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10 questões fundamentais para compreender a Revolução Síria

A Revolução Síria corre perigo! A intervenção da Rússia, do Irão e do Hezbollah permitiu que o regime decadente de Bashar Al Assad recuperasse o controlo em cidades importantes e desencadeasse uma nova onda de massacres contra a população. A contrarrevolução já consumiu mais de 100 mil vidas. O povo sírio e a revolução necessitam do apoio e solidariedade activa dos trabalhadores e jovens de todo o mundo!

Os activistas e militantes das organizações políticas, sindicais, populares e estudantis devem expressar sua solidariedade e apoio incondicional à luta revolucionária do povo sírio, para derrubar o regime ditatorial e genocida de Bashar Al Assad, e, ao mesmo tempo, repudiar a intervenção do imperialismo norte-americano e europeu, bem como a intervenção da Rússia, China, Irão e Hezbollah.

Entender a Revolução Síria e prestar solidariedade a ela é parte essencial da luta internacional dos trabalhadores e de todos os explorados e oprimidos contra o capitalismo imperialista.

Participe das ações de solidariedade na sua cidade!

 

1) Existe mesmo uma revolução acontecendo na Síria?

Sim! Existe uma revolução muito profunda e poderosa na Síria! Ela é parte do processo social e político denominado “Primavera Árabe” pela grande imprensa e “Revolução no norte da África e Médio Oriente” por nós. A Revolução na Síria é atualmente o ponto mais elevado e crítico dessa revolução regional que começou na Tunísia e que se estendeu por quase todos os países da área. É uma onda de revoluções que choca primeiramente contra o regime político, isto é, contra ditaduras que governam os países árabes há décadas em conformidade com os interesses do imperialismo. No mesmo acto, ao despertar e colocar em movimento milhões de pessoas que suportaram por longos anos a miséria e a opressão, essas revoluções transformam-se num enfrentamento global contra o sistema capitalista e contra o imperialismo. A recente explosão de revoltas populares na Turquia, por exemplo, que começou por motivos aparentemente “inofensivos” e converteu-se imediatamente num questionamento radical à ordem estabelecida, demonstra a natureza, a extensão e a profundidade deste processo revolucionário.

 

2) Muitas pessoas dizem que não há uma revolução na Síria, e sim uma guerra civil entre etnias ou grupos religiosos, entre sunitas e alauitas, por exemplo.

O imperialismo e o regime de Bashar Al Assad usam a religião como arma para dividir os sírios e facilitar o trabalho da contrarrevolução. Aplicam assim a velha estratégia “dividir para reinar”. Mas a Revolução Síria, por sua origem e natureza, não tem nada a ver com conflitos entre ideologias religiosas: trata-se da luta política (e militar) contra um regime ditatorial, policial e terrorista. A propaganda reproduzida pela imprensa internacional sobre os “conflitos sectários” tem o objetivo de gerar indiferença e impedir que a revolução receba a solidariedade de que necessita. Mas, na verdade, as diferentes tradições ou vertentes da religião islâmica convivem em paz há dezenas de anos na Síria e em muitos países árabes. Não é por acaso que uma das principais palavras de ordem da revolução é: “O povo sírio é um só!”

 

3) A Síria está sendo invadida pelo imperialismo? Neste caso, não deveríamos ficar ao lado da Síria contra os EUA e Israel?

Essa é a propaganda feita pela ditadura de Bashar Al Assad e repetida em todo o mundo pela direção das correntes stalinistas, social-democratas e castro-chavistas. Eles mentem dizendo que existiria uma “guerra de libertação nacional” na Síria, como a que ocorreu no Iraque a partir de 2003.

No entanto, não existe guerra de libertação nacional na Síria! Existe sim uma guerra civil revolucionária, em que as massas pegaram em armas para resistir aos crimes da ditadura, ao terror, aos métodos de extermínio, prisões e assassinatos em massa, aos bombardeios e ao emprego das Forças Armadas contra a população. Ou seja, o que vemos na Síria é o choque armado entre revolução e contrarrevolução.

