Os trabalhadores da General Motors de São José dos Campos, no Estado de São Paulo, entraram em greve, na terça-feira, dia 22 de janeiro, e ocuparam a Rodovia Presidente Dutra, que faz a ligação entre o Rio de Janeiro e São Paulo, como forma de pressionar o governo de Dilma Roussef a proibir as 1.598 demissões programadas pela montadora.
A ocupação da Via Dutra aconteceu, no km 141, nos dois sentidos, em frente à fábrica da GM, das 6h30 às 7h30. Pneus foram queimados para interromper o trânsito e os trabalhadores tomaram a rodovia, com faixas e cartazes. Uma das faixas trazia a frase “Dilma, proíba as demissões na GM”. Cerca de 4,5 mil trabalhadores participaram da manifestação.
Após a ocupação, os metalúrgicos foram para as suas casas, dando início à greve de 24 horas. A GM de São José dos Campos possui 7.500 trabalhadores. A produção está 100% parada e a fábrica deixará de produzir 480 veículos (modelos S10, Classic e Blazer) e 2.400 motores e transmissões durante a greve.
Os metalúrgicos estão em luta em defesa do emprego e reivindicam que a presidente Dilma Rousseff assine uma medida provisória proibindo que empresas beneficiadas por incentivos fiscais, como é o caso da GM, realizem demissões.Última negociação
Os trabalhadores entram em greve um dia antes da última rodada de negociação entre GM e Sindicato dos Metalúrgicos, que acontece no dia 23 de janeiro, a partir das 9h, na sede do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
No encontro, o Sindicato tentará chegar a um acordo com a montadora para que sejam preservados todos os postos de trabalho. Caso não cheguem a um entendimento, a negociação poderá ser estendida para o dia 26, último dia atingido pelo acordo anterior, firmado em agosto do ano passado.
Nesse mês, a GM anunciara que fecharia o setor MVA (Montagem de Veículos Automotores) da fábrica de São José dos Campos e que demitiria 1.840 trabalhadores. Um acordo aprovado pelos metalúrgicos suspendeu a medida até o dia 26 de janeiro.
Desde então, mais de 300 funcionários já aderiram ao Programa de Demissão Voluntária (PDV) aberto pela empresa. Outros 779 estão em lay-off (suspensão de contrato de trabalho).
Diversas rodadas de negociação já aconteceram, mas a GM continua com o propósito de demitir. A montadora chegou a apresentar uma proposta com 17 pontos para redução de direitos, mas não deu qualquer garantia de manutenção dos empregos.
Como forma de evitar as demissões, o Sindicato propõe, por exemplo, que seja mantida a produção do modelo Classic em São José dos Campos e que carros que hoje são importados passem a ser produzidos no Brasil. O Sindicato também concorda em discutir um novo acordo trabalhista, desde que haja garantia de empregos e investimentos.Manifestação antecipada
A manifestação de 22 de janeiro estava prevista para ocorrer, na verdade, no dia 23, mas o Sindicato decidiu antecipar.“Não podemos esperar o dia de amanhã. Queremos que esta manifestação ecoe em Brasília e que a presidente Dilma se some à luta dos metalúrgicos”, afirma o presidente do Sindicato, Antonio Ferreira de Barros.
O dia 23 é o Dia de Ação Global contra os Ataques da GM, que acontece em oito países: Brasil, Estados Unidos, Argentina, Alemanha, Colômbia, Espanha, França e Itália. A ocupação da Rodovia Presidente Dutra e a greve de 24 horas fazem parte das atividades.
Fonte: http://www.sindmetalsjc.org.br/
A crise económica mundial e a GM
Ameaça de demissões no Brasil faz parte da política da montadora em todo o mundo
O final do ano de 2008, um dos momentos de aprofundamento da crise económica, em particular nos Estados Unidos, marcou profundas transformações na GM. Acossada pela crise, a empresa chegou a entrar em concordata. As suas ações chegaram a valer menos de um dólar e o governo americano foi obrigado a intervir para impedir a bancarrota total da multinacional, o que teria consequências no agravamento da situação económica mundial.
Em acordo que envolveu os ex-acionistas, o governo norte-americano, o governo canadiano e o VEBA, uma espécie de fundo de pensão administrado pelo UAW (o sindicato nacional dos trabalhadores da indústria automobilística), a empresa conseguiu sair da concordata rapidamente e promoveu uma grande reestruturação que já vinha sendo perseguida pela companhia há anos.
