É um facto. A luta de classes na Síria, como parte do impressionante processo revolucionário que estremece o norte da África e do Oriente Médio, alcançou a sua máxima expressão: a guerra civil.
Chegamos a um momento decisivo, histórico. Como escreveu Trotsky em 1924:
“(…) a guerra civil constitui uma etapa determinada da luta de classes quando esta, rompendo os marcos da legalidade, localiza-se no plano de um confronto público e, em certa medida, físico, das forças que se enfrentam. Concebida deste modo, a guerra civil abarca as insurreições espontâneas, determinadas por causas locais, as intervenções sanguinárias das hordas contrarrevolucionárias, a greve geral revolucionária, a insurreição para a tomada do poder e o período de liquidação das tentativas de levantamentos contrarrevolucionários. Tudo isto entra no marco da noção da guerra civil, tudo isto é mais amplo que a insurreição e, ao mesmo tempo, infinitamente mais rígido que a noção da luta de classes que decorre através de toda a história da humanidade (…) a guerra civil não é mais que o prolongamento violento da luta de classes…” (1)
O levantamento popular contra a ditadura de Bachar El Assad – que detém o poder de forma totalitária há 12 anos, no marco de um regime de mais de quatro décadas – iniciou-se em março de 2011 numa região remota chamada Deraa, na fronteira com a Jordânia. Desde então, estendeu-se a todo o país.
Durante todos esses meses foram reprimidas, de maneira brutal e impiedosa, todas as mobilizações populares que reivindicam a saída do ditador e que exigem liberdades democráticas. Até o mês de dezembro do ano passado, organismos da ONU, da mesma forma que outras entidades de direitos humanos, tinham contabilizado cerca de 5.500 vítimas mortais. Os comités locais denunciam mais de 7.100 mortes, das quais, só na cidade de Homs, 2.500 desde que começaram os conflitos (El País, 1/2/12). Por outro lado, até o próprio governo de Assad admitiu, recentemente, que durante a repressão aos protestos morreram cerca de 2.000 soldados e policiais. Assistimos a um verdadeiro banho de sangue.
Fortalece-se o Exército da Síria Livre
A força crescente das mobilizações populares e o claro impulso que as vitórias em outros países da região – como a do povo líbio contra Kadafi – davam ao processo de conjunto acabaram por gerar uma profunda crise no exército regular sírio, provocando milhares de deserções. Surge assim, no final de 2011, o denominado Exército da Síria Livre (ESL), constituído por soldados desertores e civis armados.
Em suas primeiras incursões, esta força rebelde atacava alguns postos militares e policiais, fazendo chamados abertos à luta armada e à deserção de oficiais e soldados que se mantinham leais a Assad. Chegaram a atacar o próprio centro de inteligência do exército sírio, em Harasta, além de várias sedes do partido Baath, incluída a de Damasco. A sua força foi crescendo, acompanhando a radicalização dos protestos populares, ao ponto de constituir-se numa importante força combatente.
Um dos chefes militares do exército rebelde, o coronel Riad Al-Assaad, declarou recentemente que o ditador não controla “mais de 50% do território” sírio. Não obstante, aclarou que não necessariamente são as forças rebeldes que controlam todas essas regiões.
Ao contrário de um exército regular que ainda mantém superioridade material, o ESL utiliza táticas militares relacionadas com a guerra de guerrilhas. Efetivamente, o citado oficial confirmou que o ESL conta com mais de 40.000 combatentes e que “as operações realizadas pelo ESL são caracterizadas por ataques rápidos contra as posições pró-Assad, seguidas de retiradas táticas para zonas mais seguras”. O coronel dissidente sentenciou, em seguida, que “o povo resistirá, o ESL resistirá, mantendo a revolução. O regime deve cair em breve” (Agência France Presse).
O exército regular sírio, dirigido pela minoria alauita à qual pertence à família El Assad (estima-se que o 80% dos altos oficiais pertencem a este setor do xiismo), começa a dar sinais de fadiga depois de meses de ações ininterruptas. Conforme mais tanques e artilharia pesada utiliza o regime em zonas urbanas, mais se exacerbam os protestos e o uso de armas por parte do povo.
