Na Síria, a luta de classes é encarniçada. No último dia 25 de maio, o mundo assistiu horrorizado as cenas terríveis de crianças e mulheres assassinadas a sangue frio pela ditadura de Bashar Al Assad.
Aconteceu em Houla, uma cidade a 25 km da heroica Homs, já imortalizada como a “capital da revolução”. Nesse dia, após intensos bombardeios da artilharia pesada, ocorreram confrontos entre os soldados do exército regular e as milícias populares que tentavam defender Houla com o que tinham nas mãos. A superioridade militar da ditadura possibilitou a sua vitória parcial e Houla foi ocupada.
Eis quando os sinistros grupos de shabbihas – bandas armadas compostas por capangas a serviço do regime – entraram em ação. Incendiaram os hospitais e começaram a “caçar” os rebeldes, casa a casa. Irromperam nelas cortando gargantas com facas, apunhalando com raiva ou dando tiros na cabeça de qualquer pessoa que encontraram em seu caminho. O resultado já é conhecido: 116 civis foram assassinados, entre eles 49 crianças menores de 10 anos e 39 mulheres. Entre os cadáveres foi encontrado um bebé de oito meses.
Um comandante da aviação do exército sírio, Yihad Raslan, presenciou esta matança e depois desertou. Ao jornal inglês The Guardian disse o que se passou: “[Os shabbihas] entraram na cidade em carros, caminhões e motocicletas e foram casa a casa assassinando os civis, inclusive crianças, a sangue frio (…). Gritavam ‘sempre shabbiha, por teus olhos, Al Assad’. Era óbvio quem eram”. Depois, o militar sírio explicou o porquê de sua deserção posterior: “Diziam-nos que os grupos armados assassinavam as pessoas e que o Exército Livre Sírio queimava casas. Mentiram para nós. Agora vi com meus próprios olhos o que eles estão fazendo”.
No dia seguinte à matança em Houla, outras 40 pessoas morreram por causa dos intensos bombardeios em Homs. Entre elas havia oito crianças. Dias mais tarde, diante do olhar atónito do mundo, novamente Houla era martirizada com os canhões dos tanques de Assad. A cidade de Houla é só uma mostra, ainda que aterrorizante, do que acontece todos os dias na Síria.
Cotidianamente a ditadura bombardeia cidades, assassina civis, encarcera ou desaparece com os opositores e utiliza a violação de mulheres e crianças como arma sistemática contra o povo sírio.
Estamos a assistir a um banho de sangue
Desde que começaram as mobilizações populares, faz uns 15 meses, morreram mais de 13.400 pessoas, outras 230.000 tiveram que fugir de suas casas para se deslocar a outros pontos do país e existem mais de 78.000 refugiados na fronteira entre o Líbano e a Turquia. São milhares os presos políticos que apodrecem nas masmorras do regime e mais de um milhão as pessoas que precisam urgentemente de ajuda humanitária. Estes são os dados oficiais da ONU e de organismos de defesa dos direitos humanos. Sem dúvida, a realidade é ainda mais cruel.
É evidente que Assad está decidido a manter-se no poder, mesmo que ensanguentando todo o território sírio. Num discurso pronunciado no dia 3 de junho, negou cinicamente toda responsabilidade de seu governo na matança da cidade de Houla, repetindo o seu discurso de sempre: a responsabilidade foi de “grupos terroristas financiados no exterior”.
Depois, comparou-se a um cirurgião que realiza uma operação de emergência para salvar a vida de um paciente e que, por isso, tenha sujado as mãos de sangue: “Quando um cirurgião numa sala de cirurgia… faz cortes, limpa e amputa, e a ferida sangra, alguém diz-lhe que suas mãos estão manchadas de sangue? Ou agradecemos-lhe por salvar o paciente?”. Concluiu o seu discurso dizendo: “A Síria está a enfrentar um plano de destruição (…) temos que combater o terrorismo para que o país se cure (…). Não vamos ser indulgentes”. (El País).
A guerra civil se espalha e aprofunda
É um fato difícil de contestar que a Síria é, atualmente, um dos epicentros do processo revolucionário que estremece o Norte da África e o Médio Oriente. Não só isso: a Síria é um dos pontos mais altos da luta de classe a nível mundial.
Nesse país, desde o fim de 2011 está em curso uma sangrenta guerra civil. Nas ruas e cidades sírias trava-se um combate tão feroz como mortal entre revolução e contrarrevolução mundial.
