Os Papéis da Palestina ou a verdade sobre o chamado “processo de paz”

Os mais de 1.600 documentos revelados pela cadeia de televisão Al Jazeera sobre o Médio Oriente demonstram claramente o que todos já sabíamos: que Israel nunca esteve interessado num acordo de paz, quaisquer que fossem as concessões dos palestinianos.

 

Mas a grande revelação dos documentos é a realidade do colaboracionismo da Autoridade Palestiniana (AP) com o sionismo israelita. Vai longe o tempo em que Arafat defendeu perante a ONU um Estado laico, democrático e binacional em todo o território da Palestina. Os seus sucessores, hoje, estão prontos a render-se à potência colonizadora em troca de um bantustão onde possam continuar a enriquecer-se à custa do sofrimento do seu povo.

Alguns documentos revelam que em Junho de 2008 os negociadores da AP ofereceram de bandeja a Israel todos os colonatos construídos em Jerusalém excepto um.

Outros provam que em Março de 2007 a AP propôs o retorno de 10.000 dos quase cinco milhões de refugiados palestinianos. A então ministra dos Negócios Estrangeiros, Tzipi Livni, respondeu que os refugiados podiam “retornar” ao futuro Estado palestiniano. E Mahmud Abas concordou: “é verdade que não podemos pedir-vos que acolham os refugiados no vosso Estado judeu”.

Para além disso, os Papéis da Palestina mostram que a AP foi informada previamente pelo governo israelita do ataque iminente contra Gaza em Dezembro de 2008, tendo mesmo sido consultados sobre o seu interesse em retomar o poder naquele território – ao que Mahmud Abas terá respondido negativamente.

Sabendo que o contrabando através dos túneis escavados pela população é o único meio de fazer entrar em Gaza bens de primeira necessidade, a AP terá pedido a Israel que impedisse esse contrabando e que mantivesse fechadas as fronteiras de Gaza. Tudo em nome da sua luta contra o Hamas.

Um caso pontual ilustrou de forma particularmente chocante o colaboracionismo da AP: numa reunião ocorrida em 2005, o então chefe supremo do exército israelita, Shaul Mofaz, intimou o então ministro palestiniano do Interior, Nasseer Yussuf, a organizar o assassínio de um operacional palestiniano residente na Faixa de Gaza, Hassan al-Madhun. O militante em causa não era sequer membro do Hamas, e sim do braço armado da própria Fatah, as Brigadas dos Mártires de al-Acqsa. Foram os israelitas que acabaram depois por assassinar al-Madhun, mas nas actas ficou a disponibilidade de Yussuf para estudar a ideia.

Para além deste “assassínio selectivo”, há um documento em que o negociador-chefe da AP, Saeb Erekat, a propósito de um confronto entre polícias da AP e militantes do Hamas, admite que a AP anda a matar “o seu próprio povo”, para provar que consegue impor a ordem.

No fórum anual de ONG’s israelo-palestinianas, que se realizou em Jericó nos dias 25 e 26 de Janeiro, a consternação era total. O co-presidente palestiniano do Fórum, Saman Khoury, lamentava nomeadamente a dificuldade de convencer os gazahuís a oporem-se ao Hamas, porque se enraizou a convicção de que “de todos os modos, Israel só nos concederá um Estado desprovido de qualquer conteúdo, uma concha vazia”.

As ONG’s participantes no fórum sempre têm apostado na criação dum Estado palestiniano como forma de cancelar as reivindicações históricas da causa palestiniana. Os Papéis da Palestina vieram confirmar o desmoronamento dessa estratégia. Neles se prova que nunca nenhum “parceiro para a paz” será suficientemente servil para satisfazer a avidez do sionismo.

Elsa Sertório

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