Assad tem um enorme problema na própria composição de suas forças armadas. Embora seja numerosa, a esmagadora maioria dos 300.000 efetivos são recrutas sunitas, aos quais, por duvidar de sua fidelidade, não se costuma atribuir missões de repressão. Precisamente dessas forças provém o maior número de deserções. Por isso, na hora de reprimir, quem atua é a Guarda Republicana, que conta com uns 10.000 efetivos, bem como a Quarta Divisão Mecanizada, que em suas fileiras conta com outros 20.000 efetivos. Ambas as forças estão formadas exclusivamente por alauitas e são dirigidas por um personagem nefasto: Maher el Assad, irmão mais jovem do presidente.
Desde o ponto de vista militar, Assad está numa situação complicada. O levante popular o está a superar. Por exemplo, para manter 2.000 soldados e meia centena de tanques nos subúrbios de Damasco, como Sakba, Hamouriya e Kfar Batna, o ditador viu-se obrigado a reduzir efetivos em outros lugares. É por isso que, apesar de sua superioridade numérica e em armamentos, o exército do regime até agora não conseguiu esmagar o levante popular armado: enquanto uma cidade é arrasada para afogar em sangue o levante, os soldados de Maher el Assad devem abandoná-la para assaltar outra e outra. Então os rebeldes ressurgem… e, assim, sucessivamente.
Dessa forma, luta-se encarniçadamente em Homs, Hama, Deraa e até no berço da família Assad, a costeira cidade de Latakia.
Na última semana, particularmente, agravou-se o combate. Damasco, que até agora tinha permanecido livre de combates abertos entre setores armados, foi protagonista de ferozes confrontos em seus arredores. O centro da guerra civil está somente a três quilómetros da capital, e o regime estremece diante das lentes do mundo inteiro. Só em 31 de janeiro foram denunciadas mais de 100 mortes pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos com sede em Londres. Nesse mesmo dia ocorreram outras 22 mortes violentas registadas em choques armados entre as shabiha – tropas leais ao regime – e rebeldes armados.
A situação é dramática para o povo: assassinatos, sequestros, violações, torturas e todo tipo de desrespeito aos direitos humanos por parte do clã Assad constituem o dia a dia na Síria.
O regime, quanto mais desesperado, mais reprime. Diante do levante armado, Assad olha-se ao espelho e, não sem um suor frio a escorrer pela face, vê a imagem de Muammar Kadafi. Então agarra-se ao poder, recusa-se a negociar, endurece a repressão e declara ao mundo que continuará usando o “punho de ferro” e que “se manterá firme para enfrentar os seus inimigos” no meio do que, segundo denúncia, seria uma “conspiração estrangeira”.
No momento em que estas linhas são escritas, tropas leais ao ditador bombardeiam Homs e atacam com todo o seu poder de fogo os rebeldes posicionados na periferia de Damasco. Os combates chegam até a cidade de Zabadani, perto da fronteira com o Líbano.
A verdade é que o regime está suspenso num fio delgado, tanto político como militar. Acossado pelas mobilizações populares e as ações armadas do ESL, deve enfrentar outra dura realidade: o imperialismo, ao qual foi tão fiel, distancia-se cada vez mais.
O navio da ditadura síria está a afundar, e os ratos começam a abandoná-lo. Para o imperialismo norte-americano e europeu, Assad tornou-se inútil na missão de garantir a estabilidade de seu país e da tão convulsiva região; isto o converte num elemento prescindível para o imperialismo, tal como aconteceu com Kadafi.
A política do imperialismo
Há uns meses que o imperialismo (norte-americano e europeu) e as burguesias árabes, que no princípio o apoiaram com tudo, começaram a tomar distância de Assad. Primeiro fizeram-lhe advertências, pressionando no sentido de buscar uma saída negociada. Assad se agarrava ao poder. Depois aplicaram-lhe sanções económicas. Novamente sem resultado. Aumentando o tom, a Liga Árabe, que é um dócil instrumento da política das potências imperialistas e que durante meses tentou negociar de todas as formas com Assad, resolveu suspendê-lo como país membro.
