Debate Biden- Trump: a decadência senil do capitalismo

A 5 meses das eleições presidenciais nos EUA, ocorreu o primeiro debate entre Joe Biden e Donald Trump. Trump foi muito igual ao que costuma ser e Biden mostrou a sua pior versão. Este debate foi uma expressão senil da crise de dominação do imperialismo norte-americano no mundo.

Tema da economia: muita parra, pouca uva

Desde a crise de 2008, os EUA vivem uma grave crise económica. Défices orçamentais crescentes, falhanço das políticas de resgate empresarial que atribuíram milhares de milhões aos bancos, dívida pública em máximos e juros no nível mais alto em 16 anos mostram a deterioração das contas públicas do país. É o povo trabalhador que continua a pagar, com uma maior desigualdade económica e social, com baixos salários e a precarização laboral dos 800.000 empregos adjudicados por Biden. A crise da habitação não pára de crescer e cada vez mais pessoas vivem nas ruas ou em casas muito precárias. Só no estado da Califórnia 172.000 pessoas vivem nas ruas. A crise social continua a agravar-se, sendo que 28 milhões de trabalhadores não têm acesso a seguro médico.

Pois bem, temos um Biden fraco e titubeante, muito confuso com os números e a tropeçar nas palavras, a afirmar que estão a trabalhar em assuntos da habitação e que o país não tem tropas a morrer pelo mundo. Já o racista e misógino Trump afirma que estão a morrer mais pessoas pois Biden só deixa “entrar pessoas saídas de prisões e hospitais psiquiátricos”, afirmação muito repetida ao longo do debate. Nenhuma solução apresentada para os problemas dos trabalhadores, nenhuma solução apresentada para a enorme dívida do país (das maiores senão a maior de todo o planeta), nenhuma assunção de responsabilidades pela grave crise social gerada pelo imperialismo, com consequências piores para a juventude, para as mulheres, para a comunidade negra, hispânica e migrante.

Aborto e Imigração: o ridículo e o sem sentido

Outro dos temas importantes discutidos foi a questão do aborto. Questão muito polémica, muito mais desde que o Supremo Tribunal de Justiça dos EUA anulou a decisão de Roe contra Wade, que legalizou o aborto naquele país. Cabe agora a decisão aos estados que querem também considerar a pílula abortiva como ilegal. Que retrocesso nos direito humanos foi esta decisão do STJ. Que retrocesso que fez aumentar a perseguição às mulheres pelo preconceito, pelos grupos anti-aborto nos EUA. Mulheres estas que são forçadas a viajar para outros estados onde o aborto é legal.

Desta discussão temos pérolas trumpistas como: “é uma questão complexa mas não muito complexa. Porque se há-de optar pelo aborto até aos 8 meses e mesmo depois da criança nascer?” (???) Uma verdadeira anormalidade. Misturando a imigração com este assunto, Trump afirma que só os imigrantes é que matam e violam mulheres enquanto Biden afirma que Trump é que separou bebés de mães, ao que Trump responde que os imigrantes vivem em hotéis de luxo. Tudo sem sentido. Políticas propostas, medidas propostas, preocupações demonstradas? Nenhumas. A juntar ao facto que, na era de Donald Trump como presidente, verificaram-se reduções de verbas estatais para a educação sexual, acesso a contraceção e apoio do Estado a fundos de investigação nacionais ou internacionais, no caso de programas que apresentassem apoio à formação e realização de abortos. Está aberta uma via de consequências imparáveis, sobretudo para os direitos e saúde das mulheres.

A guerra na Ucrânia e a guerra na Palestina

Não, não houve nenhum reconhecimento sobre o genocídio que o Estado de Israel está a fazer em Gaza. Biden escondeu a sua cumplicidade com este genocídio executado por Netanyahu (com a cobertura e apoio dos EUA sob a sua presidência) enquanto Trump insiste em tentar restaurar a hegemonia imperialista dos EUA. Infelizmente, já se acumulam as mortes de pelo menos 40.000 palestinianos efectuadas pelo Estado de Israel e pelas armas americanas. A eterna cumplicidade podre e assassina com o seu “cão geoestratégico” naquela zona do globo, Israel. Sobre este tema temos mais declarações insanas de ambos os candidatos. Trump: “comigo Israel não teria sido invadida pelo Hamas” e Biden: só o Hamas é que quer continuar a guerra, nós salvámos Israel na altura do ataque”. Nenhuma palavra sobre o facto que os ataques de Israel estão a levar que mais de metade da população da Faixa de Gaza poderá enfrentar a morte e a fome até meados de julho, assim como sobre a destruição generalizada e a deslocação de quase toda a população da Faixa de Gaza. Nenhuma palavra sobre a ocupação da Palestina há várias décadas e que são o contexto de onde emergiram antes a OLP e depois o Hamas. Estas organizações não nascem do nada. Independentemente das diferenças políticas que temos com as direcções de ambas, é um facto que estão sob ocupação  e em guerra de extermínio há várias décadas.

Sobre a guerra na Ucrânia, os mesmos traiçoeiros pensamentos. Novamente a pérola trumpista de: “comigo, Putin nunca teria invadido a Ucrânia”. Biden afirma que quer a independência da Ucrânia. A hipocrisia de quem esconde que, no começo da guerra, ambos procuraram a rendição da Ucrânia, junto da UE e da Igreja Católica. Sobre o papel pernicioso da NATO neste conflito, temos as afirmações de Trump: “temos que fazer os países europeus pagarem mais, se eles não pagarem não apoiamos a NATO” enquanto Biden responde: “ele quer acabar com a NATO”. Milhares de trabalhadoras e trabalhadores têm mais uma vez a prova que não é útil votar no candidato de extrema-direita, Trump ou no “democrata” Biden. Ambos são marionetas do decadente capitalismo imperialista que procura resolver a crise do capitalismo, com mais fome, guerra e destruição da natureza. Nenhum reconhece o genocídio do povo palestiniano. Nenhum apoia o povo ucraniano. Nenhum apoia os direitos das mulheres. Nenhum falou do racismo no país. Nenhum falou sobre os direitos dos trabalhadores. Não há outra alternativa a não ser construir, neste país, uma alternativa de esquerda por fora do Partido Democrata. E no mundo também novas alternativas à esquerda e anticapitalistas. Senão temos no horizonte, lamentavelmente, várias ‘Franças’ (ou ‘Itálias’) no horizonte com Le Pen e extremas-direitas que farão regressar os países europeus a estados (ainda mais) autoritários, ditatoriais e certamente à destruição das parcas democracias que ainda subsistem. Chamamos as trabalhadoras e os trabalhadores, os jovens e os sindicatos a continuarem nesta luta contra a extrema- direita e novas guerras e a unirem-se nesta mesma luta.

Pelo fim do genocídio em Gaza! Por uma Palestina livre!

Por um aborto legal e seguro! Que acabe a perseguição às mulheres!

Pela independência da Ucrânia!

Não à guerra ou a novas guerras mundiais.

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