Atentado terrorista mostra o crescimento da extrema-direita

Os atentados terroristas perpetrados no dia 22 de Julho por um militante de extrema-direita chocaram a Noruega e o mundo. Anders Behring Breivik , de 32 anos, armou explosivos no centro da capital Oslo e, momentos após a explosão que fez sete mortos, abriu fogo contra centenas de adolescentes que participavam num acampamento do Partido Trabalhista, na ilha de Utoeya.

Segundo relatos de sobreviventes, Breivik estaria disfarçado de polícia quando desembarcou na ilha em que ocorria uma actividade da juventude do partido ligado ao governo. O extremista junta então um grande grupo de jovens para explicar-lhes o que havia ocorrido no centro da cidade, puxa uma metralhadora e começa a atirar. Descobriu-se depois que o assassino usou balas que se estilhaçam no corpo da vítima provocando enorme estrago. A sua intenção era clara: matar o maior número possível de pessoas.
O último levantamento da imprensa dá conta de 77 mortos nos dois atentados.

Com a chegada da polícia, o terrorista foi preso sem reagir. Na tarde desse dia 25, quando se apresentou perante o juiz, Breivik confessou os crimes, mas negou qualquer culpa. Para ele, é perfeitamente admissível assassinar adolescentes a sangue frio na sua cruzada contra o “multiculturalismo” e a “colonização islâmica” da Europa.

Planeamento

Preso, o assassino confessou que o atentado havia sido minuciosamente preparado com nove anos de antecedência. Antes de sair para executar sua acção, Breivik espalhou para os seus contactos na Internet cópias de uma espécie de manifesto chamado “2083: Uma declaração de independência europeia”, com mais de 1500 páginas. Nestas páginas, um verdadeiro compêndio de extrema-direita e do fundamentalismo cristão. Numa espécie de delírio fascista, o terrorista descreve com nostalgia uma Europa idílica formada por homens bons e nobres, invadida de repente por islâmicos, negros e estrangeiros. Aos europeus “patrióticos” restaria a missão de resgatar os seus países do “multiculturalismo”, que ameaçaria o modo de ser genuinamente europeu. O fundamentalista assina o texto como “Chefe de Justiça Para os Cavaleiros Templários da Europa e um dos vários líderes do Movimento de Resistência Nacional e Pan-Europeu Patriótica”.

Mais do que delírios, porém, o que o texto revela, e os atentados atestam, é um grau de organização e articulação que expressam o avanço dos movimentos de extrema direita no continente. No tribunal, o terrorista afirmou ter executado o atentado com a ajuda de duas outras “células”. A complexidade da acção corrobora a tese de que ele não teria agido sozinho.

O manifesto de Breivik, além do discurso racista típico da extrema-direita (chega-se a afirmar que o Brasil é desigual, improdutivo e conta com corrupção endémica devido à ‘mistura de raças’), traz um verdadeiro manual de instruções para atentados terroristas. Do alvo, ao arsenal, preparação e tudo o mais necessário para infligir baixas em favor da “causa”.

O terrorista enumera os alvos: os “traidores”, em ordem decrescente de acordo com a gravidade das suas traições. As instruções para a preparação da “acção” são detalhadas, indo da preparação física do terrorista à aquisição e manuseio das armas, e até mesmo o que fazer caso “eventualmente sobreviva à acção”.

O perigo do fascismo

Longe de ser um caso isolado, a tragédia na Noruega se inscreve numa conjuntura de crescimento da extrema direita em toda a Europa. Partidos e movimentos de inspiração fascista e xenófoba utilizam da crise económica para ganhar espaço e colocar os trabalhadores imigrantes, negros e homossexuais na mira da opinião pública.

O terrorista norueguês militou durante anos no ultranacionalista Partido Progressista, que tem vindo a ter um grande crescimento nos últimos anos, tornando-se a segunda maior força política do país nórdico. Nas últimas eleições, o partido teve 23% dos votos. Da mesma forma, Áustria, Finlândia, Itália entre outros países europeus, testemunham o fortalecimento da extrema-direita. Uma das principais líderes desse processo é a francesa Marine Le Pen, dirigente extremista apontada como favorita para as eleições presidenciais de 2012.

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