Após os acontecimentos em Houla, o comando de Exército Livre de Síria (ESL) anunciou que rompia o acordo de “cessar-fogo” impulsionado pela ONU para assim poder “defender o povo”. No dia 5 de junho, os rebeldes mataram pelo menos 22 soldados leais à ditadura de Damasco, enquanto perderam nove de seus homens, segundo declarou o Observatório Sírio de Direitos Humanos. Os principais combates aconteceram na cidade costeira de Latakia (berço da família Assad). Nestes confrontos, o ESL destruiu ao menos cinco carros de combate e veículos blindados de transporte de pessoal, além de ter tomado o controle de várias delegacias na localidade de Haffeh.
E assim se combate em quase todo o país. A luta armada atinge cidades importantes como Homs (a terceira cidade do país), que apesar de ser sistematicamente bombardeada não só não foi tomada pelas forças de Assad, senão que os rebeldes controlam 20% da cidade. As armas trovejam em Idlib, Hama, Deraa (que é a cidade onde começaram os conflitos) e houve confrontos até nas Colinas do Golã, um território altamente conflituoso que foi roubado por Israel em 1967. Os combates chegaram à periferia da capital, Damasco, bem como a Aleppo (a segunda cidade do país), onde o movimento estudantil tomou as universidades e são realizadas manifestações multitudinárias, algumas delas nos funerais dos mártires, sob o lema “Uma revolução para todos os sírios”. Al-Rastan é outra cidade tomada pelos rebeldes.
Nas últimas semanas ocorreram vários atentados contra sedes importantes do governo e das Forças Armadas localizadas em Damasco e Hama. E, também, ataques contra os comboios dos observadores da ONU que atualmente estão em solo sírio. Alguns destes ataques foram assumidos por um grupo jihadista chamado Yebha al Nasra (Frente de Ajuda).
A luta adquiriu tais proporções que até a ONU teve de reconhecer que os rebeldes controlam “uma parte significativa” do território. E não só isto. O conflito sírio, para maior intranquilidade do imperialismo e das burguesias árabes, está a alcançar o Líbano. Nesse país limítrofe acontecem confrontos armados há semanas, sobretudo na cidade de Trípoli, entre os simpatizantes da revolução síria e os defensores do regime de Assad, que até esta data é apoiado pelo Hezbollah.
Qual deve ser a posição dos revolucionários?
Nesta guerra civil existem dois campos militares em luta. De um lado, no campo militar, está à ditadura sanguinária e pró-imperialista de Bashar Al Assad, que detém o poder há 12 anos sucedendo ao seu pai Hafez, no marco de um regime de partido único que já dura mais de 40 anos.
Do outro lado, no outro campo militar, estão as massas sírias, que se mobilizam e lutam com armas nas mãos para derrubar Assad, conquistar liberdades democráticas e melhorar as suas condições de vida, arruinada pelos efeitos da crise económica e das políticas de fome que aplica Assad para se enriquecer e entregar os recursos do país ao imperialismo.
Na luta, assim colocada, os revolucionários devem ter uma posição
Utilizando-se o critério de Lenine, que seguindo Karl Von Clausewitz (1) afirma que “a guerra é a continuação da política por outros meios”, é um dever dos revolucionários realizar uma análise de classe do processo para identificar onde está a revolução e a contrarrevolução.
Esta questão divide a esquerda, tal como aconteceu no caso da Líbia. Aqui deparamo-nos com duas posições fundamentais.
A primeira é a posição da corrente castro-chavista, que apoia incondicionalmente a ditadura de Assad, como antes apoiou o ditador Kadafi. A sua justificativa é a mesma de Assad: todo o conflito e a luta do povo sírio são fruto de uma maquiavélica “conspiração imperialista” que pretende derrubar um governo “anti-imperialista” e “antissionista”. Portanto, os rebeldes armados sírios (como antes foram os líbios) não são lutadores revolucionários senão “terroristas” financiados e mandados pelo imperialismo. Em suma, na Síria não existe revolução senão contrarrevolução. Consequentemente, o castro-chavismo localiza-se no campo militar de Assad contra as massas. (2)
Esta posição tem consequências nefastas, pois debilita a solidariedade internacional necessária que precisa a revolução síria, ao colocar numerosos setores de vanguarda contra a ação revolucionária das massas.
A segunda posição, a que defende a LIT-QI, parte de um apoio total à luta revolucionária do povo sírio. Para nós, na Síria, a contrarrevolução está no campo militar de Assad e a revolução no campo militar dos rebeldes.
