“O governo provisório sírio é um fantoche dos Estados Unidos”

O povo sírio também está contra o governo provisório formado recentemente pela Coligação Nacional Síria, na Turquia, para coordenar o rumo do país. Trata-se de “um [Governo] fantoche dos Estados Unidos da América“, acusou Abu Maen.

Esse governo provisório representa uma aliança entre a Irmandade Muçulmana Síria e a Coligação Nacional Síria (CNS), que tem como líder o islamista Ahmed Tomeh, e não o povo sírio, garante o rebelde.

O Governo foi “formado fora da Síria. Os sírios não puderam participar nessa eleição nem a maioria da população conhece as pessoas que o formam“.

Abu Maen denunciou também que os Estados Unidos da América estão a “investir em diferentes fantoches para que possa espalhar a sua ideologia na Síria” e que a Rússia tem “um papel crucial na guerra civil síria“, visto que, na prática, é “a espinha dorsal do regime de Bashar al-Assad” ao defender “o seu último reduto militar” na região.


Comunidade internacional contribui para o isolamento das forças revolucionárias

Os Estados Unidos não estão, na prática, contra Assad, como tem feito acreditar o Governo do país e os media; eles têm é medo que este já não sirva ao seu interesse de travar a revolução no país e tenta agora, de todas as formas, conseguir aliados. Se os norte-americanos quisessem de facto derrotar Assad e libertar o país da ditadura, tinham armado os rebeldes. Mas preferiram usar o argumento do “medo de que as armas caíssem nas mãos erradas”, mas o problema é que “as mãos erradas não precisavam de esperar por armas, já as tinham“, enquanto “as mãos certas só tinham pedras e ‘cocktais molotovs’“, refere Abu.


Revolução Síria precisa de apoio no plano internacional

Nem os Estados Unidos, nem a comunidade internacional querem, na realidade, que a revolução popular vença na Síria. O que estão a tentar fazer é ganhar tempo e espaço para conseguir aliados traidores e criar governos fantoches para encontrar uma “solução” para o país que esteja sob o seu controlo e não sob o comando do povo. O falso argumento do “medo” que a “comunidade internacional” afirma ter “de entregarem armas” aos rebeldes só tem servido para deixar “o movimento revolucionário mais isolado e fraco”, denuncia Abu Maen.

Para que a revolução vença, os rebeldes têm de ter mais força bélica para assegurar a proteção/manutenção dos locais já libertados do regime e avançar no terreno, conquistando mais cidades quer das forças da Assad, quer da Al-Qaeda. Além disso, também precisam de apoio no plano internacional para sair do isolamento. Para potenciar esse apoio, a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-Quarta Internacional), à qual pertence o MAS, tem organizado, em vários países, diversas acções de solidariedade com a revolução e o povo sírio para defender claramente:

Fora Assad e Al-Qaeda!

Não à intervenção imperialista!

Por mobilizações de apoio em todos os países à revolução síria e contra os planos de invasão imperialista!

Pela ruptura das relações diplomáticas e comerciais com a ditadura síria!

Que os governos do mundo enviem armas e medicamentos para os rebeldes sírios!  

Pelo triunfo da revolução síria!

 

Maria Castro

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