Artigo do presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo (Brasil), Altino de Melo Prazeres Júnior, publicado na secção Tendências e Debates do jornal Folha de São Paulo, no dia 25 deste mês, defende o direito de greve dos trabalhadores ameaçado pelo governo do estado. No dia 23 de maio, os trabalhadores do metro de São Paulo fizeram greve para reivindicar aumento salarial e outros direitos.
“Quem parou São Paulo?
O Tribunal do Trabalho quis 100% do efetivo nos horários de pico. Mesmo no dia mais movimentado, não há esse percentual. E o direito à greve?
Nesta quarta, 23, os metroviários de São Paulo realizaram uma de suas mais fortes greves.
Logo as autoridades tentaram nos culpar pelos transtornos que a população enfrentou, classificando a greve de abusiva, ilegal e até política. Agora anunciam a intenção de “multar” o sindicato em R$ 1 milhão, por prejuízos à cidade.
Parte da imprensa foi pelo mesmo caminho, tentando jogar a população contra os metroviários, como o editorial de ontem desta Folha (“Greve contra São Paulo”) ou mostrando os protestos nas estações como se fossem contra a greve, sem mostrar que os passageiros cantavam: “Geraldo, a culpa é sua!”.
O que está em jogo é o direito de greve. Representantes do governo e do Judiciário, apesar de afirmarem o contrário, não escondem que entendem que os metroviários não têm o direito de lutar por seus direitos.
A decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) na prática impedia a greve, exigindo 100% do efetivo nos horários de pico e 85% nos demais horários, sob multa diária.
Ora… Mesmo no dia mais movimentado, o metro não mantém essa percentual. Ou seja, o TRT exigia que, no dia de greve, o atendimento fosse maior do que a própria empresa consegue. Que greve é essa?
O responsável pela greve tem nome: o governador Geraldo Alckmin. Foi seu governo que foi intransigente com os trabalhadores, recusando-se a negociar. Nós chegamos a propor a abertura das roletas, no lugar da greve. Trabalharíamos nesse dia, todos poderiam deslocar-se normalmente e o nosso protesto ficaria marcado. Uma experiência que já foi feita em outros países.
Mas o governo recusou. Mas não foi intransigente assim com as empresas que prestam serviço ao metro, como a que atrasou em mais de um ano a entrega do serviço, provocando o mais grave acidente na história do metro. Caso tivesse ocorrido na Linha 4, privatizada e sem funcionários, o acidente possivelmente teria tido vítimas fatais.
Ao culpar os trabalhadores, o governo tenta esconder a sua incapacidade em negociar e também o fato de que, em 20 anos, o PSDB não resolveu o problema de transporte.
O nosso metro é o mais lotado do mundo, 11 pessoas por metro quadrado. Para quem vai de helicóptero, como o governador, é difícil imaginar como a população lida com o sufoco, o aperto, o assédio às mulheres e as horas de vida desperdiçadas.
O argumento para não melhorar o serviço é a falta de recursos. Não é verdade. O orçamento estadual dobrou desde 2004, indo para R$ 149 mil milhões em 2011. O metro tem lucrado muito. Se seguisse a inflação, o bilhete custaria hoje R$ 1,84.
Há dois lados nessa história. De um lado, o governo e empresários.
De outro, os trabalhadores, tanto aqueles que estão conduzindo o trem como os que viajam nele, no aperto. A população entende que a nossa greve foi justa. Estamos juntos na luta por um metro de qualidade, mais barato e que cresça no ritmo que São Paulo precisa.
Na quarta, o metro parou. Mas, infelizmente, o sufoco de passageiros e funcionários continua todos os dias. É contra ele que lutamos.”