No Brasil existe uma central sindical combativa e de oposição ao governo de Dilma Roussef (PT), é a CSP-Conlutas, que de 28 a 30 de abril realizou o seu I Congresso. No auditório da Estância Árvore da Vida, em Sumaré (São Paulo), reuniram-se cerca de 2.200 trabalhadores e jovens de 26 estados brasileiros, além de Brasília, para discutir e aprovar propostas de luta para a conquista de melhores condições de vida e trabalho.
Desse total, 1.809 eram delegados eleitos em assembleias de base, representando 114 sindicatos, duas associações de classe, 118 oposições sindicais e minorias de diretorias sindicais, um movimento de luta pela terra (MTL) e, o que representa um grande avanço em comparação com o congresso de fundação da central, 11 movimentos populares urbanos. Além desses, estiveram presentes também representantes de quatro movimentos de luta contra as opressões e uma entidade nacional de estudantes, a ANEL.
Ao final do congresso, os delegados aprovaram um plano de lutas para o próximo período, que inclui o apoio e fortalecimento das greves, como a do funcionalismo público e da construção civil, além da luta pela unificação das campanhas salariais do segundo semestre. O plano de ação ainda prevê a preparação de um dia de manifestação durante a “Rio +20” (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), de 13 a 20 de junho, além da mobilização contra as remoções da população pobre para as obras do Mundial de Mundo.
Após o congresso da CSP-Conlutas, houve uma reunião internacional, com representantes de 20 países, que aprovou a declaração transcrita a seguir. A declaração convoca um Encontro Internacional para março de 2013 em Paris e foi assinada por várias organizações, entre as quais Union Syndicale Solidaires (França); CSP Conlutas (Brasil); RMT – National Union of Rail, Maritime and Transport Workers (Inglaterra); Federação dos Sindicatos Independentes (Egito); Batay Ouvriye (Haiti); CCT – Confederacion de La Classe Trabajadora (Paraguai); CGT – Central General de Trabajadores y Trabajadoras (Costa Rica); COBAS – Sindicato de Comissiones de Base (Espanha); CUB – Confederazione Unitaria -Base (Itália); e muitas outras (ver ao final da declaração).
DECLARAÇÃO:
Construir uma Coordenação de Luta do Sindicalismo Alternativo Internacional
Queremos fortalecer e desenvolver todas as lutas dos trabalhadores e setores explorados e oprimidos em todo o mundo. Construir um polo que busque aglutinar os setores dos movimentos sindical, popular, da juventude, independentes e alternativos que enfrentam os ataques do capital em todas as suas formas e não aceitam a lógica de conciliação das direções burocráticas tradicionais. Chamamos todos os que lutam e resistem para nos somarmos na construção de nossa unidade e solidariedade baseadas no internacionalismo operário.
Unidade diante da crise
Entendemos ser fundamental, diante da crise, construir a nossa unidade internacional, buscar coordenar e unificar as nossas lutas. Independente de filiação ou não em alguma central ou organização internacional, somemo-nos para construir a unidade internacional tão necessária para enfrentar os planos imperialistas.
Aprofundar as nossas trocas de experiências, debater de maneira livre e democrática as nossas conceções e visões, impulsionar uma Coordenação dos setores independentes e alternativos.
Queremos construir uma rede que desenvolva ações de solidariedade e unidade, articule campanhas e iniciativas comuns, além de divulgar as nossas lutas, ações e experiências, como parte do fortalecimento da unidade internacional.
Encontro Internacional
Convocamos um Encontro Internacional de organizações sindicais e populares, independentes e alternativas para o final de março, início de abril de 2013, em Paris, França, para avançar no debate e compreensão da realidade e na unidade de nossa luta.
Ataques aos trabalhadores
A crise económica imperialista repete-se e potencializa-se com o aprofundamento das contradições de um sistema de produção de exploração e opressão.
A maior crise, desde 29, é profunda e atinge todos os aspetos da vida dos povos de todo o mundo. Para os patrões e os seus governos é a necessidade de uma verdadeira guerra social. Ataques brutais contra os nossos direitos e as nossas conquistas sociais. Apropriação de recursos naturais com consequências ambientais catastróficas. Assalto ao património público e desmonte e privatização dos serviços públicos. Desemprego para as novas gerações e perda da proteção social, reformas e outras conquistas. Tudo isto para garantir o património dos banqueiros e das empresas multinacionais.
