Luta na Grécia contra a austeridade deixa burguesia em pânico

O perigo de calote da Grécia ameaça virar uma bola de neve que atingirá fortemente o continente, colocará o euro em xeque e atravessará o oceano.

A Grécia parou novamente no dia 15 de Junho, em meio a mais uma greve geral contra as medidas de ajuste fiscal e privatizações do governo do primeiro-ministro George Papandreu. Já é a terceira greve geral no país só este ano contra os planos de austeridade exigido pelo Fundo Monetário Internacional e a União Europeia e que está levando o país à beira de um caos social.

Os principais serviços públicos do país não funcionaram nesse dia, além de vários sectores privados. Até os jornais aderiram ao movimento de greve. Trabalhadores das empresas estatais ameaçadas de privatização pelo governo grego também cruzaram os braços.

Governo em crise

A greve geral e a jornada de mobilizações contra o novo pacote de ajuste fiscal do dia 15 de Junho balançou o governo do primeiro-ministro grego George Papandreu (do partido socialista Pasok). O parlamento deveria iniciar neste dia a discussão sobre mais um plano de ajuste fiscal exigido pela União Europeia e o FMI para a concessão de novo empréstimo, a fim de o país poder continuar a rolar a sua dívida pública. Diante das cenas de guerra civil, porém, o governo, que já enfrenta profundo desgaste, balançou. Papandreu anunciou a dissolução do actual executivo e a formação de um novo gabinete que, segundo ele defendia, fosse de “união nacional”.

Mas o principal partido de oposição, o direitista Nova Democracia, rechaçou o convite de Papandreu para integrar o novo governo – que previa a aceitação incondicional do novo acordo já firmado com o FMI e a UE – e exigiu novas eleições. Os jornais gregos definem de tal forma o impasse: “Papandreu não pode governar, e a oposição não quer”. Assim, o “novo” governo formado sem a oposição de direita não deve superar a crise política.

Protestos radicalizados

Além da greve geral, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas da capital Atenas no dia 15 de Junho, em protesto contra os planos de austeridade do governo. A polícia montou barricadas de dois metros de altura para proteger o Parlamento dos activistas. Na Praça Syntagma, centro da capital, os manifestantes tentaram cercar o prédio do Ministério das Finanças e foram duramente reprimidos. Cerca de 1500 policiais foram mobilizados para conter as manifestações. Os choques se estenderam por toda a manhã no local, e 40 manifestantes haviam sido presos até a tarde. A repressão feriu ainda ao menos cinco pessoas, uma delas gravemente.

“Que a plutocracia pague a crise, não o povo”, diziam os manifestantes nas palavras de ordem, assim como “povo, não baixe a cabeça e não se deixe vencer”. “Eles querem eliminar as conquistas sociais de vários séculos”, afirmou à imprensa um dos manifestantes, Vangelis Papadoyannis, funcionário de uma empresa de novas tecnologias. Um trabalhador de uma empresa de electricidade afirmou que “se fosse em benefício do Estado, estaria disposto a fazer concessões, mas estão vendendo só para pagar nossos credores”.

Além das manifestações, jovens gregos estão há pelo menos 21 dias acampados na praça do centro de Atenas, influenciados pelos “indignados da Espanha”.

Até a última gota

A aprovação do novo pacote de cortes pelo parlamento grego era uma exigência para a liberação da nova parcela da ajuda financeira, de 12 mil milhões de euros, para o país rolar a sua dívida. Pela condição imposta pelo FMI, o parlamento grego deve aprovar o novo pacote até 29 de Junho. A nova medida impõe 6,5 mil milhões de euros em aumentos de impostos e o aprofundamento nos cortes no Orçamento, além de mais privatizações.

As medidas de cortes e privatizações já levaram o país ao recorde de desemprego, com uma taxa de 16% de desocupados. Existe um consenso hoje entre os analistas de que a dívida pública grega, equivalente a um PIB e meio do país, é impagável. Os organismos financeiros internacionais e os banqueiros, porém, parecem querer sangrar o país até o limite, antes de renegociar as dívidas e as condições de pagamento.

O cada vez mais iminente calote da dívida grega fez cair as bolsas em todo o planeta e desvalorizou ainda mais o Euro. Em meio ao caos instalado na Grécia e após três anos de recessão, o Comissário de Assuntos Económicos da UE, Olli Rehn, exigiu que o país deixasse de lado as “disputas domésticas” para acelerar a aplicação do plano de contenção fiscal e privatizações.”

A violência policial contra os manifestantes e a pressão brutal do FMI e demais países europeus têm explicação. O perigo de calote da Grécia ameaça virar uma bola de neve que atingiria fortemente o continente, colocaria o Euro em xeque e atravessaria o oceano. A agência de risco Moody’s rebaixou a nota dos três principais bancos franceses, Credit Agricole, BNP Paribas e Societé Generale, por seu envolvimento na dívida grega, tanto no sector público quanto privado. A Alemanha, por sua vez, será um dos mais prejudicados em caso de “default”. Os bancos franceses detêm o equivalente a 56 mil milhões de dólares da dívida grega. Já os bancos alemães têm nas mãos papeis da Grécia que equivalem a 33 mil milhões.

Num cenário de moratória, a crise chegaria aos EUA, pois os bancos norte-americanos são os principais emissores de CDS (credit default swaps), espécie de seguro contra calotes.

Esses são os inimigos dos jovens e trabalhadores gregos que acampam nas praças do país e enfrentam a polícia a fim de defender seus empregos e direitos sociais.

Diego Cruz, do Opinião Socialista (jornal do PSTU)

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