O jornal egípcio Al-Ahram relata que as forças de segurança foram obrigadas, neste domingo, 5 de fevereiro, a erguer três paredes de concreto, uma delas com 12 metros de altura, em torno do Ministério do Interior, no Cairo, para conter os manifestantes que, pelo quarto dia consecutivo, exigem a demissão da junta militar que governa o Egito. A revolução subiu de tom nos últimos dias devido ao massacre no estádio de futebol de Port Said, com 74 mortos, cuja responsabilidade é atribuída ao governo.
A torcida organizada de futebol Ultras da Praça Tahrir, que teve papel de destaque na derrubada do ditador Hosni Mubarak, pediu a cabeça do marechal Mohamed Hussein Tantawi, homem forte da junta militar. “Queremos a sua cabeça, Tantawi, seu traidor. Poderias ter gravado o seu nome na história, mas foi arrogante e acreditou que o Egito e o seu povo poderiam dar um passo atrás e esquecer a sua revolução”, escreveu a torcida em sua página do Facebook.
Os confrontos também continuam nas cidades de Suez e Alexandria. Desde o dia 2 de fevereiro, 12 pessoas foram mortas e mais de 2.500 ficaram feridas em Suez e no Cairo. As forças de segurança do regime estão a disparar gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição contra a multidão de vários milhares de manifestantes, que, além de exigir a demissão do governo, criticam também a Irmandade Muçulmana.
“Nós também começamos a ver um gás negro não identificado negro”, disse um manifestante ao jornal Al-Ahram. “Essa fumaça preta faz com que todos desmaiar. Ninguém sabe o que é.” Segundo testemunhas, vários manifestantes foram detidos pelas forças de segurança. Alguns hospitais de campanha foram alvejados pelas forças de segurança
Leia, a seguir, o artigo publicado no site da LIT (http://www.litci.org/pt/) sobre a mobilização de 31 de janeiro, em que os manifestantes, além de exigir a demissão da junta militar, também criticaram a Irmandade Muçulmana:
A irmandade muçulmana entra em confronto com manifestantes
“Em 31 de janeiro, milhares de manifestantes exigindo o fim da ditadura militar foram impedidos por membros da Irmandade Muçulmana de chegar ao edifício do parlamento. A marcha denominada “Terça-feira da Determinação” foi chamada por 56 diferentes organizações para exigir a transferência imediata do poder dos militares para o parlamento e punição para os líderes do antigo regime.
Os manifestantes partiram de diferentes pontos do Cairo convergindo para o edifício do parlamento. Os estudantes se reuniram na frente das universidades do Cairo (a maior do país) e de Ain Shams de onde saíram em marcha. A marcha das mulheres partiu do mausoléu de Saad Zaghloul. Outros sairam da praça Tahrir, do Maspero (sede da rede de TV estatal), de Helwan (onde uma igreja copta foi queimada há um ano pela polícia secreta) e muitos outros pontos. No momento em que os manifestantes chegaram parlamento, a marcha composta por vários milhares gritava palavras de ordem contra o regime militar.
A polícia, auxiliada por um muro de concreto, bloqueou um dos lados do edifício do parlamento, enquanto a Irmandade Muçulmana bloqueou o outro lado. Manifestantes trocaram as palavras de ordem de “Abaixo o regime militar” para “Abaixo a Irmandade” e acusaram o líder da Irmandade Muçulmana de vender a revolução em troca de posições no parlamento fruto de seu bom desempenho nas eleições. Cerca de 43 pessoas ficaram feridas nos confrontos entre membros da Irmandade e manifestantes.
Foi a segunda vez em que houve confrontos entre manifestantes e a Irmandade Muçulmana. A primeira vez foi na última sexta-feira (27 janeiro), na própria praça Tahrir. Houve marchas em outras cidades em todo o país.
A Juventude 06 de abril, o Kefaya e as organizações trotskystas “Socialistas Revolucionários” e os jovens do grupo “Justiça e Liberdade” (fortemente influenciado pelo grupo trotskysta “Renovação Socialista”) estavam presentes na marcha.
A unidade entre os manifestantes, o novo sindicalismo (a federação sindical independente e seus mais de cem sindicatos filiados), os estudantes, o movimento de mulheres e os soldados podem formar uma nova alternativa de poder frente tanto a junta militar como a futura administração liderada pela Irmandade Muçulmana. Esta alternativa, um governo dos trabalhadores, é a única que pode atender as reivindicações dos trabalhadores e do povo pobre por emprego, salário, educação, habitação e saúde, juntamente com a ruptura com as potências coloniais (União Europeia e os EUA) e enfrentar Israel. Essa é a única maneira de completar a revolução.”