Aos que duvidam disso, basta observar a maneira como o regime trata a população. Em qualquer guerra de libertação nacional, o Estado burguês e suas Forças Armadas mobilizam a população para combater ao lado do governo e do regime contra o exército invasor. Bashar Al Assad, ao contrário, está massacrando a população, com o fim de derrotar uma revolução, isto é, para derrotar o povo sírio e as forças políticas e militares que atacam a ditadura para destruí-la, como o primeiro acto da revolução vitoriosa, e conquistar liberdades democráticas e civis elementares.

 

4) Mas o governo sírio não é anti-imperialista?

Não! Bashar Al Assad não é, nem nunca foi, anti-imperialista! Segundo documentos revelados pelo site WikiLeaks, o governo sírio não só praticou prisões arbitrárias, tortura e assassinatos sistemáticos a mando da CIA, como também possuía, até há muito pouco tempo atrás, relações estreitíssimas com os serviços secretos americano.

A família Assad é amiga dos americanos há muito tempo! O pai, Hafez al Assad, de quem Bashar “herdou” o trono de presidente, participou ativamente da primeira invasão do Iraque, sob o comando do governo americano, em 1990-91. Em 1976, quando a Síria ocupou o Líbano com o objetivo de derrotar o movimento nacional palestiniano, que lutava contra Israel, os Assad contaram com o respaldo direto de Washington e Tel Aviv. Não por acaso, os Estados Unidos se preocupam menos com a possibilidade de Assad usar suas armas químicas do que com a possibilidade delas saírem de suas confiáveis mãos.

Durante 40 anos, as fronteiras da Síria com Israel foram as mais seguras do mundo: Assad nunca deu um tiro sequer contra Israel! Assad usou os seus aviões, os seus mísseis e as suas armas químicas contra o seu próprio povo, mas contra Israel faz apenas discursos!

Outra evidência do caráter entreguista do governo Assad é que ele tem uma base militar russa em solo nacional! Assad, além de aliado histórico dos americanos, também é agente dos capitalistas russos!

5) Mas não existem milícias fundamentalistas islâmicas financiadas pelo imperialismo combatendo o regime de Bashar Al Assad? E o que é, afinal de contas, o Exército Livre da Síria (ELS)?

O imperialismo actua contra a revolução de diferentes maneiras. Existem sim milícias fundamentalistas salafistas combatendo o regime, financiadas principalmente pela Arábia Saudita e Qatar, países aliados das potências imperialistas. É uma força militar que tem um programa reaccionário, que combate o regime com uma visão sectária, confessional-religiosa, como se a revolução fosse o confronto entre a maioria sunita contra a minoria alauita supostamente representada por Assad.

Embora recebam muito mais recursos e estejam mais bem equipadas que as milícias populares e laicas (não religiosas), que genericamente denominam-se Exército Livre da Síria (ELS), o suprimento de armas dos radicais islâmicos é também limitado a armamentos leves, insuficientes para destruir as Forças Armadas do regime.

Em contrapartida, o ELS tem um maior enraizamento no seio da população, o que lhe dá a sustentação social e política que as milícias salafistas muitas vezes não têm. O Exército Livre da Síria é, portanto, uma frente militar laica formada maioritariamente por sírios desertores do Exército regular, por civis que perderam tudo na guerra e aderiram à revolução e também por todos os setores que impulsionaram a revolução pela via das grandes mobilizações, como os Comitês de Coordenação Locais, que foram obrigados a defender-se e por isso muitas vezes armaram-se.

A direção do ELS, no entanto, defende uma perspectiva laica, democrática e burguesa — e sendo burguesa, apresenta tendências de conciliação com as potências colonialistas. Isso está em contradição com o sentimento da população (e das próprias milícias), que se insurgiu e que deseja liberdades democráticas e justiça social, e não quer nada com o imperialismo.

