Enquanto o povo grego protestava nas ruas de Atenas e das principais cidades do país contra o novo plano de miséria imposto pela União Europeia e o FMI, os deputados aprovavam-no servilmente no Parlamento. Edifícios incendiados, a praça Syntagma fechada por tropas de choque, uma cidade em pé de guerra, assim era Atenas nesse domingo, após uma manifestação que levou 100 mil pessoas às ruas e confrontos entre polícias e manifestantes. Era o culminar de uma semana com duas greves gerais.
O segundo plano de resgate da troika quer impor aos gregos 150 mil demissões no setor público até 2015 (15 mil este ano), redução de 22% no valor do salário mínimo, rebaixamento das pensões e alterações na legislação laboral. Isso num país que, após quatro anos de recessão e planos de austeridade, tem 1 milhão de desempregados, 30% da população abaixo da linha de pobreza e registou uma queda de 11,3% na produção industrial. Para obrigar a Grécia a aceitar o segundo plano de resgate, a UE ameaça suspender um novo empréstimo de 130 mil milhões e expulsar o país do euro.
É a este plano que aprofunda a miséria em que o povo se encontra que os gregos estão a dizer não, apesar da chantagem da UE e do governo. Como vai terminar tudo isso é difícil prever. A luta do povo está cada vez mais radicalizada e massiva; o governo do primeiro-ministro imposto pela troika, Lucas Papademos, é muito frágil e impopular; e o resultado das novas eleições marcadas para abril pode alterar o panorama político no sentido de complicar ainda mais as coisas para Bruxelas, pois o PASOK cai vertiginosamente nas sondagens, a Nova Democracia está a ter o mesmo destino depois de apoiar o novo pacote, e a esquerda sobe, tendo atingido, somadas as três forças da esquerda parlamentar (Esquerda Democrática, Syriza e PC), 42% das intenções de voto.
Por outro lado, a crise é cada vez maior entre os partidos do regime, com deputados do PASOK e da Nova Democracia sendo expulsos depois de votarem contra ou se absterem na votação do novo plano de resgate no domingo. O Laos, extrema-direita, acabou por abandonar a coligação governamental, mas também perdeu votos ao alinhar-se com o governo e o novo pacote.
Em tom de bravata, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, exigiu da Grécia um compromisso por escrito de que cumprirá as medidas de austeridade. Caso contrário, a porta de saída do euro estaria aberta. Mas a Alemanha e a troika sabem que as coisas não são assim tão simples. Em primeiro lugar, a Grécia está à beira de tornar-se um país ingovernável, o que torna o cumprimento do plano muito pouco factível. Em segundo, não é tão indolor como poder-se-ia supor livrar-se de um país “incumpridor”, principalmente se isso ameaçasse – como ameaça – arrastar outros países com problemas muito semelhantes aos enfrentados pela Grécia, isto é, além de Portugal, o 3º e o 4º PIB da UE, ou seja, Itália e Espanha.
Não é por generosidade, certamente, que a troika negoceia o abatimento de mais da metade do valor dos títulos da dívida grega em posse do setor financeiro privado, e o BCE, o seu maior credor individual, também articula algo no mesmo sentido. A UE e o FMI sabem que a dívida é impagável, mas querem arrancar o quanto puderem do país e do seu povo, o que não aconteceria com a Grécia fora do euro.
O destino dos gregos – que influenciará o destino dos trabalhadores e da juventude da Europa – está a ser decidido nas ruas de Atenas. É da força dessa luta, da sua capacidade de impor soluções de rutura com a tirania da União Europeia e do FMI – como a imediata suspensão do pagamento da dívida e dos planos da troika – e de construir alternativas que privilegiem as necessidades da maioria da população, que depende o seu futuro.
Fora a troika da Grécia e de Portugal!
Toda a solidariedade com a luta do povo grego!