A Inglaterra vive dias de fúria. No dia 9 de Dezembro, em meio a grandes e radicais protestos estudantis (ver galeria de fotos na secção Imagens e o vídeo), duramente reprimidos pela polícia, o governo britânico conseguiu aprovar no Parlamento, por 323 votos contra 302, uma medida que permite aumentar as propinas cobradas pelas universidades do país. Actualmente, a propina é de cerca de 3 mil libras, mas, com a medida, vai passar para até 9 mil libras, isto é, triplicar o seu valor.
As manifestações dos estudantes contra a lei do governo conservador já haviam começado semanas antes, em diversos locais do país. No dia 9, porém, milhares de manifestantes fizeram passeatas pelo centro de Londres e se concentraram em frente ao Parlamento (Câmara dos Comuns). Eles carregavam faixas e placas com a mensagem “a educação não está à venda”.
Até mesmo o príncipe Charles e a sua esposa, Camilla, sentiram a fúria dos jovens. O carro do casal real foi cercado no momento em que se dirigia ao London Palladium. Um vidro do veículo foi quebrado pelos manifestantes e a realeza foi obrigada a ir ao teatro num carro da polícia.
A Oxford Street, famosa rua londrina, também sentiu a fúria. Várias janelas e portas dos bancos foram quebradas. Manifestantes conseguiram incendiar os bancos da praça que fica diante do Parlamento e também arrebentaram a porta do Ministério das Finanças e lutaram com a polícia no interior do prédio. Outros grupos escreveram em paredes e atiraram blocos de concreto e pedaços de ferro para quebrar janelas. Vários analistas até comparam a radicalidade dos protestos às jornadas de luta protagonizadas pela juventude francesa no mês de Outubro.
Crise política
Os protestos abriram uma crise política no governo. A coligação entre liberais-democratas (os lib-dem) e conservadores ficou diante de uma encruzilhada depois que 21 deputados lib-dem – do partido do vice-primeiro-ministro Nick Cleg – negaram-se a votar a favor da medida do governo. Oito parlamentares abstiveram-se. Eles argumentaram que tinham prometido durante as eleições que não elevariam o custo das propinas. Além disso, três ministros do governo renunciaram. Na época das eleições, o Partido Conservador do primeiro-ministro David Cameron conquistou o maior número de cadeiras, mas não o suficiente para governar com maioria, o que o levou a formar o governo com os lib-dem.
A medida do governo é uma resposta ao imenso défice fiscal do estado britânico, registado depois que o anterior governo trabalhista, com o apoio dos conservadores e dos democratas liberais, despejou biliões de euros no sistema financeiro para salvar os bancos da crise.
O governo inglês aprovou um pacote de quatro anos de cortes de gastos no valor aproximado de 81 mil milhões de libras. Além de aumentar o valor das propinas para os estudantes universitários, o governo também anunciou que vai despedir meio milhão de funcionários públicos. A luta dos estudantes vai continuar e deve combinar-se com a luta dos trabalhadores contra os despedimentos, desafiando o governo conservador.
Site do PSTU/Brasil
Batalha nas ruas de Roma
“Que nos devolvam o nosso futuro!”: este é o grito de guerra lançado pelas massas de estudantes do secundário, universitários, pesquisadores e professores que, nesses últimos dias, estão a invadir as ruas das cidades de toda a Itália. De hora em hora, o protesto difunde-se com rapidez, enquanto na Câmara discute-se o projecto de lei Gelmini (de autoria de Mariastella Gelmini, ministra da Educação do governo Berlusconi e do partido de ultra-direita Força Itália), sobre a reforma da Universidade. Um protesto que está a assumir cada vez mais o aspecto de um verdadeiro choque frontal, estalando de norte a sul e pondo a dura prova a resistência de um sistema irremediavelmente destinado a cair.
Os estudantes atacam o Senado
O auge da audaciosa luta levada adiante pelos estudantes contra o projecto de lei Gelmini foi a tentativa de um numeroso grupo de estudantes de penetrar pela força no Palazzo Madama, sede do Senado da República. A acção desenvolveu-se depois de uma marcha pelas ruas de Roma, na qual participaram muitos docentes, pesquisadores, universitários e trabalhadores de todo a educação e das universidades públicas. Durante o acto, que terminou em frente à Câmara, foram lançados ovos e pedras contra a sede da Conferência dos Reitores das universidades italianas e contra os polícias anti-motim.
Os estudantes encarregaram-se uma e outra vez de atravessar o cordão policial, enfrentado os “fiéis servidores” da ordem burguesa pelas ruas do centro, entre a Rua do Curso e o Montecitorio (sede da Câmara de Deputados). Finalmente, um grupo de estudantes combativos, ao distanciar-se dos demais manifestantes, tentou ocupar o corredor do Senado, mas foi expulso com pontapés. No fim, o balanço foi de dezenas de estudantes feridos, depois de numerosas cargas policiais.
De Norte a Sul o protesto não pára
Os choques registados em Roma são apenas um dos momentos de um período de lutas que se abriu com inesperada radicalização (na realidade, nós a esperávamos há muito tempo). Nestes dias, em Turim, está em curso a ocupação do Palazzo Nuovo, enquanto em Pisa numerosos estudantes universitários ocuparam as pontes do rio Arno, interrompendo o trânsito regular. Também houve ocupações de coberturas por estudantes e professores em Perugia e Salerno, enquanto em Palermo foram ocupadas dezasseis escolas de ensino superior, juntamente com outras faculdades universitárias.
Tudo isto apesar dos ataques de Gelmini, que finge ignorar os protestos, definindo-os como “velhos rituais”, e do ministro do interior Roberto Maroni, que assegurou, de hoje em diante, uma mais eficaz rede de segurança (isto é, mais equipes repressivas armadas de cassetetes). O presidente do Senado, claramente atemorizado pela sublevação estudantil, falou de “agressão maldosa”, encobrindo as contínuas violências das forças de ordem.
Apesar de o sistema mediático, instrumento de incrível eficácia nas mãos dos patrões, dar inclusive pouca visibilidade a essas lutas cada vez mais fortes, estudantes e trabalhadores demonstraram claramente que querem continuar esse caminho, combatendo sem se renderem às intimidações que continuam a ser feitas pelo governo e pelos poderes do Estado.
Organizar as lutas contra os cortes do capitalismo
O Partido de Alternativa Comunista (PdAC, secção italiana da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional) apoia e impulsiona os protestos dos estudantes e pesquisadores. Estas lutas, em vias de expansão, são sem dúvida um dado estimulante. Mas também é preciso analisar objectivamente a situação actual. Uma situação que demonstra uma grande fragmentação e uma falta de direcção que, com o tempo, se revelarão nocivos para as próprias causas pelas quais os estudantes e os trabalhadores estão a lutar.
Com efeito, a história mostrou-nos que, sem uma direcção que organize e unifique as diferentes lutas realizadas neste período, cada revolta estará destinada a perder-se e a abrir espaço para as contra-reformas do governo, em que empresários e banqueiros fazem com que a classe trabalhadora pague a sua crise.
Esta direcção tem de ser um partido revolucionário, um partido que seja o impulsionador de uma oposição frontal ao sistema capitalista em dissolução. Um partido que temos de construir para unificar todos os protestos, toda a raiva que está a levantar operários, estudantes, docentes, pesquisadores, imigrantes e precários de cada sector laboral. Um partido para poder varrer definitivamente toda a podridão produzida pela crise do capitalismo: o partido da revolução socialista.
Adriano Lotito, da Itália, membro dos colectivos de estudantes de ensino secundário na luta contra os cortes.