Os revolucionários, na luta contra Al Assad, precisam fazer unidade táctica, pontual, isto é, militar com todas essas correntes e forças armadas; obviamente mantendo a mais absoluta independência política e de classe e mostrando aos lutadores sírios as inevitáveis inconsequências dessas direções burguesas.

 

6) Mas é correto dar apoio ou participar de uma revolução onde o imperialismo também está actuando?

O imperialismo intervém em todos os aspectos da vida política, econômica e cultural de qualquer país do mundo. Não deveria parecer estranho a ninguém, portanto, que o imperialismo interviesse também no curso de uma revolução, para derrotá-la ou desviá-la para seus próprios fins.

A intervenção do imperialismo faz com que seja mais urgente o apoio à revolução, para impedir que essas potencias desviem ou derrotem essa luta e essa causa que são justas!

 

7) Os EUA estão tentando desestabilizar a Síria para depois invadir o Irão?

Não. Apesar da propaganda disseminada pelos apoiantes da ditadura, isso é mentira. Os EUA querem, ao contrário, estabilizar o mundo árabe e derrotar as revoluções que abalam esses países. Querem o retorno à normalidade, o retorno ao cenário anterior, em que as massas suportavam resignadamente a miséria e a opressão. Tudo o que os EUA não querem é instabilidade.

Por outro lado, o imperialismo não necessitaria desestabilizar a Síria para invadir o Irão. Os motivos pelos quais a guerra contra o Irão (que já existe, embora ainda não tenha assumido a forma de invasão por terra ou ataques aéreos) ainda não foi deflagrada com toda a força são outros: crise económica e política nos EUA, o receio de repetir as derrotas do Iraque e do Afeganistão, etc. Os EUA já possuem um enclave militar no Médio Oriente responsável por invadir os países vizinhos e assegurar seus interesses: o Estado de Israel. E finalmente: Israel não precisaria entrar em guerra antes com a Síria para depois atacar o Irão. Pelo contrário, para Israel, quanto mais estabilidade nas suas fronteiras, melhor!

 

8) Porque é que o Hezbollah invadiu a Síria?

O Hezbollah é um partido-exército burguês. Como tal, por sua natureza de classe, em última instância, é uma organização contrarrevolucionária, isto é, burguesa, capitalista. Representa os interesses políticos e económicos de uma poderosa fração da burguesia libanesa atrelada diretamente ao capital iraniano. O Hezbollah intervém no conflito porque seu suprimento de armas e dinheiro vindos do Irão passa pela Síria, e a queda do regime poderia colocá-lo numa situação delicada dentro do Líbano.

Por outro lado, é quase natural que o Hezbollah intervenha nesse conflito a favor da ditadura de Assad, pois não pode permitir que forças políticas e militares com uma ampla base social e popular (e com aspirações democráticas), como o ELS, ameacem sua hegemonia política assentada no discurso de resistência árabe contra o imperialismo. Isso enfraqueceria muito suas posições políticas.

 

9) Então, afinal, o que é que o imperialismo está a fazer na Síria?

A política do imperialismo tem apenas um objetivo estratégico: evitar que as massas derrubem Assad, pois isto seria uma nova e categórica vitória da revolução, o que é absolutamente indesejável tanto para os EUA, Israel e Europa, quanto para Rússia, China e Irão.

O trágico papel cumprido pela maioria da “esquerda” em nível mundial, que se colocou ao lado da ditadura capitalista de Assad contra as massas, permite ao governo dos EUA aparecer aos olhos de todo o mundo com a face “democrática” de Obama, isto é, como suposto “defensor da democracia”.

