A decisão do Conselho de Segurança da ONU de autorizar uma intervenção militar na Líbia, aprovando uma zona de exclusão aérea e outras medidas de força, representa um ataque imperialista para derrotar a revolução dos povos árabes, agressão essa que deve ser condenada pela esquerda e por todos os organismos de representação da classe trabalhadora em todo o mundo.
A ONU não é um organismo neutro, nem defende os direitos humanos no mundo. Pelo contrário, a ONU representa os interesses imperialistas dos Estados Unidos e da Europa, hegemónicos no seu Conselho de Segurança. Foi com o aval da ONU que agressões militares foram feitas ou legitimadas, nomeadamente no Afeganistão, Iraque, Haiti, Jugoslávia, entre muitas outras.
No caso da Líbia, o Conselho de Segurança da ONU justifica a autorização da intervenção militar com a desculpa de querer proteger o povo líbio do massacre perpetrado pelo ditador Muammar Khadafi. Nada mais falso. Khadafi era até agora um aliado do imperialismo, assim como outros ditadores do mundo árabe, como os governantes da Arábia Saudita, Bahrein ou Emirados Árabes Unidos, sem esquecer dos recentemente derrubados Mubarak , do Egipto, e Ben Ali, da Tunísia.
Os métodos policiais utilizados por esses regimes, entre os quais o chefiado por Khadafi, contra os seus povos, em particular contra a oposição, nunca despertaram qualquer reparo por parte dos governos imperialistas. Pelo contrário, eram úteis no sentido de defenderem os seus interesses na região. Esta é a mesma lógica que permite ao imperialismo apoiar o estado fascista de Israel, inclusive o bombardeamento de Gaza em 2009, quando morreram centenas de civis.
A intervenção militar imperialista com o aval da ONU na Líbia responde a uma necessidade de reposicionamento político-militar do imperialismo na região, cujos interesses podem ser afectados por uma revolução que já derrubou vários ditadores e ameaça vários outros, entre os quais aliados estratégicos dos EUA, França, Alemanha e Inglaterra, como o principal país fornecedor de petróleo do mundo, a Arábia Saudita. A ONU quer intervir na Líbia não para ajudar a revolta do povo contra o ditador, mas justamente para acabar com a revolta, não só lá como em toda a região. Para isso, nada melhor do que mascarar essa agressão como uma intervenção humanitária.
Mas não é só o historial da ONU e dos países que compõem o Conselho de Segurança que revelam a hipocrisia dessa tentativa de justificar a agressão como uma intervenção humanitária. Basta constatar que do grupo de países que se propõem a participar da intervenção militar na Líbia fazem parte os Emirados Árabes Unidos, os mesmos que ainda esta semana participaram, ao lado das tropas da Arábia Saudita, no massacre da revolta popular no Bahrein.
Estamos do lado da revolução árabe e líbia, ao lado dos revoltosos que, de armas na mão, combatem a ditadura de Khadafi. Mas estamos completamente contra a intervenção militar do imperialismo na Líbia e denunciamos a farsa de justificá-la como uma acção para salvar a população das agressões do ditador.
Por isso, repudiamos a posição de Portugal no Conselho de Segurança, um dos dez membros a votar favoravelmente a resolução que aprovou a intervenção militar.
Por isso, repudiamos também a resolução que, no Parlamento Europeu, abriu as portas para a aprovação da intervenção militar na Líbia no Conselho de Segurança da ONU. Na semana passada, esta resolução foi aprovada com os votos de muitos deputados do GUE (Grupo de Esquerda Unitária), do qual faz parte o Bloco de Esquerda. Entre os deputados que votaram favoravelmente a esta resolução estão os três eurodeputados eleitos pelo BE. O eurodeputado Rui Tavares, ao contrário de Miguel Portas e Marisa Matias, chegou mesmo a votar a favor do parágrafo que propunha a intervenção militar na Líbia.
Não concordamos com a justificativa dada pelos eurodeputados Miguel Portas e Marisa Matias, em artigo de Opinião publicado no esquerda.net em 14 de Março, para o seu voto favorável à resolução do Parlamento Europeu. Neste artigo, eles afirmam que a resolução aprovada “condicionava fortemente a possibilidade de uma medida [zona de exclusão aérea] desta natureza”. A recente aprovação da intervenção militar na Líbia pelo Conselho de Segurança da ONU mostra que, pelo contrário, esta resolução do Parlamento Europeu facilitou o caminho dos que a defendiam.
Os votos dados pelos três eurodeputados do BE no Parlamento Europeu contrariam a tradicional orientação do BE de opor-se a intervenções militares por parte das grandes potências, mesmo que apoiadas pelo Conselho de Segurança da ONU. Esses votos merecem o repúdio de todos aqueles que, intransigentemente contrários a Khadafi, defendem que é o povo líbio e o povo árabe, com a solidariedade de todos os povos do mundo, que devem dirigir a sua revolução. De todos aqueles que não depositam nenhuma confiança nos estados imperialistas e nos seus organismos internacionais, como a ONU.
Abaixo a intervenção imperialista na Líbia!
Pela autodeterminação do povo líbio!
Abaixo a ditadura de Khadafi!
Lisboa, 18 de Março de 2011