Os países europeus, sobretudo a França, o Reino Unido e a Itália, têm adoptado, nos últimos anos, políticas cada vez mais duras, reaccionárias e discriminatórias contra os imigrantes, quer seja contra aqueles provenientes de países europeus, quer de fora da Europa, sobretudo os que são considerados ilegais, o que tem contribuído para potenciar, de forma significativa, a xenofobia e também o racismo no Velho Continente.
França detém e expulsa jovem cigana durante actividade escolar
No dia 9 de Outubro, as autoridades francesas, apoiadas pelo Governo socialista do país, mandaram prender a jovem estudante cigana Leonarda Dibranni, uma rapariga de apenas 15 anos que estava a viver em França com a mãe e cinco irmãos, depois de terem fugido do Kosovo para escapar à perseguição aos ciganos que existe naquele país (1).
A jovem, aluna do Instituto André Malraux, na localidade francesa de Levier, foi detida durante uma excursão escolar que estava a realizar com os colegas e professores, sem qualquer respeito pelos direitos humanos e pela sua dignidade. De acordo com relatos dos jornais franceses Le Monde e Libération, Leonarda frequentava aquela escola há cinco anos, estava integrada na sociedade, falava perfeitamente francês e sempre teve boas notas.
Manuel Valls, ministro do Interior francês, defendeu a medida e disse que a legislação sobre os imigrantes ilegais deve ser “firmemente seguida” e que o repatriamento de Leonarda e da sua família “respeitou escrupulosamente os direitos dos estrangeiros”. Ora, o que o Governo francês fez foi expulsar, de forma desumana, uma jovem que estava claramente integrada e que faz parte da minoria étnica mais perseguida da Europa, os ciganos, sem qualquer escrúpulo.
Várias associações de defesa dos direitos dos ciganos denunciaram o Governo francês e acusaram-no de discriminar esta população.
O tema está a causar polémica em França entre as várias forças políticas e os jovens franceses estão a contestar e a protestar contra a expulsão da jovem. Estudantes de vários liceus no país fecharam recentemente diversos estabelecimentos de ensino em Paris para mostrar o seu descontentamento face à decisão do Governo (2).
Por outro lado, várias sondagens revelaram que 93 por cento dos franceses consideram que os ciganos “não se integram e não se esforçam por o fazer”, a mesma teoria que tem sido defendida por Manuel Valls e que não corresponde à verdade, pelo menos no caso de Leonarda Dibranni.
Reino Unido intimida imigrantes ilegais através de campanha de sms
Já no Reino Unido, está em plena acção uma campanha de sms contra os imigrantes ilegais, levada a cabo pelo Ministério do Interior inglês, a qual consiste em enviar mensagens por telemóvel para tentar intimidar e convencer os imigrantes em situação ilegal a sair do país e a entrar em contacto com as autoridades (3).
Primeiramente, as mensagens diziam claramente: “Tem de deixar o Reino Unido porque já não tem o direito de permanecer aqui”. Agora, tornaram-se mais suaves: “Os nossos registos mostram que poderá não ter autorização para permanecer no Reino Unido. Por favor contacte-nos para discutir o seu caso”; mas não deixam de ser uma forma de perseguição e intimidação contra essas populações.
As mensagens estão a ser enviadas de forma aleatória a até imigrantes com documentos que já vivem no Reino Unido há décadas estão a recebe-las.
Bobby Chan, imigrante a viver no Reino Unido desde 1973, disse ter ficado surpreendido com o facto de ter também recebido a mensagem e afirmou que “este tipo de acções estereotipa os imigrantes como uma comunidade criminosa e cria uma atmosfera de medo”, refere o Público.
Trata-se da segunda campanha anti-imigração mais intimidatória realizada no Reino Unido nos últimos tempos. Na primeira, várias carrinhas passavam nas zonas de Londres com grande concentração de imigrantes ilegais a dizer que eles tinham de voltar para o seu país ou então estavam sujeitos a prisão.
Em Itália, imigrantes ilegais são considerados criminosos
Em Itália existe, desde 2002, uma lei, conhecida como lei Bossi-Fini, que criminaliza a imigração ilegal e faz com que os imigrantes que chegam ao país, inclusive aqueles vindos do Norte de África e que conseguem escapar à morte (como os que sobreviveram aos dois últimos desastres marítimos registados nos dias 8 e 11 de Outubro no Mediterrâneo, ao largo da costa italiana) sejam considerados criminosos e possam ter de pagar coimas de valores avultados. Quem acolhe os imigrantes ilegais também pode ser condenado até três anos de prisão.
Não é esta a Europa que queremos!
É fundamental que as forças de esquerda europeias estejam unidas para denunciar e lutar fortemente contra as políticas discriminatórias e anti-imigração adoptadas pelos países europeus e pela União Europeia (UE) e defender os direitos dos imigrantes e a sua integração, bem como denunciar todas as formas de opressão.
Uma Europa xenófoba, reaccionária e racista não é a Europa que defendemos e queremos. A escalada de medidas e políticas anti-imigração representa um crime contra a humanidade e só tem servido para aumentar o sentimento xenófobo entre os europeus e para potenciar o crescimento dos grupos e partidos de extrema-direita.
Forças partidárias de extrema-direita como a Aurora Dourada, na Grécia, a Frente Nacional, em França, O Partido da Liberdade, na Áustria, e o partido neonazista Jobbik, na Hungria, têm vindo a ganhar força e essas políticas europeias também têm contribuído para isso.
É urgente travar essas políticas e mostrar que o imigrante não é um criminoso, mas sim uma vítima e mais um explorado pelo sistema, como outros milhares na Europa. A saída da crise e a solução dos problemas sociais e económicos europeus e mundiais passa pela inclusão, pelo fim da exploração capitalista e das fronteiras enquanto barreiras de exclusão e pela luta contra todas as formas de opressão e exploração.
Uliana Castro