Nossa política desenvolve-se a partir desta localização fundamental. Para nós, numa luta entre revolução e contrarrevolução, a primeira coisa que os revolucionários devem fazer é localizar-se, sem perder nunca a sua independência política, no campo da revolução, neste caso, no campo militar das massas contra a ditadura e o imperialismo, independentemente de sua direção.
Só a partir desta localização é que podemos lutar pela independência de classe do movimento de massas e batalhar sem máscaras contra qualquer tipo de direção traidora do processo; no caso sírio uma direção diretamente burguesa e pró-imperialista.
Queremos destacar que existe uma terceira posição, que, em realidade, é uma variante da posição castro-chavista, lamentavelmente de um setor do trotskismo. Esta posição é crítica a Assad, mas, devido à direção burguesa e pró-imperialista do campo rebelde, sustenta que as massas acabam subordinando-se a essa direção e ao imperialismo, pelo qual este campo também seria reacionário.
Esta posição é defendida pelo PTS argentino (3), que no caso da Líbia chegou a dizer, devido à intervenção do imperialismo e a direção traidora do CNT, que as milícias populares que lutaram com armas nas mãos, que derrubaram e lincharam Kadafi, eram “tropas terrestres” da NATO ou meros “soldados do imperialismo” que queriam impor um regime “mais pró-imperialista que o de Kadafi”. O que eles não dizem, por falta de mínima coerência, é que, se o que existiu na Líbia foi um ataque do imperialismo através de suas “tropas terrestres”, então deveríamos ter estado no campo militar de Kadafi, a defender a destruição das milícias que eram parte dessa agressão imperialista.
Na Síria, eles repetem esta mesma lógica e até conseguem a façanha de piorá-la.(4) Em sua última nota sobre a Síria, em nenhum momento dizem claramente se as massas devem ou não derrubar Assad, limitando-se a repudiar “a brutal repressão de Assad”.(5) Coincidimos plenamente em repudiá-la. Mas fica o questionamento: para o PTS-FT a principal tarefa das massas neste momento é ou não derrubar a ditadura de Assad? Apoiam ou não a luta armada dos rebeldes contra a ditadura? Ou o problema é só a “brutal repressão”? De que lado um militante do PTS-FT dispararia seu fuzil na Síria? Ou ficaria na posição “nem um nem outro” no meio desta guerra civil?
Qual é a política do imperialismo?
O imperialismo, que no princípio apoiou com tudo a ditadura síria, agora quer tirar Assad do governo. Isto é um fato. Mas não quer a sua saída porque Assad seja um “anti-imperialista” ou algo pelo estilo. Muito menos por razões humanitárias.
É verdade que o regime do partido Baath, nas décadas de 60 e 70 passou por um período de confrontos com o imperialismo e com Israel. A questão é que o Baath sírio, que desde o início implantou uma ditadura contra o movimento de massas, nesse período aderia ao nacionalismo burguês árabe, à corrente “nasserista” e até tinha uma retórica socialista. Declarava-se defensor da causa palestiniana e enfrentou três guerras contra Israel, em 1967, 1973 e 1978.
No entanto, como nenhuma burguesia nacional pode enfrentar consequentemente o imperialismo, pois em última instância tem os mesmos interesses dos exploradores, o partido Baath, da mesma forma que toda essa corrente nacionalista burguesa pan-arabista, assentada fundamentalmente no Egito e na Líbia, foi fazendo cada vez mais concessões ao imperialismo.
O pai de Bashar, Hafez Al-Assad, governou o país de 1970 até 2000 e foi ele quem começou a realizar o giro entreguista. Em 1990, fez parte da invasão imperialista ao Iraque, sob o comando de Bush pai. De 1976 a 2005, as tropas sírias ocuparam de fato o Líbano para derrotar os insurgentes palestinianos, prestando um enorme serviço aos sionistas e ao imperialismo.
Bashar aprofundou esta política de capitulação total ao imperialismo. Escancarou as portas da economia síria aos investimentos imperialistas e aplicou com dureza os principais planos neoliberais do FMI.
O regime sírio abandonou completamente qualquer tipo de luta contra o imperialismo e o sionismo, ao ponto de converter-se num suporte fundamental para Israel. Em nossos dias, até os líderes sionistas reconhecem que a Síria tem hoje as fronteiras “mais seguras” com Israel.