Nenhuma pressão revelou-se suficiente. Assad não aceita abrir nenhuma válvula de escape para descomprimir um pouco uma situação que começou a aquecer demasiado. Dentre estes inúmeros acontecimentos, novamente a Liga Árabe, que recentemente retirou a sua missão de observadores da Síria devido ao recrudescimento da guerra civil, seguindo a linha dos chefes imperialistas, passou de uma posição um tanto vacilante a exigir diretamente a renúncia de Assad como requisito sine qua non a qualquer saída para a crise.
A sua proposta “pacificadora” parte da renúncia de Assad (transferindo o poder ao vice-presidente) e propõe a conformação de um “governo de unidade” no marco de um “poder compartilhado” na Síria. Assim, a Liga Árabe apresentou-se diante do Conselho de Segurança da ONU e exigiu uma resolução de condenação ao regime.
De facto, até o atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu publicamente a Assad que “deixe de matar a sua gente” e o catalogou como uma “ameaça global”.
Outro antigo aliado que agora dá as costas a Assad é o emir do Catar, o xeique Hamad bin Jalifa AL Zani. Este declarou-se, em 16 de janeiro passado, partidário inclusive de que tropas árabes ponham fim ao “derramamento de sangue” na Síria. Na mesma linha, durante a recente reunião do Conselho de Segurança da ONU, o primeiro-ministro do Catar, Hamad Bin Jassim Al Thani, abriu a sessão defendendo um maior rigor a Assad, a quem qualificou de “máquina de matar” (Agência Brasil, 1/2/12). A Liga Árabe e o Catar: dois duros golpes de países da região.
No entanto, o maior problema para o regime sírio atual, no terreno da política internacional, situa-se na posição de França, Grã-Bretanha e EUA. Todos esses países “somaram-se” às exigências da Liga Árabe (na verdade são os verdadeiros mentores dessa proposta de resolução) ante o Conselho de Segurança da ONU, no sentido de obrigar a saída de Assad e o início de uma “transição política” para um sistema “democrático e plural”.
Neste sentido, o ministro francês de Relações Exteriores, Alain Juppé, condenou no Conselho de Segurança o que chamou de “silêncio escandaloso” por parte da ONU, em relação à violência na Síria. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, solicitou, em 31 de janeiro, ao Conselho de Segurança, “não proteger” o presidente sírio: “Os assassinatos devem parar, e o presidente Assad deve ir embora”, disse ele.
Por sua vez, o imperialismo norte-americano está pressionando o regime de Assad para que este renuncie enquanto a situação ainda lhe permita renunciar. Susan Rice, a embaixadora dos EUA na ONU, apresentou um relatório no qual assegura que o número de mortes não só não diminuiu, senão que “era mais alto que antes”, com 40 pessoas mortas a mais ao dia, um total de 400 vítimas desde o início da sua missão.
O diretor nacional de inteligência norte-americano, James Clapper, declarou que a queda do regime de Assad é “só questão de tempo”. Prosseguiu dizendo: “Eu não vejo como ele poderá manter o seu controle sobre o país”. Esta posição de Clapper foi compartilhada pelo diretor da CIA, o ex-geral David Petraeus (Agência France Presse, 31/1/12).
Na reunião do Conselho de Segurança da ONU, realizada em primeiro de fevereiro, o governo dos EUA enviou à Secretária de Estado, Hillary Clinton, para participar das deliberações. Clinton acusou a Assad de ter instalado um “reino do terror” (Agência Brasil).
Por que estes procuradores do imperialismo norte-americano, europeu e das burguesias árabes agora emitem declarações contra Assad?
Os motivos estão longe de um suposto e repentino sentido humanitário para com o povo sírio, que está sendo massacrado, ou de uma real defesa das liberdades democrática s nesse país. Essas potências são as mesmas que sempre sustentaram a dinastia dos Assad, a qual por sua vez sempre lhes foi fiel na entrega do petróleo, na aplicação do receituário neoliberal do FMI e em garantir a segurança das fronteiras de Israel.
O que está por trás dessa retórica “humanitária” é a necessidade vital que tem o imperialismo de derrotar o processo revolucionário na Síria e em toda a região; um processo que se agudiza com a permanência de Assad no poder. O ditador sírio passou a ser uma peça insustentável. Assad, atualmente, é um elemento de desestabilização. É isso que tira o sono do imperialismo, inquietação expressa no projeto de resolução árabe-europeu sobre a Síria na ONU, o qual sustenta que “a estabilidade na Síria é chave para a paz e a estabilidade na região” (El País, 31/1/12). O imperialismo, além de hipócrita, é pragmático. Sabe distinguir muito bem o tático do estratégico e, neste sentido, manter ou não um lacaio, para eles, é assunto meramente tático.