O governo Obama ficou com a maioria das ações e o controle da administração da GM. A saída da concordata no início de 2009 implicou no fechamento de 17 fábricas, na extinção de diversas marcas, na demissão de 35 mil trabalhadores e na criação de uma “Nova GM”, fruto da reestruturação.
Em colaboração com a burocracia sindical da UAW (que se transformou em “sócia” da empresa), foram criadas novas estruturas salariais que rebaixaram para metade o salário da nova geração de trabalhadores – passou de 32 dólares por hora para entre 12 e 16 dólares. Essa foi a base da forte reestruturação nos EUA, onde quem pagou a conta da crise foram os trabalhadores.
Junto com isso, a empresa conseguiu altos lucros em países como Brasil, China, Coreia, que possibilitaram uma alta remessa de lucros para a matriz. Também ocorreu uma reestruturação parcial na Europa, com a precarização do trabalho e o fechamento de plantas, como em Antuérpia, na Bélgica.
Com isso, a empresa retomou em 2011 a posição de primeira montadora do mundo, derrubando a Toyota, afetada pelos efeitos do tsunami no Japão. Em 2012 a Toyota retomou a liderança, mas por uma pequena diferença.Reestruturação internacional
Esta receita da GM foi amplamente utilizada pelas montadoras nos EUA e no mundo levando a uma precarização geral do trabalho. Os trabalhadores hoje veem as suas condições de vida deteriorar-se rapidamente. Fazer mais carros com menos trabalhadores e salários menores é o que faz a GM, utilizando também avançadas tecnologias.
Assim, apesar da crise económica, cresce a produtividade do trabalho nos EUA e a competitividade da empresa, que se recupera e se aproveita do pequeno crescimento do mercado automobilístico norte-americano. A GM, agora, prepara-se para voltar integralmente à Bolsa de Valores, e o governo Obama irá vender as suas ações e deixar o controlo da empresa.
No entanto, a forte concorrência entre os capitalistas, o crescimento das empresas asiáticas e o aprofundamento da crise económica na Europa fazem com que a reestruturação seja permanente e cada vez maior. Só assim as empresas podem manter as suas taxas de lucros e ganhar mais força, aumentando a exploração dos trabalhadores.
Ofensiva das montadoras
Assistimos neste momento a uma sucessão de ataques, com ameaças de fechamentos de empresas em vários países e o deslocamento da produção para regiões de baixo custo. Até na Alemanha, onde não se fecha uma planta desde a Segunda Guerra Mundial, a GM quer acabar com a produção na fábrica em Bochum em 2016. Na França, a PSA GM quer fechar uma planta, demitir até 8500 trabalhadores e enfrenta uma greve neste momento.
A Ford anunciou o fechamento da planta na Bélgica no final do ano passado, o que também tem gerado protestos. As sucessivas concessões feitas nesta empresa pela burocracia sindical, com redução de direitos e salários, não impediram que a multinacional tomasse esta decisão.
Na Itália, a veterana Fiat tem promovido uma forte reestruturação com diminuição dos postos de trabalho, fechamento de plantas e chantagens sobre os trabalhadores. Com a queda das vendas na Europa, cresce a concorrência entre as empresas e as fusões para aumentar a escala de produção. Estima-se que apenas seis ou sete montadoras sobreviverão em escala mundial a esse processo.
Ataques no Brasil
A ofensiva da GM no Brasil tem como pano de fundo esta situação, apesar do crescimento das vendas. A vinda de novas empresas que praticam baixos salários e normalmente se instalam em locais com fraca tradição sindical pressionam ainda mais a reestruturação. A “receita GM” espalha-se da matriz, nos EUA, para todo o mundo. Trabalhar mais com menos trabalhadores e salários mais baixos, fechar fábricas e diminuir os postos de trabalho. Por isto também deve ser enfrentada internacionalmente.
As mobilizações que se iniciam na Europa contra o fechamento de fábricas mostram o caminho. O encontro realizado em São José dos Campos (SP) no ano passado entre operários do Brasil, Espanha, Alemanha e Colômbia apontou para a necessidade da luta unificada. As recentes manifestações em Detroit (nos EUA) durante o Salão internacional do Automóvel e a realização de um dia global de manifestações no dia 23 de janeiro, apoiando a luta dos metalúrgicos da GM de São José dos Campos, são expressões dessa visão internacional.
Ainda são pequenas iniciativas, mas apontam o caminho. Contra a globalização capitalista, temos de apostar na globalização das lutas e da resistência.
Luiz Carlos Prates (Mancha), diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região