Considerando estes fatos, fica claro que o imperialismo promove a saída de Assad não porque o ditador sírio seja um anti-imperialista, como prega o castro-chavismo, senão porque este se converteu num elemento desestabilizador na Síria e na região.
O concreto é que Assad já não cumpre a sua tarefa de conter e derrotar a luta das massas. Não cumpre com o principal interesse que tem o imperialismo neste momento: derrotar a revolução na Síria e em todo Médio Oriente.
Nesse sentido, Bashar Al Assad, de bom aliado transformou-se num elemento descartável. Assad só está a jogar mais gasolina na fogueira que o imperialismo quer apagar desesperadamente.
O imperialismo quer tirar Assad do governo, antes que sejam as massas armadas a derrubá-lo através de sua ação revolucionária (como aconteceu na Líbia), para assim poder salvar o essencial do regime sírio e poder avançar na estabilização do país e da região.
Desta forma, neste momento, o menos provável é uma intervenção armada do imperialismo na Síria. Não porque não queira fazê-lo, senão porque não tem condições políticas para isso (derrota no Iraque e no Afeganistão, crise económica, eleições nos EUA, posição geopolítica altamente explosiva de Síria, oposição da Rússia e China).
Os fatos indicam que o imperialismo está a aplicar uma tática diferente da que usou na Líbia; observamos que está tentando uma saída política negociada, apelando fortemente ao desgaste económico e diplomático. Nos últimos dias, por exemplo, vários países imperialistas, a começar pelos EUA, expulsaram os embaixadores sírios de seus países.
A principal opção das potências imperialistas seria uma saída tipo Iémene, isto é, tirar Assad de seu trono garantindo-lhe impunidade por seus crimes, para transferir o poder a outro membro de sua camarilha e manter assim o essencial do regime.
Esta é a fórmula que os EUA estão a tentar negociar com a Rússia, até o momento um dos principais aliados de Assad. Não pode ser descartado uma mudança na situação, pois a Rússia começa a dar sinais de desgaste em sua obstinação de sustentar um aliado tão incómodo. No início de junho, o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Guenadi Gatilov, chegou a afirmar: “Jamais dissemos ou colocamos como condição que Assad deva necessariamente continuar no poder ao fim do processo político”.
É um fato que muitos lutadores sírios e outros ativistas honestos no mundo, diante do massacre que impulsiona Assad, veem a atual missão de observadores da ONU e da Liga Árabe que encabeça Kofi Annan como uma possível solução ao conflito.
No entanto, os fatos demonstram que esta missão é uma enorme farsa. Assad continua a matar à frente dos capacetes azuis. São mais de 1.800 mortos desde o início do “plano de paz” de Annan, segundo denúncias do Observatório Sírio de Direitos Humanos. É claro que o plano da ONU aponta no sentido de uma saída negociada para conseguir manter o regime e o capitalismo na Síria. O imperialismo e a ONU não se movem por causa do “humanitarismo”, senão por sua necessidade de derrotar a revolução e conseguir um “assadismo” sem Assad. Pouco se importam com a matança do povo sírio.
A urgência de uma direção revolucionária
Defendemos em várias ocasiões que, para a LIT-QI, tanto na Síria como nos demais países da região, o principal problema para que estas revoluções triunfem e avancem para a tomada do poder pela classe trabalhadora e para o socialismo é a falta de uma direção revolucionária, operária e internacionalista.
A principal contradição na Síria e nos demais países está entre as heroicas ações das massas e o papel contrarrevolucionário de suas direções burguesas e pró-imperialistas.
No caso da Síria, a principal direção da oposição a Assad é o Conselho Nacional Sírio (CNS), uma instância burguesa composta por empresários liberais, ex-membros do próprio regime atual e a Irmandade Muçulmana. A direção do ESL é também burguesa, repleta de antigos oficiais do regime de Assad. Ambos são, ademais, pró-imperialistas: clamam por uma intervenção armada do imperialismo.
Nós sustentamos que o povo sírio não deve nem pode confiar nestas direções, que por seu próprio caráter de classe trairão inevitavelmente todas as legítimas aspirações populares, não só as económicas como até as mais básicas liberdades democráticas.
Não se pode depositar nenhuma confiança nos líderes do CNS e do ESL. Muito menos no imperialismo, que pode até pretender a saída de Assad, mas para manter o mesmo regime opressivo e, sobretudo, para continuar explorando e saqueando as riquezas que produz o povo sírio. Não podemos confiar nestas direções, pois todas elas são inimigas do povo trabalhador e da sua revolução.