A linha é clara: tirar Assad para salvar o essencial do regime. Dar um passo atrás para depois dar dois passos em frente.
O castro-chavismo continua a apoiar ditadores assassinos
O concreto é que a Assad restam poucos aliados no cenário internacional. Podemos contar nos dedos das mãos e são: Rússia, China, Irão, Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Rússia, que é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, anunciou que vetaria qualquer resolução que exija a saída de Assad. O governo russo mantém um interesse especial na manutenção de Assad no poder, pois o porto sírio de Tartus é a única base naval de sua frota no Mediterrâneo.
Por sua vez, Hugo Chávez emitiu um comunicado através de sua Chancelaria em que “expressa o mais firme apoio” ao governo sírio “e reconhece o grande esforço realizado pelo presidente Bashar Al-Assad para facilitar uma solução política à complexa conjuntura que atravessa o país”.
Desta forma, a corrente castro-chavista mantém-se em sua posição de apoiar ditadores sanguinários e pró-imperialistas contra a luta que empreendem as massas desses países. Alinha-se com essas ditaduras contra as massas, às quais acusam de cometer “atos terroristas”. Tudo com a conhecida cantilena de um “assédio imperialista” a um suposto líder anti-imperialista que estaria sendo desestabilizado “por forças a partir do estrangeiro”, segundo expressa o comunicado oficial.
O apoio a esses ditadores, além de repugnante, acaba por fortalecer a posição do imperialismo, pois favorece a sua política de aparecer como os “defensores da democracia e os direitos humanos”. Tudo isto sem contar que a solidariedade castro-chavista com os tiranos no mundo árabe debilita a solidariedade que a justa luta do povo sírio, e demais povos do mundo árabe, precisa com tanta urgência.
O problema dos problemas
Na Síria está a se desenvolver um processo bastante similar ao que vimos na Líbia. Por um lado, um povo que está farto da opressão imposta por uma ditadura pró-imperialista, além de faminto, que sai a lutar em massa e, nesse processo, divide o exército regular e volta as armas contra o regime. Por outro lado, vemos que essas ações das massas estão sendo conduzidas por uma direção burguesa, neste caso o denominado Conselho Nacional Sírio (CNS), surgido nos últimos meses. O CNS está composto por 190 membros, dos quais 60% estão dentro de Síria e o resto está basicamente na Turquia. Participam a Irmandade Muçulmana, liberais, as diversas facões curdas e, aparentemente, os Comités de Coordenação locais.
Este organismo, composto por exilados sírios, apresenta-se como um governo alternativo a Al-Assad. Já foi reconhecido como governo oficial da Síria pelo Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia e, o mais provável, é que se somem a Arábia Saudita e outros aliados no mesmo sentido. O CNS apoia as ações armadas do ESL, mas, ao mesmo tempo, clama por uma intervenção imperialista exigindo uma “ação rápida” por parte da comunidade internacional para proteger os civis “mediante todos os meios necessários” (Agência France Presse)
Ao contrário, outra plataforma opositora, o Corpo Nacional de Coordenação, recusa toda opção de intervenção estrangeira. Segundo a imprensa, aparentemente a maioria dos ativistas sírios que organizam os protestos populares está do lado do Corpo Nacional de Coordenação e não quer soldados estrangeiros em seu país. Sondagens indicam que uma grande maioria da população síria, na qual se inclui uma boa percentagem de opositores, é contrária a qualquer tipo de invasão militar propiciada pela ONU.
No entanto, um problema grave é que Corpo Nacional de Coordenação faz exigências ao ESL para que este se limite a proteger as manifestações “pacíficas” sem lançar ofensivas nem conquistar territórios. Isto é um grave erro que levaria à luta pela via de um caminho morto. A realidade está a demonstrar aos milhares de jovens e trabalhadores que há quase um ano enfrentam nas ruas a sanguinária ditadura de Assad que não só é imprescindível organizar a autodefesa, como também é urgente aprofundar o armamento geral da população para incidir sobre e acelerar o processo de crise no exército regular.
