Lugo e os latifundiários são os responsáveis pelo massacre de Curuguaty

O Partido dos Trabalhadores (PT) repudia a desocupação [de uma fazenda], no dia 15 de junho, em Curuguaty (Canindeyú), no Paraguai, que terminou com pelos menos 18 mortos, dos quais 10 são camponeses sem-terra, que, desesperados, decidiram resistir, armas nas mãos, à repressão policial.

Expressamos a nossa solidariedade com as famílias dos mortos e dos feridos, que totalizam mais de cem, e responsabilizamos o governo do presidente Fernando Lugo por este massacre, uma vez que não avançou um só milímetro na reforma agrária, e exigimos o julgamento e castigo dos responsáveis.

A violenta desocupação começou às 8 horas do dia 15 de junho, numa estância de cerca de 2.000 hectares que constava como propriedade do empresário e ex-senador colorado Blas N. Riquelme. Segundo denúncias feitas há alguns anos, Riquelme teria se apoderado ilegalmente dessas terras durante a ditadura da trilogia Stroessner-Partido Colorado-Forças Armadas. Os camponeses, que ocuparam uma pequena parte desse latifúndio, sustentam que são terrenos públicos.

Os meios de comunicação empresariais e os sindicatos que representam os latifundiários, pecuaristas e plantadores de soja responsabilizam o governo por ser “frouxo” e até “cúmplice” dos camponeses sem-terra. Esta é uma mentira perigosa, já que tudo o que o governo de Fernando Lugo fez foram tímidas iniciativas em relação à entrega de terras para a reforma agrária e realizou mais desocupações do que os governos colorados anteriores.

Este governo nada tem de cúmplice da luta pela terra, pelo contrário, hoje, uma vez mais, apertou o gatilho contra famílias camponesas.

A recuperação das terras ilícitas (1): uma isca para ganhar apoio

A recuperação das terras ilícitas foi a isca oferecida por Lugo às organizações camponesas para que estas lhes dessem apoio. Agora, depois do massacre, a única resposta dada por Lugo foi ordenar às Forças Armadas a continuar e endurecer a repressão enquanto o seu ministro do Interior, Carlos Filizzola, afirmou ter atuado “como a lei manda” e enviou “um efetivo de 321 policiais” para fazer a desocupação.

Manifestamos o nosso profundo pesar e solidariedade às famílias dos companheiros camponeses mortos e feridos. Ao lutar por um pedaço de terra para cultivar e alimentar as suas famílias, terminaram sendo vítimas da política do aparelho estatal servil à minoria proprietária. Acreditamos que a ocupação é um método legítimo e até hoje o mais eficaz para a recuperação das terras ilícitas.

Estamos diante de uma grande repressão aos movimentos camponeses gerada pelo absoluto servilismo e submissão do governo de Lugo e toda a estrutura estatal à grande concentração da terra em mãos de uma minoria rica e prepotente a que são submetidas milhares de famílias camponesas empobrecidas.

Chamamos a todas as organizações sociais e partidos que se reivindicam de esquerda a apoiar os feridos, as famílias e as associações camponesas desamparadas com a morte de dezenas de seus dirigentes e ativistas. Propomos uma urgente unidade de ação entre todos para exigir justiça e castigo aos responsáveis materiais e políticos pelo massacre.

Uma batalha na luta pela terra

Este massacre e é uma batalha a mais na guerra travada no campo paraguaio há décadas. O número de camponeses assassinados pós-ditadura já ultrapassa a casa dos 100. Esta guerra não terminará até mudar radicalmente a distribuição das terras onde somente 1% de proprietários concentra mais de 80% das terras.

Mais do que nunca devemos levantar as bandeiras da Reforma Agrária Radical. Devemos destruir a atual estrutura de ocupação da terra. Sem reforma agrária, haverá muito mais mortes, como resultado da tragédia social e humana que afeta milhares de famílias camponesas.

Exigimos o imediato desmantelamento do aparelho repressivo estatal e a revogação da lei antiterrorista!

    Basta de militarização, fora as Forças Armadas do campo!

    Não ao estado de exceção, julgamento e castigo dos responsáveis!

(1) Terras usurpadas, terras públicas que foram entregues de forma irregular a fazendeiros, sojeiros, empresários do agro-negócio, militares da ditadura, etc., pelos sucessivos governos do partido Colorado, em especial pela ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).

Comitê Executivo do Partido dos Trabalhadores, Paraguai

15/06/2012

Tradução: Rosangela Botelho

Anterior

A Argentina e a dívida externa

Próximo

Continua desaparecida militante da LIT no Equador