Na Síria, aparentemente o setor mais progressivo está organizado nos chamados Comités de Coordenação Locais. Nestes comités decidem-se e organizam-se as lutas no local, convocam-se as mobilizações e outorgam-se cobertura e apoio efetivo ao ESL nas cidades e nos bairros. Não é casual que estes setores, sobretudo os CCL, estejam agora denunciando as vacilações do CNS e anunciando a sua rutura com este organismo. A crise no CNS é tamanha que o seu presidente, Burhan Ghalioun, renunciou faz poucas semanas.
Em Homs e em outras cidades, segundo relatórios da imprensa, também se conformaram “comités revolucionários” que, dependendo das circunstâncias, se encarregam de garantir tarefas próprias do poder político, como o abastecimento de água e comida e a segurança. É fundamental ampliar a formação destes comités a todas as cidades e aos bairros sírios.
Sem romper a unidade de ação necessária entre todos os setores do campo rebelde, parece-nos fundamental que esses comités locais conformem-se como uma alternativa de direção de toda a luta contra o regime.
Qual é a saída?
Nós da LIT reiteramos o nosso apoio firme à revolução síria. Nossa palavra de ordem central é: FORA Assad, NÃO à intervenção imperialista!
Estamos pela queda de Assad pelas mãos das mobilizações populares e pela luta armada das massas. Esta é uma tarefa fundamental da revolução. Neste sentido, mantendo a independência de classe da classe trabalhadora, estamos pela mais ampla unidade de ação militar com todos os setores que estão a lutar contra a ditadura síria, inclusive com os burgueses e pró-imperialistas do CNS e do comando do ESL, para conquistar a derrubada de Assad e a liquidação do seu regime contrarrevolucionário.
É nesse processo de luta ampla e unitária contra o regime, localizando-nos dentro do campo militar rebelde, que devemos combater essas direções traidoras e construir a indispensável direção revolucionária e internacionalista que o processo precisa para avançar.
Assim, parece-nos urgente unificar a todas as mobilizações e ações armadas que se dão em todo o país até conquistar a queda do regime. Deve-se aprofundar a divisão das Forças Armadas de Assad. É urgente conformar milícias armadas auto-organizadas a partir de conselhos populares democráticos. Neste sentido, a LIT-QI reivindica plenamente o direito e a necessidade que tem o povo sírio de se armar para se defender e prosseguir a sua luta contra Assad. Nestes momentos não existe outro caminho. O povo sírio, como o fez o povo líbio, deve avançar em sua organização e em seu armamento como única garantia de vitória.
Todos os socialistas revolucionários devem impulsionar, além disso, amplas campanhas e lutas unitárias de apoio à revolução síria, exigindo a rutura imediata de todos os governos com o assassino Assad.
Também devemos exigir urgentemente o envio de armas e voluntários para lutar no campo militar rebelde. Devemos fazer esta exigência de apoio militar concreto a todos os governos, especialmente aos dos países onde existem processos revolucionários em curso, como são os casos do Egito e da Líbia.
É um dever de todas as organizações revolucionárias batalharem para cercar de solidariedade ativa a luta do povo sírio. Assad deve cair. O seu regime deve ser demolido. A revolução deve avançar até o poder operário e popular, até a revolução socialista, não só na Síria mas até chegar à Federação das Repúblicas Socialistas Árabes. A vitória do povo sírio será a vitória de todos os explorados do mundo.
Ronald León Núñez
(1) General prussiano (1780-1831) considerado um grande estrategista militar e teórico da guerra. Autor da obra conhecida como Da Guerra.
(2) Em 1/06/2012, após o massacre de Houla, Hugo Chávez impulsionou uma declaração dos países componentes do ALBA onde se lê: “Valorizamos os passos do governo sírio em atenção das legítimas exigências de quem têm manifestado pacificamente (…) e o programa de reformas levado a cabo; além de sua disposição para implementar o plano de paz de Kofi Annan”. A Venezuela é um dos países que continua enviando diesel a Damasco.
(3) PTS – Partido dos Trabalhadores Socialistas, rutura do MAS em 1987. No Brasil, LER-QI.
(4) Sugerimos ao leitor interessado na polémica com o PTS-FT sobre a Síria o artigo sobre o tema publicado na Revista Correio Internacional nº 7.
(5) Cinatti, Claudia: “Abaixo a brutal repressão de Assad. Não à ingerência nem à intervenção imperialista”, publicado no site da FT de 31/05/2012.