Aproveitando essa posição política confortável, o imperialismo actua contra a revolução de dois modos distintos:

(1) Realiza esforços diplomáticos visando uma “saída negociada” para o conflito armado, procurando convencer Assad a renunciar. O objetivo é conseguir um “governo de transição”, com membros da oposição e membros do regime, mas sem Assad. Trata-se da mesma política adoptada contra a revolução no Egito e no Iémen: usar a renúncia do principal representante do governo para, em seguida, substituí-lo por outros representantes do governo e da oposição que possam travar o movimento de massas e manter o essencial do regime, do Estado e de suas Forças Armadas (o que significa manter a ordem capitalista e imperialista);

(2) Por outro lado, infiltra na frente militar da revolução as milícias fundamentalistas salafistas, para o caso de uma eventual vitória da revolução, isto é, se Assad for derrubado. Do ponto de vista dos EUA e das petromonarquias do Golfo Pérsico, essas milícias poderiam cumprir um papel contrarrevolucionário de primeira linha, a serviço dos interesses gerais do imperialismo. Nesta hipótese, as milícias fundamentalistas poderiam formar uma barreira de contenção contra o movimento de massas vitorioso, evitando que este avance em suas reivindicações e questione o próprio poder burguês.

O imperialismo, em síntese, apesar de defender a saída de Assad (não porque o ditador sírio seja “anti-imperialista”, como prega o castro-chavismo, e sim porque ele já não consegue estabilizar o país e derrotar a revolução) não é um aliado da revolução. Como não tem condições políticas de fazer uma intervenção militar com as suas próprias tropas, assim como não quer uma vitória revolucionária das massas, impulsiona uma saída “negociada”, para acalmar a situação e manter o regime no essencial, mesmo sem Assad.

A proibição da ONU e da União Europeia ao envio de armas às forças rebeldes é uma demonstração categórica do medo que o imperialismo tem de armar uma revolução que não controla, ao contrário do que afirma o castro-chavismo (que diz que os rebeldes são mercenários da CIA).

Por isso, mais do que nunca, é urgente e necessário: (1) Dizer NÃO a qualquer tipo de negociação que salve o regime do Baath, que salve a ditadura; (2) Dizer NÃO a qualquer intervenção militar do imperialismo; e (3) Exigir de todos os governos capitalistas do mundo, inclusive dos EUA, da Europa e da Liga Árabe, o envio de armamento pesado (tanques, aviões, mísseis antiaéreos, etc.), sem a imposição de qualquer condição, para o Exército Livre da Síria.

 

10) Qual deve ser a posição dos trabalhadores e jovens de todo o mundo diante desse conflito?

Todos aqueles que lutam contra a exploração capitalista e contra todas as formas de opressão, todos aqueles que defendem a democracia, os direitos e liberdades civis, precisam urgentemente se colocar ao lado do povo sírio, contra a ditadura capitalista-genocida de Bashar Al Assad.

Defender a Revolução Síria significa defender a luta dos explorados de todo o mundo contra o sistema capitalista e imperialista. Significa, portanto, que estamos contra o imperialismo norte-americano e europeu, e também contra seus agentes regionais israelenses; contra a intervenção da Rússia e da China, e também contra seus agentes regionais iranianos.

É preciso defender incondicionalmente a revolução, apesar de sua direção política (a cúpula do ELS e a Coaligação Nacional de Oposição) ser burguesa e, como tal, vacilante e com tendências conciliadoras. Como em toda revolução, a força do processo revolucionário reside nas massas, isto é, na base das milícias, nos milhares de trabalhadores e jovens armados que combatem a ditadura com o apoio do povo sírio. A vitória ou a derrota da Revolução na Síria terá profundas consequências para a luta dos explorados e oprimidos de todo o mundo. O significado desta batalha não se restringe ao território sírio ou ao Médio Oriente . Como diz uma das mensagens dos revolucionários da cidade síria de Kafranbel:

“Não se trata apenas de uma ‘Primavera Árabe’, mas de um tsunami que varrerá da face da Terra todos os regimes ditatoriais do mundo!”

Ecoamos as palavras de ordem dos revolucionários sírios:

Fora Assad!

Viva a Revolução Síria!

Não à intervenção imperialista!

Viva a solidariedade internacional!

 

Aldo Cordeiro Sauda, Fabio Bosco, Márcio Palmares, Ronald León Núñez e Sebastião Nascimento
Junho de 2013

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