Por outro lado, temos o Hamas, que tinha a sua sede em Damasco, onde vivia sob o abrigo de Assad. Jaled Meshal, máximo dirigente político desta organização islamista palestiniana, abandonou a sede de Damasco e não se sabe se fugiu para o Catar ou para o Egito. No entanto, a maior parte da infra-estrutura do Hamas já foi transferida para o Cairo. O Hamas, longe de pretender liderar a luta justa do povo sírio contra Assad, enviou um claro e expressivo “obrigado, não fumo”, que só favorece o ditador.
A LIT defende que o problema dos problemas, tanto na Síria como no resto dos países da região que estão a ser contagiados pelo processo revolucionário, é a questão da direção revolucionária. Neste sentido, conclamamos o povo sírio e os lutadores e as lutadoras mais conscientes da resistência a confiar somente em suas próprias forças revolucionárias e a não alimentar nenhum tipo de expectativa nem no imperialismo, nem nas correntes políticas burguesas e islamistas árabes.
É de vida ou morte que, ao calor da luta contra o regime de Assad, seja o povo, seja a classe trabalhadora síria que se auto-organize e se autodetermine na hora de definir os destinos de sua luta. Dirigentes como os atuais, tanto do CNS como do ESL, podem estar momentaneamente no mesmo campo militar que o povo pobre, contra Assad, mas por seu caráter de classe acabarão, mais cedo ou mais tarde, traindo as reais aspirações populares, não só económicas, como também no terreno das liberdades democráticas.
A única saída, para uma vitória estratégica, é construir uma direção revolucionária e internacionalista que tome as rédeas do processo.
Todo o apoio à luta do povo sírio pela queda do regime assassino de Assad!
É preciso unificar as mobilizações em todo o país e intensificar a luta armada até a queda do regime. É o momento de aprofundar a divisão das forças armadas do regime e que as massas estendam a sua organização na forma de conselhos populares com funcionamento democrático que, por sua vez, organizem as milícias armadas, cujas ações devem estar submetidas ao interesse geral da luta.
No mesmo sentido, a LIT repudia categoricamente – e chama ao repúdio – a qualquer tipo de intervenção imperialista na Síria. É o povo sírio, e só o povo sírio, que deve decidir o seu destino. Não se pode esperar nada bom das potências imperialistas nem de seus fantoches, que têm como único objetivo o saque e a exploração de nossos povos.
Fazemos, igualmente, um apelo a todo o movimento social e às organizações políticas que se reivindicam de esquerda ou defensoras dos direitos humanos a cercar de solidariedade ativa a luta do povo sírio.
A partir de nossas organizações devemos exigir a rutura imediata de todos os governos com o assassino Al-Assad. Isto inclui, claro, os governos encabeçados por Chávez e os Castro, fiéis defensores desse regime, e o governo de Dilma Roussef no Brasil que, ainda que de forma mais dissimilada, também lhe expressou apoio político.
A luta é pela queda imediata de Assad e pela instauração de um governo das classes exploradas sírias.
Só um governo operário e popular poderá convocar e garantir a realização de uma Assembleia Constituinte livre, democrática e soberana para conquistar todas as liberdades democráticas e libertar o país do imperialismo. Só um governo operário e popular poderá encarar um verdadeiro combate contra o estado nazi-sionista de Israel, enclave político-militar do imperialismo na região, começando pela recuperação do território sírio correspondente às Colinas de Golã, roubada pelos sionistas em 1967.
Esse governo, assente nas organizações e milícias populares, deve também processar e castigar todos os crimes de Assad e sua camarilha ditatorial; confiscar as suas fortunas e colocá-las sob o controle e serviço do povo faminto; anular todos os contratos petrolíferos e outros pactos realizados por Assad que atam o país ao imperialismo; nacionalizar imediatamente o petróleo e todas as riquezas do país sob a administração do povo e ao serviço de executar um plano de emergência que atenda às urgentes necessidades do povo trabalhador sírio, avançando para uma Federação de Repúblicas Socialistas Árabes.
Ronald León
4/2/2012
(1) Trotsky, León: Os problemas da Guerra Civil, publicado em http://www.ips.org.ar/?p=3314