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London’s burning

Em 1979, a banda musical The Clash lançava uma faixa com esse nome e poucos anos depois (em 1981 e 1985) vários bairros londrinos como Brixton ou Tottenham ardiam em motins anti-polícia. No auge do governo conservador de Margaret Thatcher, a população, maioritariamente pobre e maioritariamente descendente de imigração afro-caribenha, levantava-se violentamente contra o abuso diário da polícia que culminava com o assassínio pontual de residentes. Mais de 20 anos passados, com o mesmo autoritarismo e rascismo institucional da polícia, uma crise capitalista pelo meio, ataques sem precedentes aos trabalhadores e à juventude e com os conservadores de novo no governo, eis que a história se repete.

Na quinta-feira dia 4 de Agosto, foi abatido a tiro por um agente da polícia Mark Duggan, um residente do bairro de Tottenham de 29 anos e pai de quatro filhos. O relatório preliminar da comissão de inquérito viria mais tarde a concluir que Mark não terá ferido o agente. Mais tarde 200 familiares e amigos de Mark reunem-se junto à esquadra local da polícia para um protesto pacífico, tendo obtido a promessa de que um oficial da corporação receberia os familiares para falar sobre o sucedido. Várias horas passadas e sem resposta, tem início o apedrejamento da esquadra por parte de alguns jovens. O rastilho estava aceso para a bomba que rebentaria ao longo dos dias seguintes em vários bairros de Londres, Birmingham, Manchester, Liverpool e outras cidades, com inúmeros confrontos com a polícia, carros e casas incendiados e lojas saqueadas. A revolta, espontânea, desorganizada e inconsistente atingiu muitas vezes bens de residentes locais provocando uma mais que compreensivel antipatia na população, mas é um facto que o fogo tem chegado preferencialmente às esquadras da polícia, a lojas e armazéns de grandes multinacionais e a automóveis de luxo.

O outro fogo, este lento, que arde há anos e não aparece nas televisões é o abuso constante que a população dos bairros pobres britânicos sofre às mãos da polícia, sobretudo se quando se trata de jovens negros ou asiáticos. O outro saque, este incomparavelmente maior e que se quer fazer passar despercebido, é o resultante dos últimos anos de políticas de direita no Reino Unido, em que os estudantes chegam a pagar 11000 euros por ano de propina nas universidades públicas, em que se acabou com o EMA – subsídio que permitia a jovens pobres entre os 16 e os 19 anos continuarem a estudar enquanto ao mesmo tempo se encerram os centros em que os mesmos jovens podem passar os tempos livres e ser aconselhados sobre oportunidades de estudo ou trabalho. O maior saque, este envolvendo quantias incalculáveis de dinheiro, é o que é feito a poucos quilómetros destes bairros nas zonas financeiras da capital, onde diaramente se amealham lucros exorbitantes à custa do trabalho alheio e se especula nos mercados mundiais saqueando economias inteiras ao fazer os estados pagar a sua factura extorquindo quem trabalha com políticas de austeridade. Os maiores ladrões não precisam de andar ecapuzados pois fazem o seu saque a coberto da lei e com bastante sucesso, como mostra o facto de as mil maiores fortunas britânicas somadas terem, no ano passado em plena crise, aumentado o seu total em mais 70 mil milhões de euros. Enquanto isso, 20% dos jovens britânicos encontram-se desempregados, não sendo talvez por acaso que Tottenham – onde tudo começou – seja o bairro londrino em que o desemprego é maior.

A violência dos motins pouco tem de construtiva e provavelmente pouco ou nada conseguirá, mas é uma resposta previsivel numa sociedade capitalista absolutamente esgotada que nos esmaga com a sua violência exploradora. É preciso deitar-lhe fogo sim, mas organizando-nos nos bairros, nas escolas, nos locais de trabalho para construirmos e levarmos a cabo um programa que nos permita de vez destrui-la para a substituir por uma outra com uma democracia verdadeira e sem exploração.

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