Para impor a sua saída utilizam todos os métodos necessários. A repressão é de todas as maneiras que a correlação de forças lhes permite, criminalizando movimentos por meio de processos, prisões e repressão permanente contra os que lutam e se enfrentam contra os seus planos. Ocupações e intervenções militares são parte do plano para garantir esse projeto. Utilizam todas as formas de opressão e discriminação que possam nos dividir, como a xenofobia, o machismo, a homofobia, o racismo, etc.
As consequências concretas são inúmeras: os ataques às conquistas dos trabalhadores europeus; os cortes na educação, saúde e investimentos públicos em todo o planeta; as ocupações militares, como no Afeganistão e Haiti, entre outras; a intervenção militar no processo da Primavera Àrabe; a crise alimentar como consequência do monopólio da produção agrícola; a apropriação cada vez mais voraz dos recursos naturais em todo o planeta e o aumento da degradação ambiental. Há um retrocesso brutal nas políticas sociais universais como educação, saúde, segurança social e outros serviços públicos. Além disso, a imposição de todo tipo de preconceito e opressão como o racismo, o machismo, o sexismo e o incentivo permanente à xenofobia, que ganha contornos fascistas na relação com os imigrantes a partir do aprofundamento da crise.
Os efeitos da crise não são sentidos da mesma maneira em todo o mundo. O crescimento económico que ainda se mantém na América Latina, China e outros países não pode ser visto e compreendido como algo contraditório com a crise económica imperialista. Demonstra, isto sim, que há ritmos distintos dentro da mesma situação de crise e investimentos maiores em países com mão de obra mais barata que, de forma combinada, representam novos mercados e permitem uma extração de mais valia maior neste momento.
Compreender as especificidades e não colocar um sinal de igual nas situações é fundamental para os que querem resistir e lutar. Contudo, entender a realidade como um todo, na qual mesmo com crescimento aprofunda-se a exploração e a apropriação de recursos públicos e naturais, é o que nos pode permitir manter uma política classista e internacionalista de combate à ordem imperialista internacional.
A resistência
Por outro lado, a nossa classe busca de todas as maneiras lutar e resistir por todo o planeta. São as greves gerais do povo grego, as mobilizações dos estudantes chilenos, as greves na China, o povo árabe mobilizando-se e tomando praças e armas para derrubar ditaduras de décadas como na Tunísia, Egito, Líbia, Síria, Bahrein e outros países. A luta heroica do povo palestiniano, as mobilizações de povos originários na América Latina em defesa da água e dos recursos naturais. São as manifestações da juventude no Estado Espanhol, as mobilizações nas praças dos Estados Unidos, as greves gerais e mobilizações na Espanha, Portugal e França. Assim como as mobilizações das comunidades em Moçambique contra os efeitos da mineração das multinacionais e as lutas dos imigrantes em várias partes do mundo.
A Primavera Árabe, ao conseguir por meio das ações das massas derrotar e derrubar ditaduras de décadas de existência, traz novos ares para o movimento apontando a possibilidade de vitórias a partir dessas mobilizações. Por isso, é decisivo o apoio aos povos árabes, na sua luta contra as ditaduras, combinado com a denúncia e o repúdio a qualquer intervenção militar imperialista na região. Estas mobilizações, junto com a resistência heroica do povo palestiniano, podem provocar a derrota do estado sionista de Israel e do projeto imperialista, o que teria consequências profundas para a situação internacional.
Falência das direções
Infelizmente, o grande capital e os seus governos contam, para impor os seus planos, com a colaboração da maioria das direções das organizações sindicais e populares pelo mundo. Organizações burocratizadas, sem democracia e que impedem que os trabalhadores e as bases decidam sobre os rumos das lutas e das resistências. Apesar dos discursos, negoceiam e aceitam pactos e planos de austeridade dentro da lógica do capital.
Assim, negam-se a construir de facto a unidade de trabalhadores, trabalhadoras e setores explorados e oprimidos em todo o mundo. Este papel de não apoiar, coordenar ou unificar as lutas é claro e categórico atualmente na Europa, onde se sucedem greves gerais, mobilizações e manifestações, com as direções tradicionais procurando manter-se na direção dessas lutas para tentar controlá-las.
