O Haiti precisa de médicos, não de soldados

O povo haitiano começou a enfrentar a Minustah, a tropa de ocupação estrangeira liderada pelo Brasil. Depois do desastre causado pelo terramoto de Janeiro e do fracasso da operação de ajuda internacional, os haitianos continuam vivendo em acampamentos em Porto Príncipe. A epidemia de cólera tornou a situação intolerável. Mais ainda ao se saber que foram soldados nepaleses da Minustah que trouxeram o cólera para o país. O povo começou a se rebelar.

Houve mobilizações de rua violentamente reprimidas pelas tropas em Le Cap – a segunda cidade mais importante do país – que causaram duas mortes. Em Porto Príncipe, no dia 18 de Novembro, os manifestantes enfrentaram e puseram para correr a polícia haitiana. Depois de reprimidos duramente pela Minustah, parte do acampamento de Champ de Mars também se rebelou. Nos braços, os haitianos levavam ramos de árvores, que na simbologia vudu quer dizer enfrentamento até a morte. Os soldados da Minustah fugiram.

A tentativa do governo e das tropas de ocupação de controlar a situação com uma forte repressão não está dando certo. Tampouco as eleições presidenciais, que ocorrem neste domingo, dia 28 de Novembro, atraem a atenção da população. Pode haver uma abstenção gigantesca.

Até hoje, os trabalhadores brasileiros acreditam que as tropas brasileiras estão no Haiti em missão humanitária. Na verdade estão lá para garantir a ordem, a aceitação do plano económico das multinacionais têxteis que produzem t-shirts no Haiti pagando salários miseráveis. Os soldados não fizeram nenhuma rede de esgotos ou de água em seis anos de ocupação. Em compensação reprimiram muitas greves e manifestações de protestos.

Uma gigantesca operação de media passou uma ideia de um grande papel das tropas no salvamento dos feridos depois do terramoto. Tudo mentira: as tropas se dedicaram a proteger os seus quartéis, sem nenhum papel real no resgate dos feridos. Por isso foram salvas apenas 150 pessoas quando morreram 250 mil haitianos.

O fracasso da operação de ajuda internacional pode ser comprovado nos dias de hoje: um milhão e meio de pessoas seguem vivendo em acampamentos em Porto Príncipe. Na realidade, estes transformaram-se em favelas permanentes sem água ou esgoto.

Agora, a epidemia de cólera pode devastar esses acampamentos. Essa doença alastra-se pelas fezes dos pacientes contaminados. Toda a capital do país transformou-se num gigantesco multiplicador da doença… e também num barril de pólvora.

Dor e revolta sacodem o povo haitiano. As tropas trouxeram a cólera. As tropas reprimem as suas mobilizações. As tropas não reconstruíram o país. As tropas…

Pode ser que as imagens dos soldados atirando contra o povo acorde os brasileiros. Trata-se de uma vergonhosa repressão contra um povo sofrido e explorado. O Haiti precisa de médicos e não de soldados. Exigimos do governo o imediato retorno das tropas brasileiras.

Chamamos a uma campanha classista de solidariedade aos trabalhadores haitianos. Não confiamos no governo Préval, nem nas tropas de ocupação. Por isso, propomos o envio de médicos, enfermeiros e remédios, junto com Batay Ouvriye e outras organizações de luta do povo haitiano.

Editorial do Opinião Socialista, nº 415, jornal do PSTU, Brasil

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