Novas direções
Neste processo surgem inúmeras tentativas de novas expressões de organização para as lutas. Tentativas de resgate da democracia, em que a base possa lutar e também decidir, para que as mobilizações não sejam conduzidas para pactos e negociações com o intuito de preservar a ordem do capital. Novas expressões de organização que busquem a retomada da unidade nas diversas lutas. Movimento sindical, movimentos populares, lutas por moradia e terra, povos originários em defesa de seus territórios e culturas, desempregados, juventude, lutas contra todas as formas de opressão e preconceito, contra intervenções militares, em defesa do direito de organização e manifestação, em defesa do meio ambiente como recursos da humanidade e não para os interesses do capital. São muitas!
De acordo com a realidade e história de cada país, é diferente a forma como se busca resgatar essas organizações de luta, que sejam contra a conciliação de classes e defendam a democracia operária e independência em relação aos patrões e os seus governos.
As nossas organizações comprometem-se a buscar o seu fortalecimento nas lutas e na resistência dos trabalhadores com um programa classista, antiopressão e exploração, antiimperialista, de defesa dos direitos sociais e trabalhistas, de defesa dos recursos naturais e do meio ambiente. Compromete-se, ainda, a buscar desenvolver experiências de organização nas quais a democracia operária e a participação da base sejam combinadas com a defesa das reivindicações concretas do dia a dia na perspetiva de atender à necessidade de construção de uma outra ordem económica e social que negue de maneira radical toda forma de exploração e opressão.
Assinam esta declaração
CSP Conlutas (Brasil); Union Syndicale Solidaires (França); RMT – National Union of Rail, Maritime and Transport Workers (Inglaterra); Federação dos Sindicatos Independentes (Egito); Batay Ouvriye (Haiti); CCT – Confederacion de La Classe Trabajadora (Paraguai); CGT – Central General de Trabajadores y Trabajadoras (Costa Rica); ANEL – Assembléia Nacional dos Estudantes Livre (Brasil), CONES – Coordinadora Nacional Estudiantes Secundarios (Chile), FEUCR – Federacion de Estudiantes de La Universidad de Costa Rica (Costa Rica); COBAS – Sindicato de Comissiones de Base (Espanha); CUB – Confederazione Unitaria -Base (Itália); FENADAJ, Alianza de Trabajadores de La Salud y Empleados Publicos (Chile); SYNTRASESH – Sindicat Nacional des Travailleurs des Services de la Sante Humaine (Benin); Syndicat Unique dês Travailleurs dês Transports Aerens ET Activites Annexes (Senegal); ISIS – Housing Assembly, ILRIG, GIWUSA (África do Sul); APUHL – Asociacion de Profissionales Universitarios del Hospital Laccade (Argentina); ANDES-SN, Construção Civil (PA/CE), Metalurgicos São José dos Campos (SP), Petroleiros – (RJ/SE), Sintect (PE), Sintusp (SP), Simpere (PE), Municipários Porto Alegre (RS), Sindjustiça (CE), Federação Sindical e Democrática dos Metalúrgicos (MG), Sindess (MG), Sintrajud (MA) (Brasil); University and College Union Liverpool University, Liverpool TUC, Asylum Voice Liverpool, Liverpool Guild of Students, Liverpool University, NUS University College London (Inglaterra); Sindicato Cervecero Kunstmann, Sindicato Frival, Sindicato Kunstmann, de Valdívia (Chile); SINDEU – Sindicato de Empleados y Empleadas de La Universidad de Costa Rica e Sindicato de Salud y La Seguridad (Costa Rica); UNITE – Community Casa Branch NN567 (Inglaterra); Sindicato de La Ninez, Sindicato de Periodistas, Sindicato de Trabajadores Club Centenario, Sitrasenavitat (Paraguai); Sindicato de Trabajadores Celima, Sindicato Nacional de Backus y Johnston, Sindicato Unitário de Trabajadores Mineros, SUTE-13 Sindicato de Trabajadores de La Educacion – Villas Maria Del Triunfo/El Salvador, SUTE-14 Sindicato de Trabajadores de La Educacion – S. J. Miraflores/Lima (Peru); SUTTAAA –; Centro Federado de La Faculdad de Psicologia (Peru); IAAR – Encontro Internacional de Trabalhadores de Montadoras (Alemanha) Defensoria Popular – Derechos Humanos (Chile); Emancipation – Tendance Syndicale Lutte de Classe (França); Espacio Classista – Agrupacion 1886 – SUINAV (Uruguai).